segunda-feira, 22 de julho de 2019

"Porcarias" musicais de ontem e hoje

Este blog, vez ou outra, lamenta o nível da produção musical do nosso tempo, com celebridades e subcelebridades se dando ao direito de violentar ouvidos alheios enquanto privilegiam outros aspectos, como a (necessária) presença de palco e o gestual para impressionar as plateias nos shows. A música é um aspecto secundário quando se é bonitinho(a) e apresenta certo magnetismo pessoal. 

Em termos de qualidade artística, o século XXI é um caso perdido. Mas o passado não foi uma maravilha constante. 

Os compositores tidos como os maiores de todos os tempos também fizeram "porcarias", pelo menos se comparadas às obras-primas produzidas pelas suas geniais cabeças. 

Johann Sebastian Bach, considerado o maior músico da História, autor da Paixão Segundo São Mateus, o Cravo Bem Temperado, a Oferenda Musical, os concertos de Brandenburgo e a famosa tocata e fuga em ré menor, ousou escrever uma "Cantata do Café" (BWV 211), onde uma jovem dizia que "se eu não beber o meu café as minhas curvas vão secar, as minhas pernas vão murchar, e ninguém irá comigo se casar". Comparada com as outras obras, é uma "droga", embora não deixe de ser um primor da música no século XVIII.

No século XVIII não eram permitidas beldades cantando obras cômicas, e sim homens castrados travestidos

Wolfgang Amadeus Mozart se permitiu fazer algumas baixezas com mais frequência. O autor dos grandes concertos para piano, das óperas Le Nozze di Figaro, Don Giovanni e A Flauta Mágica fez uma coisa chamada "Lech mich im m Arsch" (K 231), onde se referia às nádegas (Arsch) e uma bufonaria chamada "Brincadeira Musical" (K 522), onde ele imita um músico ridículo que colocava notas erradas, fazia dissonâncias e uma série de notas grotescas no final.

Acreditem ou não, isso foi feito pelo mesmo autor da Sinfonia N. 40 e da Pequena Serenata Noturna


Porém, Ludwig van Beethoven produziu verdadeiras "porcarias", se comparadas às suas poderosas sinfonias, quartetos para cordas e sonatas. Em algumas obras não numeradas (WoO), ele ousou insultar de forma grosseira o seu amigo Ignat Schuppanzigh, tratando-o como se fosse um gordo salafrário e lorpa ("Schuppanzigh ist ein Lump"; WoO 100). Mesmo em trabalhos catalogados, houve alguns "problemas". Ele criou uma série de "bagatelas", consideradas obras sem valor (para ele), uma das quais era uma série de trinados que acabaria por "botar tudo abaixo", fazendo a música "desabar" (Op. 119, n. 7). Pior, para o gênio surdo alemão, é ter feito um grande sucesso com uma "cacofonia" chamada "A vitória de Wellington" (Op. 91), onde eram empregadas armas de fogo para simular a batalha contra Napoleão e seus soldados, burlescamente representados pela marcha "Marlborough s'en va-t-en guerre" (Marlborough foi para a guerra), que usava a mesma melodia de "Fulano é um bom companheiro".

A bagatela Op. 119 n. 7 seria algo considerado coisa de louco na época de Beethoven


Beethoven ganhou mais dinheiro com essa "coisa" chamada "A Batalha de Wellington" do que com a Nona Sinfonia. 

Para esses três, considerados da "Santíssima Trindade da música", essas obras são "diarreias mentais". No entanto, o que dizer do que se produz agora, quando tudo parece ser uma coisa produzida por intestinos mal regulados e não por cérebros?

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