Num caso raro de varejista do passado falida, mas cujo conglomerado ainda existe e é atuante, temos o caso da Ultralar, as lojas de eletrodomésticos do grupo Ultra, comandado no passado por Ernesto Igel (1893-1966), imigrante austríaco naturalizado brasileiro e um dos grandes empreendedores do século passado.
Após a fundação da famosa empresa de botijões, a Ultragaz, Igel resolveu popularizar o uso do fogão a gás, e em 1956 criou a Ultralar com esta missão. As primeiras lojas foram abertas no Rio de Janeiro, com o intuito de fazer os consumidores verem as vantagens de se usar o "bujão" no lugar da lenha. O marketing em torno do fogão a gás deu certo, e logo os negócios se expandiram. Como não podia depender de apenas um produto, a Ultralar vendia também muitos outros utensílios domésticos, como panelas, armários e outros móveis para cozinha. Ernesto Igel, porém, logo passou o controle da corporação para o filho, Pery (1921-1998), em 1959, e anos depois faleceu.
Em 1965, graças à amizade com Roberto Marinho, Ernesto Igel conseguiu veicular um programa chamado "Ultra Notícias" na então recém-inaugurada TV Globo. Logo a Ultralar se expandiu para São Paulo e outras grandes cidades. O Grupo Ultra estava em franca ascensão, com o surgimento da Ultrafertil (fertilizantes), logo vendida para a Petrobras em 1974, e da Transultra, atual Ultracargo (armazenagem de líquidos). A expansão foi ainda maior durante o "milagre econômico", com a expansão econômica e a explosão nas vendas de produtos, beneficiando o comércio em geral.
Anúncio da Ultralar no início da década de 1970 |
Ajudando na expansão, os comerciais vinculados principalmente na Rede Globo traziam Jô Soares como o Capitão Lar, paródia roliça do Superman e do Shazam, nos anos 1970 (um dos comerciais pode ser visto abaixo, no canal de Doni Amaro). Depois, os anúncios na televisão foram mais impessoais, embora ainda frequentes.
A Ultralar fazia frente a todas as outras grandes lojas, desde o Jumbo Eletro (do grupo Pão de Açúcar) até o Mappin e a Mesbla, passando pelo Ponto Frio e as Casas Bahia. No entanto, os mesmos problemas enfrentados por todos esses gigantes afetaram a Ultralar. Esses problemas foram abordados durante a série e nos artigos precedentes que tratam sobre o problema do varejo.
Nos anos 1990, a Ultralar passou para o grupo Susa Vendex, quando já contava com 44 lojas, espalhadas entre Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Este grupo já tinha a Sandiz e a Sears, e sob sua gestão todas as varejistas entraram em crise e desapareceram, graças à má gestão, à concorrência intensa no setor e à crise asiática de 1997.
Em 2000, as últimas lojas Ultralar foram fechadas e incorporadas às Casas Bahia, após uma tentativa de vendê-las para a Ponto Frio. Neste século, pouca gente se lembrava da marca, e da sua antiga vinculação à famosa Ultragaz, que continua a disputar a liderança no mercado de botijões.
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