quarta-feira, 16 de maio de 2018

30 anos de uma novela que permanece atual

Uma das novelas da Globo mais comentadas e estudadas, Vale Tudo estreou no dia 16 de maio de 1988, há exatamente trinta anos. 

Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basseres, já falecida, a trama prendeu a atenção de milhões de telespectadores, nos tempos áureos da televisão, sem Internet, TV a cabo e politicamente correto. 

Discutia-se abertamente a corrupção, questionando se valia a pena ser honesto no Brasil. Pelo que se podia entender da trama e de sua conclusão, a resposta é não. Os vilões principais, representados pelo casal Maria de Fátima (Glória Pires) e César (Carlos Alberto Riccelli) e pelo empresário corrupto Marco Aurélio (Reginaldo Faria), ficaram impunes e ricos. Só o personagem mais detestável teve o tradicional castigo: a empresária Odete Roitman (Beatriz Segall). 

O carreirismo de Maria de Fátima e os golpes de seu amante, mais a roubalheira sistemática praticada por Marco Aurélio, que ainda fez o gesto da "banana" ao fugir do país, despertou ódio nos brasileiros, mas nada se comparava aos atos da esnobe, manipuladora, autoritária e também corrupta Odete Roitman, que fazia questão de escarnecer de tudo o que representava o Brasil ou os brasileiros. Ela foi morta por acidente pela mulher de Marco Aurélio, Leila, mas antes se fez uma campanha famosíssima, entre 23 de dezembro de 1988 e 6 de janeiro de 1989 (data do fim da novela): "Quem matou Odete Roitman". 

A corrupção, assunto infelizmente ainda muito em voga, foi explorada pela novela Vale Tudo por meio do personagem Marco Aurélio (Divulgação/Rede Globo)

A novela foi exportada para vários países e adaptada pela Telemundo, de Puerto Rico, braço da poderosa NBC, como Vale Todo, em 2002, mas causou estranheza nos telespectadores da América Latina, acostumados às tramas mais "água-com-açúcar". Eles não podiam aceitar tantos personagens vilões e ver a honesta Raquel (Regina Duarte) ser vítima de tantas maldades da filha Maria de Fátima. 

Outros temas abordados foram a homossexualidade, principalmente a feminina (as personagens Laís de Cristina Prochaska e Cecília, de Lala Deheinzelin), o alcoolismo da frágil e insegura Heleninha (Renata Sorrah) e o desemprego, principalmente entre as pessoas mais velhas, como o personagem Bartolomeu (o já falecido Cláudio Corrêa e Castro). 

Muitos lamentam que novelas como essa não sejam mais feitas, mas Vale Tudo, por outro lado, influenciou e muito os trabalhos posteriores, ao investir mais nos antagonistas e fazê-los serem os verdadeiros astros dos enredos, deixando os mocinhos em segundo plano. Exemplos são os famigerados Felipe Barreto (O Dono do Mundo), Nazaré (Senhora do Destino) e Carminha (Avenida Brasil).

Atualmente, a principal novela é Segundo Sol, que acabou de estrear no horário das nove (o novo horário nobre, desde 2011), mas como as outras não terá o poder de impacto de Vale Tudo, uma novela que questionou como nenhuma outra a ética de um país. 

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