terça-feira, 24 de abril de 2018

Da série 'Noventolatria', parte 13 - Carros nacionais da década de 1990 (parte 1)

Novamente, um breve apanhado de carros, desta vez aqueles consagrados na década de 1990. Na década anterior, só destaquei dez modelos, mas na chamada "década do Real" houve uma grande diversificação, graças à abertura aos carros importados e ao maior nível de exigência dos consumidores. Por isso, precisei colocar nada menos que dezoito modelos. Como este artigo ficaria muito comprido, dividi em duas partes.


1. FIAT TEMPRA (fabricado entre 1991 e 1998)

O Tempra na versão 96, com mudanças na grade em relação à primeira versão, lançada em 1991

O que dizem os fãs:  
- Primeiro Fiat a ser considerado um carrão; 
- Motores potentes, como o 16V de 127 cv (na verdade, deve ser mais, para pagar menos imposto) e o Turbo de 165 cv; 
- Carro com perfil esportivo, bem equipado e espaçoso.

O que eles não dizem: 
- Um dos carros preferidos dos "manos", especializados em estragar carros, rebaixando a suspensão e colocando um sistema de som estridente no porta-malas; 
- Motor gasta gasolina (ou álcool) demais, mesmo nas fracas versões básicas com motor 2.0 8V;  
- Os motores 16V do Tempra eram conhecidos pela falta de fôlego em baixas rotações; 
- Fama de ser algo frágil, principalmente quanto não se faz a manutenção periódica; aliás, as peças são caras. 

Considerações: 
O Tempra foi o primeiro carro da Fiat a ser considerado "grande", embora esteja bem longe disso. Tem ótimo espaço interno para o seu tamanho, bom desempenho nos motores 16V e turbo e performance lamentável nas versões mais fracas. Realmente gasta muito combustível e requer manutenção cuidadosa, mas seu estilo arrojado e carisma deixou saudade em muita gente. Ficou apenas sete anos em produção. A sua versão hatch é o Fiat Tipo, muito prezado pelo espaço interno, mas cuja fama foi arruinada pela fama de pegar fogo facilmente, principalmente em modelos que não passam por manutenção cuidadosa. 



2. FIAT UNO MILLE (versão do Fiat Uno entre 1990 e 2013)

O primeiro Uno Mille, lançado em 1990
 
O que dizem os fãs: 
- Primeiro carro popular, mas nem por isso considerado tão pelado, pois já vinha com tampa do porta-malas e ventilador (por incrível que pareça, um carro podia ser mais "depenado" do que isso naquela época); 
- Seu motor 1.0 ("mil") até que era esperto no trânsito; 
- Carro mais barato com maior espaço interno da categoria. 

O que eles não dizem: 
- O câmbio do Uno Mille era deplorável, de tão duro e frágil; 
- Era, sim, um carro "depenado", pois não vinha nem com câmbio de cinco marchas de série, e o ar-condicionado só viria em 1993 (neste caso, o fraco motor "mil" sofria ainda mais); 
- Com o tempo, tornou-se um dinossauro sobre rodas, enquanto havia concorrentes muito mais modernos, mas já a partir de 1994 parecia velho diante do Chevrolet Corsa. 

Considerações: 
Foi mesmo um pioneiro entre os carros populares, custando menos de US$ 7.000. Atualmente, não existe carro novo com esse preço, mas por outro lado ninguém iria querer um carro tão simplório, sem rádio nem como opcional (os outros Uno, pasmem, também não podiam vir com som). O espaço interno, marca registrada dos Fiat naquela época, era bem razoável, cabendo quatro pessoas adultas com folga, mas dava dor de cabeça nas mudanças de marchas - e só com o tempo isso melhorou, mas não chegou à excelência dos câmbios dos Volkswagen. Foi o primeiro carro popular a ganhar quatro portas, em 1993, sepultando o preconceito contra veículos pequenos nessa configuração. O fraco motor "mil" foi ganhando cavalos com o tempo, graças à injeção eletrônica multiponto e novas tecnologias, culminando com o motor Fire de 66 cv. Isso explica, em parte, o sucesso desse carrinho, que só saiu de linha em dezembro de 2013. 



3. FIAT PALIO (fabricado entre 1996 e 2017)

O pequeno Palio foi lançado com algumas cores berrantes, como este verde-limão


O que dizem os fãs: 
- Bem mais moderno que o Uno, do qual derivava; 
- Com motor 1.6, era um "foguetinho", principalmente na estrada; 
- Vinha com ABS, air-bags e outros equipamentos de segurança que os concorrentes não tinham; 
- Herdava a robustez do Fiat Uno.

O que eles não dizem: 
- Os motores 1.0 e 1.5 eram fracos e a versão 1.6 era chocha em baixas rotações, e ainda cobravam seu preço em combustível; 
- Era mais apertado do que o Fiat Uno, e seu porta-malas era muito pequeno; 
- Suspensão meio mole o deixava inseguro, ofuscando o fato de investir em segurança passiva; 
- Não era assim tão robusto, e sua manutenção podia ser bastante cara; 
- Difusores de ar eram baixos, e era um martírio usar o ar-condicionado porque gelava os pés e mantinha o ar quente na altura da cabeça.

Considerações:  
Foi projetado para suceder o Uno, mas revelou não ter a mesma competitividade deste. Realmente tinha alguns problemas sérios, como a capacidade do porta-malas, até aceitável para um veículo com apenas 3,73 m de comprimento. Vinha com equipamentos opcionais negados ao Fiat Uno naquela época, como air-bag e rádio com CD Player. Para suprir a falta de um bom espaço para as bagagens foram lançados o Palio Weekend e o Siena, que conquistaram o público e ficaram também por um bom tempo no mercado - só foram tirados de linha em 2017. Para resolver defeitos como o pouco espaço traseiro e os difusores de ar, foi produzido um novo Palio, mas somente em 2010.



4. FIAT MAREA (fabricado entre 1998 e 2008)

O Marea durou mais tempo no mercado do que o Tempra, mas nunca teve o mesmo prestígio dele

O que dizem os fãs: 
- O Tempra teve um legítimo sucessor, com o Marea, herdando a classe e a competitividade; 
- Seus motores esbanjavam tecnologia e o carro vinha recheado de equipamentos de série; 
- O espaço interno era bom, principalmente em sua versão station-wagon, a Marea Weekend.

O que eles não dizem: 
- Manutenção caríssima e motores só eram fáceis de lidar por pessoas com alta capacitação; 
- Perdia em espaço interno, principalmente no porta-malas, que era pequeno na versão sedã; 
- O motor 20V era preguiçoso em baixas rotações, e nas versões mais básicas foi substituído pelo "anêmico" 1.6 16V; 
- Verdadeira bomba, difícil de revender e de manter.

Considerações:  
Realmente o Fiat Marea tinha um nível de tecnologia bastante avançado para a sua categoria, mas também exigia donos zelosos e cuidadosos. Sem ser tão espaçoso quanto o antecessor Tempra, tinha bem mais equipamentos de série, mesmo nas versões básicas. A falta de carisma deste Fiat de porte médio prejudicou o Marea, que não podia ser comparado ao antecessor neste ítem (mal comparando, parecia a Dilma em relação ao Lula). Tinha também um derivado que agradava bastante, o notchback (carro com um porta-malas pouco saliente) Brava, mas que sofreu com motores menos potentes para ficar mais barato. 


5. CHEVROLET ÔMEGA (fabricado entre 1992 e 1998)

Com sorte é possível encontrar um Ômega em bom estado, como este em Belo Horizonte


O que dizem os fãs: 
- Melhor carro já fabricado, um digno sucessor do Diplomata (tirado de linha em 1992); 
- Espaço interno excelente, grande conforto, muitos equipamentos e acabamento caprichado; 
- O motor 3.0 alemão era um dos melhores do Brasil; 
- Modelo com muito status pelo seu grande porte; 
- Vinha com tração traseira, para garantir estabilidade (e os BMW vinham com tração traseira...). 

O que eles não dizem: 
- O Ômega não podia ser comparável ao Diplomata; era um pouco menor (4,73 m contra 4,84 m) e muito mais caro, além de ter uma manutenção custosa, principalmente depois de alguns anos de uso; 
- Carro muito visado pelos "manos" para ter a suspensão rebaixada; 
- Os motores 2.0 e 2.2 herdados do Monza eram fracos demais para ele; 
- No final da produção acabou virando carro para taxistas;
- A tração traseira não significava que ele gostasse de estradas ruins, e havia a crença bastante difundida que os carros com tração traseira eram superiores nesse quesito. 

Considerações:  
Foi realmente uma pena o Ômega não ter ficado em produção por mais tempo, pois tinha vários atributos positivos, como acabamento, status, equipamentos dignos de um carrão de luxo, com direito até a porta-luvas climatizado, suspensão bem calibrada, grande porte e espaço interno idem. Um carro com tanta qualidade cobrava seu preço, e ele podia custar quase US$ 50.000, um dinheirão principalmente para a época. Somente o motor 3.0 de seis cilindros se destacava no desempenho, mas ao contrário do que diziam, ele não era tão fraco com motor 2.0 - apenas não tinha a esportividade de um Santana com a mesma cilindrada. Foi produzido aqui em um tempo muito curto, e em 1998 passou a ser importado da Austrália, sem ter o mesmo impacto no mercado.



6. CHEVROLET VECTRA (fabricado entre 1993 e 2011)

Quando foi lançado, o Vectra já impressionava pela versão GSi; três anos depois, em 1996, voltou ainda melhor

 O que dizem os fãs: 
- Carro de alta tecnologia, com motor insuperável de 16V, potente (150 cv) e que não gastava muito; 
- Acabamento luxuoso e bons equipamentos, não devia nada ao Ômega neste sentido, podendo ter até o porta-luvas climatizado nas versões mais caras; 
- Sua aerodinâmica era a melhor dos carros nacionais, com coeficiente de 0,28 (o do Santana era de 0,37, e o do Gol antigo era 0,41); 
- Era um dos carros mais bonitos da época; 
- Pioneiro ao vir com air-bag como opcional.

O que eles não dizem: 
- As versões mais baratas do modelo eram depenadas, sem ao menos um simples conta-giros; 
- Era bem mais caro que o antecessor Monza; 
- Passava longe do status do Ômega, por ser um carro médio e não grande, e também era menos espaçoso, principalmente na primeira versão (até 1996); 
- Em vendas, sempre apanhava do Santana, que não era nem de longe tão moderno; 
- O Fiat Tipo foi lançado com air-bag um mês antes do Vectra passar a ser equipado com este acessório de segurança.  

Considerações:  
O Vectra foi produzido para suceder o Monza, mas ambos foram produzidos entre 1993 e 1996. Era notória a diferença de estilo e modernidade entre os dois modelos, e o Vectra logo se tornou um sucesso, assim como o antigo médio da General Motors. Realmente tinha uma concepção arrojada, e agradava pelas linhas e pelo conforto, mas havia uma gritante diferença de equipamentos entre as versões, tanto que a mais simples (GL, sucessora das versões mais em conta do Monza) era uma tristeza em requinte e equipamentos. Logicamente não podia concorrer com o Ômega em classe e espaço interno, mas nunca fez feio nesses quesitos.



7. CHEVROLET CORSA (fabricado entre 1994 e 2012)

O pequeno Corsa fez um bom sucesso quando foi lançado, chegando a ter uma extensa fila de espera

O que dizem os fãs: 
- Popular mais moderno de sua época: custando menos de US$ 7.000, humilhava o Uno Mille com acabamento, estilo e conforto superiores
- Motores econômicos, como convém a um carro pequeno; 
- Os Corsa não-populares tinham requinte, com estofamento primoroso, painel completo, bons equipamentos de conforto; 
- O estilo "em forma de ovo" era um chamariz.

O que eles não dizem: 
- O Corsa nunca chegou a ser uma ameaça ao líder Gol, pois tinha uma aparência frágil, ainda mais diante das estradas e ruins em má situação; 
- Os motores em geral eram muito fracos, sem potência; 
- Os equipamentos não chamavam tanta a atenção, e o espaço interno era menor do que o do Uno; 
- Tinha uma versão station-wagon muito pequena, com porta-malas reduzido, e o sedã também não era um primor de espaço.  

Considerações:  
Quando o Corsa foi lançado agradou em cheio os consumidores, pois realmente tinha bom acabamento e não tinha a sensação de "carro depenado" dos outros "populares". O que atrapalhava, e muito, era o motor de apenas 50 cv, lembrando que o Uno Mille, ao ser lançado, vinha com motor ainda pior, de 48 cv. Seu problema de espaço foi minimizado na carroceria de quatro portas, mais espaçosa para a cabeça dos ocupantes do banco traseiro, mas só foi devidamente resolvido com uma reestilização, vinda em 2002. Havia a opção de equipar os Corsa com motores mais potentes, mas só nas versões mais caras, que não deixavam a desejar na estrada. A aparência frágil também não ajudava muito diante do seu maior concorrente, o Gol, mas o Corsa não deixou de ser um sucesso, tanto que foi tirado em linha só recentemente.



8. CHEVROLET MONZA (fabricado entre 1982 e 1996)

O Monza, na década de 1990, enfrentou uma concorrência fortíssima no segmento de carros médios

O que dizem os fãs: 
- Um clássico que fazia sucesso na década de 1990, assim como na década anterior; 
- Primeiro carro não-esportivo a ter injeção eletrônica, e foi prestigiado por Emerson Fittipaldi; 
- Primeiro carro a vir com injeção eletrônica monoponto (um só bico injetor para os quatro cilindros); 
- A reestilização de 1991 o deixou ainda mais arrojado; 
- Confortável e bem acabado como todo Chevrolet que se prezava.

O que eles não dizem: 
- A injeção monoponto parece ter resolvido o problema dos motores Monza, que tinham problemas seríssimos de durabilidade, de acordo com dois testes de longa duração feitos pela revista Quatro Rodas (1987 e 1990); mesmo assim, era uma gambiarra e não substituía uma injeção multiponto (um bico para cada cilindro);
- Suspensão e direção moles, não estimulava uma condução mais esportiva; 
- A reestilização de 1991 deixou o carro desarmônico; 
- Com o lançamento de carros mais modernos, como o Tempra e o Vectra, logo ficou defasado, e tinha espaço interno menor, atentando contra a sua fama de carro dito "de luxo".

Considerações:  
O Monza ainda era um carro com vendas vigorosas durante a década de 1990, mas a presença de novos concorrentes o tornou realmente defasado. Sem o mesmo apelo que tinha na década de 1980, saiu de linha com 14 anos, mas sempre muito querido pelos fãs. A sua reestilização, muito comentada, gerou polêmica, pois ele ficou com a frente muito ampla e acabou denunciando ainda mais sua antiguidade, pois a cabine dos passageiros não melhorou nada. Foi um carro que acompanhou o gosto popular: em 1990 a sua versão de duas portas era a mais vendida, e quando saiu de linha só era vendido com quatro portas.



9. CHEVROLET KADETT (fabricado entre 1989 e 1998)

O Kadett foi o último carro lançado na década de 1980, e teve seu auge entre 1990 e 1993

O que dizem os fãs: 
- Primeiro carro realmente novo em anos, desde o Uno e o Santana, cinco anos antes; 
- Carro com bom acabamento, digno dos Chevrolet, e ótima aerodinâmica; 
- Seu porta-malas era bom considerando seu tamanho compacto; 
- O Kadett GSi era uma fera, com injeção eletrônica e motor 2.0, derrotando o Gol GTi, e era um clássico entre os esportivos.

O que eles não dizem: 
- O Kadett foi uma evolução do velho Chevette, e não era muito mais espaçoso para os passageiros - o Chevette era sempre tido como apertado;
- Tinha uma saída de ar enorme atrás dos vidros traseiros laterais, comprometendo muito a visibilidade; 
- O Kadett GSi podia impressionar, mas suas versões comuns, com motor 1.8, ficavam devendo e muito no desempenho, e ainda bebiam demais para um carro de seu porte; 
- Seu preço era bastante alto, mesmo nas versões básicas, e nunca veio com quatro portas. 

Considerações:  
O Kadett tinha o prestígio e a fama de um carro médio, mas no exterior era sempre considerado um carro compacto, mesmo na Europa, onde se fabricavam, e ainda fabricam, muitos microcarros. Pouco mais comprido do que o antigo Chevette hatch (3,99 m contra 3,97 m), o Kadett realmente chamava a atenção quando foi lançado. Sua versão esportiva conquistava quase tantos adeptos quanto o grande rival Gol GTi, mas quando este foi reestilizado e passou a ganhar motor 16V, o Chevrolet tomou o caminho inverso: foi lançado uma versão sem esportividade, a Sport, para tomar o lugar da GSi, por questão de custos. Ganhou uma reestilização em 1995, que não o ajudou frente à concorrência, como o novo Escort e o Fiat Tipo. Teve uma versão perua, a Ipanema, com estilo polêmico, mas ao ganhar mais duas portas a sensação estranha de "traseira quadrada" se desfez um pouco. O hatchback nunca foi lançado com as portas traseiras por aqui, embora existisse no exterior. 



Os nove primeiros carros da década de 1990 foram expostos aqui, e são carros de apenas duas marcas: Fiat e General Motors (Chevrolet). Foi realmente uma grande época para essas montadoras. Enquanto isso, as outras duas grandes da época, a Volkswagen e a Ford, sofriam com uma holding chamada Autolatina, que impunha carros híbridos vindos das duas marcas, com consequências ruins para ambas. A Volks ficou para trás em inovação e a Ford, que já tinha uma participação mais reduzida no mercado desde antes da criação da holding em 1986, ficou em má situação, precipitando a dissolução dessa estranha fusão.

Assim, este blog abordará, na continuação, os Ford Ka, Fiesta e Escort (com menção honrosa para os Volkswagen Pointer e Logus, que eram versões do Escort) e os Volkswagen Gol, Golf e Santana (não esquecendo o Versailles, que era um Santana vendido pela Ford). Para completar a lista dos 18 carros desta década maluca, temos o Audi A3, o Toyota Corolla e seu eterno rival, o Honda Civic.

Posteriormente, poderei escrever sobre os modelos importados daquela década, tão promissora para os apreciadores de automóveis.

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