Este blog começou quando Lula ainda era presidente e sua popularidade estava em alta, apesar de algumas vozes discordantes, das quais pertence o autor de "Assuntos 1000". A primeira postagem já começava em tom de piada, mas cutucando o presidente da época (ler AQUI). Aliás, nos escritos sobre política, que não podiam ser muitos para não comprometer a finalidade do blog, havia uma análise crítica dos acontecimentos, envolvendo Lula, seus aliados e também seus adversários.
Lula deixou o poder no dia primeiro de janeiro de 2011, sucedido por sua fiel mas nem de longe tão carismática discípula, Dilma. Apesar dos desastres econômicos e políticos ocorridos durante os dois mandatos da presidentA, que provocaram as manifestações populares de 2013 a 2016 e o impeachment, o ex-presidente continuava em alta, porém progressivamente mais associado com a grande rapinagem que depredou a nação, investigada pela Polícia Federal e tendo como protagonistas juízes zelosos como Sérgio Moro e Marcelo Bretas, procuradores militantes (até demais) como Deltan Dallagnol, os procuradores-geral da República Rodrigo Janot e Raquel Dodge, além de setores do Legislativo e o STF como um todo.
Com a destituição de Dilma e do PT e a ascensão do vice e ex-companheiro Michel Temer, a posição de Lula foi se deteriorando, ainda mais com a atuação dos personagens citados no parágrafo anterior. No ano passado, Lula foi sentenciado pelo juiz Sérgio Moro por apenas duas das varias acusações feitas pelo Ministério Público, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex em Guarujá. Neste ano, o TRF-4, em segunda instância, aumentou a pena de 9 para 12 anos.
Para postergar a cadeia, a defesa de Lula lançou mão de seus recursos. Pode-se acusá-los de colaborar com o projeto de candidatura do ex-presidente e expô-lo como um injustiçado e uma vítima do "golpe", mas não de descumprirem as regras do jogo democrático. Pediram o habeas corpus preventivo. Lula fez uma grande carreata com fins evidentemente eventuais, sendo hostilizado por onde passava. No Paraná, dispararam contra a comitiva, relembrando os tempos da República Velha, no início do século passado, onde disputas políticas eram muitas vezes resolvidas a bala. Mas chegaram os dias decisivos que feriram de morte a candidatura Lula e o farão ir para a prisão.
3 de abril de 2018
Manifestações pacíficas pela prisão de Lula, ou contra ela, aconteceram, às vésperas da decisão do STF sobre o habeas corpus preventivo. Este blog já abordou o assunto. Apesar de não reunirem as multidões contra Dilma, o PT e a corrupção, os eventos foram amplamente divulgados no Brasil e fora dele.
4 de abril de 2018
O STF, tentando ignorar a pressão dos movimentos anti e pró-Lula, negou o habeas corpus por 6 a 5. Esperava-se até uma concessão deste questionado benefício pelo mesmo placar, mas a ministra Rosa Weber mudou seu voto. Após horas intermináveis de discursos dos ministros para justificarem seus votos, os anti-Lula comemoraram, mas atacaram nomes como Gilmar Mendes (antigamente apoiado pelos mesmos movimentos por sempre se mostrar crítico ao PT), Marco Aurélio e Celso de Mello, todos nomeados antes do governo petista. Os pró-Lula criticaram o STF como um todo.
Para temperar o clima, houve uma postagem do Twitter no dia anterior (3) feita pelo general Eduardo Villas-Boas criticando a impunidade. Muitos acusaram o Exército de tentar pressionar o STF para não conceder o habeas corpus. Outros, também de forma equivocada, defenderam a opinião do general lembrando o nefasto golpe de 1964, considerado uma "revolução". Algumas posições foram mais ponderadas, como as críticas do ex-procurador Rodrigo Janot e do ministro Celso de Mello. Janot teria dito: "Outro 1964 seria inaceitável. Mas não acredito nisso realmente". Celso reafirmou a soberania do Judiciário: "Julgamento não pode se submeter à pressão".
5 de abril de 2018
Após os votos do STF, que não deu ouvidos às manifestações e muito menos à suposta pressão dos generais, a Bovespa subiu 1,01% graças ao salto de mais de 3% nas ações da Petrobras, a maior prejudicada pela ação predatória do "Quadrilhão" cuja liderança suprema foi atribuida ao ex-presidente, considerado o beneficiário da rapinagem.
Enquanto isso, os jornais do Brasil e do Exterior repercutiram. Lula, quando foi presidente, conseguiu deixar uma impressão de grande estadista, devido à ação diplomática ambiciosa que vendia o Brasil como protagonista no cenário internacional, a ponto de Barack Obama, ex-presidente americano, chamar Lula de "my man" (traduzido aqui como "o cara"). Boa parte dos brasileiros não se entusiasmava com isso por saber que essa imagem era ilusória: o país é dependente das matérias-primas (commodities) nas exportações e a corrupção predatória na Petrobras, já atuante e ainda timidmente denunciada na imprensa, anularia as conquistas apregoadas pela existência do pré-sal, ainda não devidamente explorado.
Alheio ao que diziam os jornais, Sérgio Moro não perdeu tempo e expediu um mandato de prisão contra o ex-presidente, para ele se apresentar "expontaneamente" em 24 horas, ou seja, até as 17h de amanhã. Lula deixou às pressas o Instituto Lula, onde estava reunido com líderes petistas, rumo a São Bernardo do Campo, onde está o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Ele ainda pretende participar de uma última manifestação, antes de tomar uma decisão sobre a ordem de Moro, mas enquanto isso a defesa anuncia medidas "legalmente previstas" para tentar evitar a prisão. Já enviaram uma liminar.
Entretanto, parece que dia 6, amanhã, será mesmo o dia da cadeia para Luís Inácio Lula da Silva.
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