terça-feira, 8 de maio de 2018

Breves considerações sobre a decisão de Trump


Donald Trump abandonou o acordo com o Irã (cuja bandeira serve de plano de fundo nesta fotomontagem)

Donald Trump já demonstrava, sem pudor ou sutilezas diplomáticas, as reservas do governo americano atual e boa parte da opinião pública estadunidense sobre o acordo nuclear iraniano, considerado, para eles, ineficiente. 

Já na campanha de 2016, ele já prometeu ações mais duras contra os "inimigos" dos EUA, em contraponto às realizações de Barack Obama, seu antecessor, mais voltado para o diálogo e um dos responsáveis pela formulação do acordo iraniano, feito em 2015. Uma das promessas era abandonar o acordo, o que significa a anulação deste na prática.

No ano seguinte, Trump já demonstrou seu respeito aos compromissos de campanha, ao não certificar o acordo, um claro sinal do que iria acontecer cedo ou tarde. E aconteceu agora. 

O presidente americano cumpriu outra promessa, mas ameaçou ainda mais a estabilidade na Ásia Ocidental.

De fato, a documentação firmada em 2015 não impediu o Irã de se afirmar como potência regional, deixando os países aliados do Ocidente na região inquietos. Não deu mostras de respeitar o acordo, como teria demonstrado documentos obtidos (de forma clandestina) pela inteligência de Israel. Gerou pretextos para o belicoso e ambicioso príncipe Mohammed ibn Salman, governante de facto da Arábia Saudita, manter uma guerra no Iêmen, à custa de milhares de mortes e não só de rebeldes houthis, apoiados pelo Irã. O conflito entre sauditas e iranianos causou sérios efeitos colaterais nas relações entre os países da região, e o mais afetado foi o pequeno Qatar, que ousou romper com o alinhamento político com Riad e está enfrentando o isolamento diplomático.

Por outro lado, a retirada dos Estados Unidos vai tornar tudo ainda pior. Sem o acordo, o Irã pode desenvolver seu programa nuclear mais explicitamente. Sanções econômicas têm limitado poder de dissuação, como mostra o caso da Coréia do Norte. O Irã tem aliados perigosos como a Síria, e poderosos como a Rússia. Aumentarão os conflitos contra os inimigos sauditas e israelenses, e uma crise do petróleo tem maior chance de acontecer, pois o Golfo Pérsico possui as maiores reservas exploráveis dessa fonte energética. 

Enfim, mais um caso de preferir ter um acordo ruim e falho do que um "não acordo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário