Criou-se um impasse no Porto de Paranaguá, envolvendo a Petrobras, o governo Bolsonaro, o agronegócio, dois navios atracados, necessitando de combustível - Bavand e Termeh - e o governo americano.
Os dois navios vieram do Irã, e trouxeram ureia, matéria-prima para fertilizantes, e deveriam receber milho para exportação ao seu país de origem. Mas a Petrobras alega que eles estão na lista de embarcações sujeitas a sanções pelo governo americano e se recusa a abastecê-los, alegando temor de punições.
Por um lado, o Executivo respalda a versão da Petrobras, mantendo a coerência ideológica e o alinhamento com os americanos. Por outro, o Judiciário e o agronegócio brasileiro. O Irã é o maior exportador de milho do Brasil e os produtores rurais querem efetivar o negócio - para eles, os lucros são prioridade sobre a ideologia. E o presidente do STF, dizendo que os navios iranianos não são uma ameaça à soberania nacional, por não serem embarcações hostis, e informados sobre as dificuldades enfrentadas pelos exportadores do cereal, mandou a Petrobras fazer o abastecimento.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo se manifestou, aparentemente para defender a Petrobras, mas também para reafirmar o compromisso de Bolsonaro de não quebrar o alinhamento ideológico. Os navios continuam em Paranaguá. Os exportadores e os produtores perdem dinheiro. E o governo brasileiro põe a soberania em xeque, sendo taxado de subserviente aos americanos.
Acontece que a Petrobras tem a União como seu patrão, ou seja, deve obediência não apenas ao Executivo, mas também aos outros dois Poderes. E, sendo de economia mista, os outros acionistas também podem e devem exercer as suas prerrogativas.
Acontece que a Petrobras tem a União como seu patrão, ou seja, deve obediência não apenas ao Executivo, mas também aos outros dois Poderes. E, sendo de economia mista, os outros acionistas também podem e devem exercer as suas prerrogativas.
Cabe aos atores desse imbroglio terminarem logo com isso, da melhor maneira possível, porque o Brasil é um país soberano, onde o Judiciário não pode dizer amém ao Executivo como nas ditaduras (o contrário é inaceitável também, mas não costuma ocorrer), e brasileiros querem exercer o direito de comercializar seus produtos. Ao mesmo tempo, o Brasil não pode ignorar os acordos internacionais, precisa avaliar os prós e os contras de atender embarcações sancionadas por governos com os quais o nosso faz alianças, e deve, sim, ficar atento aos conflitos e ao risco de haver uma guerra em escala global, motivada pela violação iraniana do acordo nuclear e à disposição dos Estados Unidos em ajudar os seus aliados, principalmente os sauditas, inimigos do Irã. Seja lá qual for a decisão final da Petrobras, ela deve ser feita com firmeza e altivez, com todo o respeito devido à parte contrariada, principalmente se esta envolver algum dos Três Poderes constituintes da União.
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