quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dilma sai e o Brasil fica

77 dos 81 senadores votaram pela suspensão temporária do mandato da presidente Dilma, numa sessão enfadonha, com muitos discursos que ultrapassaram o limite de 15 minutos, que já é além do tolerável. Embora muitos fossem um teste de paciência e poderosos soníferos, outros foram dignos de nota. 

Um dos que mereceu atenção foi Fernando Collor, ex-presidente também cassado por um impeachment, por corrupção e irresponsabilidade administrativa. Ele teria alertado a presidente para os riscos de ser processada e não ter o necessário apoio parlamentar. Ele votou a favor do processo, embora não tivesse revelado explicitamente durante as suas falas. Entre os governistas, ironicamente, estava um dos líderes responsáveis pela derrubada de Collor, o petista Lindberg Farias. Coerente com a orientação do partido, ele não repetiu a postura adotada em 1992 e atacou a oposição, citando Tancredo Neves e insinuando que o PSDB flerta com extremistas como Bolsonaro. 

Por falar em PSDB e Tancredo, outro a destacar foi Aécio Neves, que também citou o avô, mas para atacar a falta de ética do governo. Manteve a postura conhecida nas eleições de 2014, quando foi o candidato derrotado à presidência da República, mesmo com o prestígio seriamente abalado pelas denúncias da Operação Lava Jato. Neste barco dos investigados está ele e, curiosamente, Collor e Lindberg. E também boa parte dos seus colegas, alguns acusados também de outros crimes, embora nenhum deles sejam, oficialmente, réus. Nem mesmo Delcídio do Amaral, recentemente cassado por falta de decoro, e sobre o qual pesam acusações seriíssimas de roubalheira, apesar de ter como atenuante o fato de denunciar vários outros envolvidos.

Devido a isso e muito mais, a sociedade precisa ficar vigilante, para impedir os corruptos de terem vida fácil como durante os governos Lula e Dilma.

Esta última, derrotada no Senado por 55 a 22, placar suficiente até para cassá-la definitivamente mesmo sem Renan ter votado e ainda por cima com três ausências, protestou de novo durante seu discurso final antes de perder seus poderes e entregá-los a Temer, teoricamente por até 180 dias até novo julgamento do Senado. Ela voltou a falar em golpe e traição, entre correligionários com ar de funeral. Dilma pode voltar ao exercício efetivo da Presidência, embora na prática isso seja improvável.

 Dilma repete o discurso de "golpe" em clima de desolação entre os que a cercaram (Divulgação)

Mais tarde, foi a vez de Temer discursar, citando a presidente afastada e prometendo manter o Bolsa Família e as conquistas sociais, além de, em palavras, assegurar a continuidade das investigações sobre o maior escândalo econômico, político e institucional da Nova (?) República. Ele disse que irá enfrentar os problemas econômicos gravíssimos do país, como a inflação, a queda do PIB e o desemprego. E anunciou o nome de seus ministros, provocando celeuma devido à falta de mulheres e por todos eles serem políticos, ainda que boa parte deles serem de formação técnica, alguns deles também investigados por escândalos de corrupção. Isso vai ser melhor abordado no próximo post.

Temer assume interinamente a presidência, com ares de que vai continuar até 2018 (Agência Brasil)

Ele terá a dura incumbência de fazer o Brasil sair da calamitosa situação provocada pelos desmandos do governo petista, e tentar convencer a população a confiar nele e no novo governo que, na prática, está começando, mas com o fedor dos velhos e novos vícios da nossa política e de um sistema eleitoral decadente, que permite os populismos e a falta de representatividade. O Brasil continua sem Dilma, e irá continuar sem Temer ou qualquer outro político atual.

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