Para quem tem mais de 40 anos, é fácil lembrar da faixa de preço dos automóveis ditos "populares" no início do Plano Real. Era possível comprar um carro novo por menos de R$ 8.000,00, como o Chevrolet Corsa ou o Uno Mille. Em breve, este blog vai falar dos carros nacionais da época, que eram muitos e variados, como parte da série "Noventolatria".
Agora, é quase impossível comprar algum carro novo por menos de R$ 40.000,00. Existem modelos como o Renault Kwid, cuja versão básica fica por aproximadamente R$ 30.000,00, mas seu desempenho neste ano é modesto: é apenas o nono mais vendido de janeiro a março, com 13.689 unidades (segundo sites como o Autoo.com.br).
O carro mais vendido é o Chevrolet Onix, um carro quase tão "depenado" quanto o Kwid, porém maior e mais espaçoso, o que não quer dizer muito: tem 3,93 m de comprimento e motor 1.0. Não sai por menos de R$ 43.290, segundo a tabela FIPE. Pode chegar a mais de R$ 67 mil em sua versão "topo de linha", com motor 1.4. Sua versão sedã, o Prisma, é o quinto mais vendido e o líder em sua categoria, mas é ainda mais caro: a versão básica, com motor 1.0, fica em R$ 47 mil, sendo que as versões restantes têm motor 1.4, muito mais adequadas para o seu porte, mas a preços que podem facilmente ultrapassar os R$ 70 mil, na versão LTZ com opcionais.
O Chevrolet Ônix é o líder, mas custa mais de R$ 43 mil. Outros carros são bem mais caros (Foto: site da Chevrolet) |
O Ford Ka e o Hyundai HB20 disputam o segundo lugar, e também sofrem dos defeitos dos carros mais baratos: deficiências de acabamento, presenças de motor 1.0 em suas versões custando menos de R$ 50 mil (sempre com limitações de potência, em geral não superiores a 85 cv), espaço em geral apertado para cinco pessoas, embora adequado para quatro. Esses problemas também existem no Onix.
Em seguida, um modelo da Volkswagen, mas não é o Gol, atualmente amargando o sexto lugar. É o Polo, um modelo maior, com bom espaço interno, nivel de segurança e modernidade, mas sempre criticado pela pobreza no revestimento. Quase não existem modelos Polo por menos de R$ 50 mil e a versão mais cara ultrapassa os R$ 70 mil, mesmo sem opcionais: é o Highline 1.6 equipado com câmbio automático. Consegue ficar em quarto lugar. Seu badalado sedã, o novíssimo Virtus, chega facilmente aos R$ 80 mil, uma exorbitância. Mesmo assim, em março emplacou 3.059 unidades, mostrando seu potencial.
O sétimo carro mais vendido é uma picape, a Fiat Strada, derivada do Palio da primeira geração lançado em 1996; sua última grande reestilização foi em 2012, e o modelo sofre com o projeto antigo: suspensão mole, falta de conforto, motores ultrapassados, deficiência estrutural para a segurança dos ocupantes e, principalmente, estilo já muito datado e preço altíssimo, entre R$ 47 mil e mais de 75 mil. Como uma picape assim consegue ser tão vendida? E logo vai sair de linha.
Entre a Strada e o Kwid nas vendas, temos um carro considerado de "status" por aqui, mas no Japão é considerado compacto: o Toyota Corolla. Mesmo caríssimo para os padrões brasileiros, custando nunca menos de R$ 89 mil, equivalente a cerca de 95 salários mínimos, o sedã nipo-brasileiro está entre os dez mais vendidos.
Fechando o "top 10", uma SUV, o Jeep Compass. O preço da versão menos equipada é de R$ 107 mil, e mesmo assim é bastante vendido, principalmente para quem gosta de enfrentar uma estrada de terra de vez em quando. O Compass, até agora, é mais vendido do que o "popular" Fiat Argo: 12.979 contra 12.867, embora neste caso a diferença seja bem pequena. Outras SUVs como o pioneiro Ford Ecosport também vendem relativamente bem.
Enfim, o mercado de automóveis é curioso: os brasileiros aceitam pagar valores altos por carros pequenos e defasados em relação aos vendidos no exterior, ou pequenas "fortunas" por carros maiores e mais modernos. A culpa não é só do governo e seu apetite por impostos, e nem apenas das montadoras e suas margens de lucro somadas à necessidade de importar muitos componentes. Eles dividem a responsabilidade com o consumidor, ainda pouco exigente em termos de qualidade e com a equivocada visão de carro como investimento (carro sempre possui uma depreciação em geral muito forte), com uma curiosa noção de status por ter um carro novo, mesmo sendo ele mal acabado e fraco no desempenho.
Para fazer um pouco de justiça, vale lembrar que R$ 8.000,00, em 1995, equivale a R$ 39.122,40, fazendo a correção pela inflação oficial. De janeiro de 1995 a março de 2018, o índice foi de 389,03%. Por isso, a sensação absolutamente verdadeira de R$ 1,00 não comprar mais nada, mas aí já é outro assunto, a ser abordado em breve, em outro artigo sobre "Noventolatria" (pois é, são duas referências àquela época tão saudada, só neste artigo).
Enfim, o mercado de automóveis é curioso: os brasileiros aceitam pagar valores altos por carros pequenos e defasados em relação aos vendidos no exterior, ou pequenas "fortunas" por carros maiores e mais modernos. A culpa não é só do governo e seu apetite por impostos, e nem apenas das montadoras e suas margens de lucro somadas à necessidade de importar muitos componentes. Eles dividem a responsabilidade com o consumidor, ainda pouco exigente em termos de qualidade e com a equivocada visão de carro como investimento (carro sempre possui uma depreciação em geral muito forte), com uma curiosa noção de status por ter um carro novo, mesmo sendo ele mal acabado e fraco no desempenho.
Para fazer um pouco de justiça, vale lembrar que R$ 8.000,00, em 1995, equivale a R$ 39.122,40, fazendo a correção pela inflação oficial. De janeiro de 1995 a março de 2018, o índice foi de 389,03%. Por isso, a sensação absolutamente verdadeira de R$ 1,00 não comprar mais nada, mas aí já é outro assunto, a ser abordado em breve, em outro artigo sobre "Noventolatria" (pois é, são duas referências àquela época tão saudada, só neste artigo).
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