sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Desafios da indústria no Brasil

Este blog vai iniciar uma série de textos sobre a indústria no Brasil, um setor fortemente retraído nos últimos anos, que fracassou em se adaptar aos desafios lançados pelo Plano Collor (1990), Plano Real (1994) e as várias crises ocorridas neste tempo, como a crise asiática de 1997 e o apagão de 2001. Logo, a atual e desoladora situação não foi decorrente do atual governo, mas de um processo bem mais amplo. 

O primeiro texto desta série vai tentar abordar, de forma sucinta e clara, as dificuldades da indústria eletrônica, aproveitando que o autor deste blog acompanhou um evento chamado SBMicro, na USP, durante toda a semana, entre 26 e 30 deste mês. 

Não se pode culpar um fator A ou B, isoladamente, por tudo isso. E não cabe apostar em falsas soluções, porque não resolveremos o problema com ilusionismos ou promessas. Veremos isso mais adiante, ao longo da série. Pretende-se incluir um artigo a cada semana, entre outras pautas, para este blog justificar o nome.


N. do A.: Os últimos posts abordaram a economia. Então o próximo será bem diferente. E não será sobre a "paralização" a que está sujeito o Ministério da Educação se a pasta da Economia não liberar a verba para as despesas discricionárias, isto é, aquelas para despesas operacionais exceto salários e aposentadorias. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Argentina decreta moratória

Maurício Macri quer renegociar as dívidas com os credores da Argentina (divulgação/Presidência da República Argentina)

Acossado por uma dívida externa crescente, pela retração econômica e por uma série crise cambial, a Argentina se viu obrigada a suspender o pagamento aos credores externos dos juros de curto prazo, enquanto tenta renegociar as parcelas de médio prazo (que venceriam no próximo mandato). 

Esta é a chamada moratória. Quem viveu os loucos anos 1980 no Brasil já ouviu falar nessa palavra. Em fevereiro de 1987, o governo José Sarney enfrentava uma crise inflacionária e cambial após o fiasco do Plano Cruzado, e decretou a suspensão do pagamento da dívida externa. O Brasil voltou a normalizar as relações com o FMI no ano seguinte, mas o descalabro inflacionário continuou, a maior parte das grandes transações financeiras continuava a ser em dólar e não em cruzado (e depois em cruzeiro, até o Plano Real acalmar a economia de forma mais efetiva em 1994) e a dívida externa do país continuou impagável. 

Cinco anos antes do Brasil, o México precisou fazer a mesma coisa, e o resultado foi desastroso para o mundo inteiro: houve corte nos investimentos para os países em desenvolvimento (leia-se: toda a América Latina, entre eles), e a crise gerada pela guerra entre Irã e Iraque, com novo choque do petróleo, levou ao chamado "setembro negro", mesmo apelido de um grupo terrorista palestino dos anos 1970. Não só o México teve uma recuperação lenta e não completa, como contribuiu para o agravamento da crise econômica no próprio Brasil e à desesperada medida de 1987. 

Outra moratória famosa foi na Rússia, em 1998, quando o país enfrentava uma crise severa na transição do comunismo soviético para o capitalismo. Devido à alta da inflação e à ação das máfias russas, o gigante eurasiano suspendeu o pagamento dos juros da sua dívida. A gota d'água foi a crise asiática no ano anterior, que gerou grande retração na demanda de produtos agrícolas e do petróleo, dos quais a Rússia dependia, e ainda depende, para as suas exportações.

Nos casos latino-americanos, a crise econômica continuava, apesar da renegociação da dívida. Na Rússia, Vladimir Putin foi eleito em 1999, e tomou medidas para dinamizar a economia e combater as máfias, à custa de governar praticamente com mão de ferro. 

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Decisão do STF preocupa a Lava Jato

Por 3 votos a 1, o STF anulou a condenação feita pelo então juiz de Curitiba Sérgio Moro ao ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, a 11 anos de prisão.

Os votos a favor foram, não surpreendentemente, por Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski; Carmen Lúcia mudou seu posicionamento e votou também a favor. Somente Edson Fachin votou contra. Celso de Mello está se recuperando de uma pneumonia, e seu voto não iria influenciar no resultado. 

Com isso, a Operação Lava Jato protestou, dizendo que todas as sentenças proferidas pela operação podem ser anuladas. É um risco realmente alto, mas isso exigiria uma revisão do Supremo para cada sentença dada, e não envolveria todos os juizes. O critério mais forte para a revisão seria o caso "Vaza Jato", e apenas Sérgio Moro é citado de forma mais recorrente neste escândalo. Isso quer dizer que as sentenças do agora ministro da Justiça podem ir para esse "pente fino", o que beneficiaria, entre outros réus, o ex-presidente Lula. 


N. do A.: O goleiro Bruno, condenado em 2013 pela morte e desaparecimento da namorada, Elisa Samudio, cumpre regime semi-aberto e foi contratado pelo modesto time do Poços de Caldas. A lei garante isso, por incrível que pareça. Isso pode revoltar ainda mais os adeptos da aplicação da Justiça a qualquer preço, inclusive a ruptura institucional.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Metrô a conta-gotas


A estação fica na Av. Sapopemba, e até 2020 serão concluídas as estações Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus (Governo do Estado de SP)


Há muito se fala neste blog sobre a precariedade do sistema de metrô em São Paulo. Pelo jeito, algumas centenas de postagens serão feitas até a cidade ter uma malha viária à altura de sua grandeza. Ou enquanto o autor deste blog estiver em condições de publicar, o que vier primeiro. 

O governador João Dória entregou para a cidade mais uma estação da linha Prata, que era para ser um empreendimento rápido e viável, mas está cada vez mais caminhando no sentido oposto, por seu preço altíssimo e baixa capacidade. Não é culpa do governador, mas ele irá arcar com o ônus do descalabro no Metrô, o superfaturamento, as falhas gerenciais, os erros de projeto. 

Desta vez a Estação Jardim Planalto, na região de Sapopemba, vai operar em horário pleno, das 04h às 00h40, com cobrança normal. A linha Prata vai até o Jardim Colonial, região de São Mateus, e não mais (por ora) até a Cidade Tiradentes, na extrema zona leste paulistana. 



N. do A.: Enquanto isso, a repercussão das queimadas na Amazônia é a pior possível, e o presidente francês Emmanuel Macron, após reagir a uma observação malcriada do presidente do Brasil, a respeito da mulher do francês, admitiu defender a internacionalização da floresta, mote de pessoas bem intencionadas e de saqueadores em potencial da riqueza contida na maior selva do mundo. Bolsonaro está pagando um preço alto em termos de popularidade: 39,5% consideram seu governo ruim ou péssimo, segundo a pesquisa CNT/MDA. E desta vez os defensores da Lava Jato não o apoiam com a ênfase de antigamente: as manifestações, esparsas e concentradas em poucas cidades, não chamaram a atenção da mídia e pouco falaram do presidente, preferindo defender Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, assim como o impeachment do presidente do STF, Dias Toffoli, e os vetos à Lei de Abuso de Autoridade, aprovada pelo Congresso. Alguns com ideias pitorescas queriam intervenção militar e fechamento do Supremo, mas eram a minoria das minorias.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Da série 'Oitentolatria', parte 28 - A volta de Chucky

O "Chucky" original dos anos 80...

... e a versão atual

Um dos personagens de terror mais conhecidos da "década perdida", o boneco Chucky retornou aos cinemas, num reboot, após 31 anos de estreia. 

O brinquedo assassino voltou diferente, meio estranho e em forma de um robô, enquanto o original não tinha a parafernália eletrônica e era simplesmente possuído por um demônio. 

Parecia que os produtores e o diretor, Lars Klevberg, queriam dar alguma verossimilhança à história absurda, nonsense, do antigo filme, cujo enredo era de Don Mancini, mas tentar mexer nisso seria arriscado demais, pois geralmente os enredos ficam pretensiosos e sem parte da graça, ou seja, ainda mais tolos. Críticos notaram isso e torceram o nariz, mas quem irá decidir isso é o espectador. Muitos são saudosistas incuráveis e vão querer ver o filme, só para comparar as histórias. Outros não vão querer saber, pois imaginam uma possível porcaria. Mas boa parte dos que vão ao cinema não acompanharam a história desde o começo, por terem nascido após 1988, o ano do primeiro filme. 

Sim, como era tradição naquela época, houve continuações, nos anos 1990, onde os autores fizeram questão de não levar a história a sério e colocar (ainda) mais humor, nas sequências de 1990, 1991 e, principalmente, 1998, quando apareceu a famigerada noiva de Chucky. Outros dois filmes foram produzidos, no início deste século, mas sem o apelo original. Em todos, a aparência do boneco era a mesma, a "clássica", sem os olhos grandes da versão atual. 


N. do A.: Outro assunto muito comentado foi a briga entre a Disney e a Sony, ameaçando o aproveitamento do Homem Aranha, o mais icônico personagem da Marvel, nos filmes da MCU. Isso acontece quando o estúdio da "Casa das Ideias" estava pensando em como aproveitar os personagens dos filmes da Fox, adquirida pela Disney recentemente (isto é, os X-Men, o Quarteto Fantástico e Deadpool). 

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Bolsonaro libera a lista das 'privatizáveis'

Conforme prometeu em sua campanha, o presidente Bolsonaro vai acelerar o programa de privatizações. Algumas não oferecerão grandes problemas, fora a disponibilidade de compradores (uma grande dor de cabeça por si só), mas outras exigem um bom planejamento por parte do governo. 

Dentre as empresas passíveis de venda, estão a ABGF, a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias, criada no governo Dilma, em 2013. Também, empresas com muito mais tradição, como a Dataprev, a famosa empresa que cuida dos dados da Previdência Social, e a Serpro, a maior empresa pública responsável pelo processamento de dados no Brasil. 

A Telebras e os Correios darão mais trabalho. São empresas de porte muito grande: a primeira foi conhecida por "Telessauro" pelo finado economista Roberto Campos, e é a coluna vertebral da infraestrutura em telecomunicações do País, apesar de todas as privatizações feitas anteriormente. A situação dos Correios é ainda mais complicada, porque eles foram explicitamente regulamentados na Constituição, requerendo uma PEC para a sua venda. Por isso, setores do governo apostam em uma parceria com empresas privadas. 

Em situação ainda pior é a Casa da Moeda. Como defender a venda da responsável pela emissão das cédulas e moedas do nosso país? Não há paralelo em outros países. Quem defende isso nem é o presidente, e sim Paulo Guedes, que precisa reunir bons argumentos para encampar a ideia.

Falou-se também em uma privatização da Petrobras, mas isso requer um esforço imenso, devido à resistência política (e da sociedade), à complexidade operacional e ao gigantismo desta empresa, a "Petrossauro" referida pelo já citado Roberto Campos, ou um dos pilares da soberania do País, segundo os nacionalistas e "nacionaleiros".


N. do A.: Enquanto Bolsonaro e Paulo Guedes se empenham em modificar a estrutura econômica do Brasil, outra estrutura também está sendo mexida: a política do PSDB, com a adesão de Alexandre Frota, expulso do PSL por suas críticas às diretrizes do partido e de seu mais ilustre integrante (o próprio presidente da República), e a tentativa de expulsar Aécio Neves, alvo da Lava Jato e outras acusações de corrupção e outros crimes; essas iniciativas tiveram o dedo do governador de São Paulo, João Dória. No caso de Aécio, a empreitada não deu certo, pois a Executiva Nacional rejeitou a expulsão, por expressivos 30 votos a 4. 

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Semana sinistra

Céu em São Paulo antes das cinco da tarde (divulgação)

Primeiro, o dia virou noite em vários locais do Estado de São Paulo. Tentaram explicar o fenômeno, acusando as queimadas no Paraguai e na Amazônia, realmente motivos de preocupação ainda mais com a falta de cuidado e de fiscalização em período seco. Como isso é um problema crônico, também disseram que houve uma combinação com uma frente fria. Mesmo assim, muitos não acreditaram, entre eles o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ávido por combater os tais "xiitas ambientais" que fizeram "sensacionalismo". E não faltam outras interpretações, principalmente de ordem escatológica. 


Vídeo onde o criminoso é alvejado pela polícia na Ponte Rio-Niterói (TV Record/Youtube)


Depois, um sequestro na ponte Rio-Niterói, causado por um assaltante que invadiu um ônibus e fez 37 reféns. Ameaçava repetir-se o caso Sandro do Nascimento, que fez reféns e matou uma mulher, antes de ser assassinado pela polícia em 2000. Desta vez não houve mortes de inocentes: quando o criminoso ameaçou incendiar o ônibus após libertar algumas pessoas, ele foi atingido por um sniper, e os reféns foram libertados, após quatro horas de aflição e cerco policial. O governador do Rio, Wilson Witzel, e o presidente Jair Bolsonaro não tardaram em parabenizar a ação da polícia no caso. Parte da imprensa disse que o autor do crime, William Augusto da Silva, 20 anos, era portador de transtorno mental e depressão, mas nunca é bonito minimizar um ato desse tipo, mesmo porque a depressão pode ser sintoma de sociopatia ou consumo de drogas, e nada disso torna alguém inimputável. Ele pôs dezenas de vítimas em risco, e a polícia teve que agir com a perícia necessária para salvá-las. 

Enquanto isso, os Estados Unidos fizeram testes nucleares na Califórnia após abandonarem o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF). A Rússia, também dona de um arsenal nuclear poderoso, também saiu do tratado e ainda é alvo de suspeitas após uma explosão suspeita no Mar Branco, possivelmente com um artefato nuclear, no último dia 8. 

É uma semana sinistra, num mês difamado - agosto - dentro um ano atroz. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Woodstock e o nosso tempo


O poster oficial do Festival de Woodstock, em 1969

Nos dias 15, 16, 17 e 18 de agosto de 1969, milhares de jovens se reuniram para fazer uma festa movida a "sexo, drogas e rock'n roll", de acordo com o famoso clichê da época. Eles celebravam a "Era de Aquário", quando não haveria guerra e o amor reinava. Não queriam saber da "caretice" da Guerra Fria e nem dos combates no Vietnã. Só queriam se sujar de lama, fazer sexo à vontade, experimentar o LSD e outras substâncias para viagens loucas e, the last but not the least, ouvir o velho rock'n roll, este gênero que marcou o fim do século XX. 

O principal nome foi Jimmi Hendrix, no auge da carreira, antes de sucumbir aos 27 anos por causa das drogas (27 anos é uma idade "maldita" para os artistas). Mas para lá foram Joan Baez (grávida), Santana, Ravi Shankar, Johnny Winter, Joe Cocker e a incrível Janis Joplin, também próxima dos 27 anos, idade durante a qual ela (adivinhem) morreu.

Logicamente, trata-se de Woodstock, o evento que não aconteceu nesta cidade no Estado de Nova York, mas a uma hora e meia de carro daí, numa fazenda da zona rural de Bethel, no mesmo Estado.

50 anos depois, não haveria ambiente para fazer algo assim. O gênero rock'n roll está restrito a um nicho, apesar de termos mais um Rock in Rio neste ano, a partir do dia 27 de setembro, com atrações muito além do velho estilo. A "Era de Aquário", com base na posição da nascente (ponto onde o Sol aparece no horizonte), próxima à Constelação de Aquário, é só uma teoria esotérica, até prova em contrário. A moda do "paz e amor", própria dos hippies, terminou ainda na década de 1970, apesar de haver adeptos entre os que passaram a juventude naquela época - os hipsters, influenciados pelos velhos ripongas, em geral não adotam o desapego aos bens materiais e nem o consumo de drogas para verem outros mundos. Ficar ao ar livre e se sujar de lama não é algo agradável para a atual geração criada em apartamentos e acostumada aos smartphones e videogames


N. do A.: Agora, principalmente entre os espíritas adeptos do kardecismo, fala-se numa nova era marcada pela paz e pela elevação espiritual, combinada com o avanço tecnológico cada vez mais acelerado. Chico Xavier teria previsto isso com base na chamada "data limite", 20 de julho de 2019, cinquenta anos depois da chegada de Neil Armstrong e seus companheiros à Lua, caso não houvesse (e não houve) um conflito nuclear. Muitos misturaram esta manifestação do médium com outras pautas esotéricas ou escatológicas, como a chegada do Apocalipse, de extraterrestres ou de entidades cósmicas como o tal Nibiru, um estranho planeta cuja órbita iria coincidir com a da Terra.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Breves do dia

- Flamengo finalmente cai na real e desiste de Balotelli...

- ... mas, e Neymar, para onde vai?

- Câmara aprova projeto de abuso de autoridade: políticos comemoram, bolsonaristas e Lava Jato chiam; 

- Dólar se acalma com a intervenção, mas continua ferozmente alto: R$ 3,98; 

- Gilmar Mendes beneficia réu, para não variar, apontado por irregularidades pelo Coaf (Lineu Castilho); 

- Pesquisadores encontram partículas de plástico no gelo ártico, questionando ainda mais a dependência da civilização moderna pelo produto...

- ... e a Noruega deixa de repassar R$ 134 milhões para a recuperação da Amazônia ...

- ... Bolsonaro já disse para a Alemanha se reflorestar; dirá a mesma coisa para a Noruega, um país com mais florestas (onde o frio permitir).

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

20 razões para agradecer por não estarmos na Idade Média


Dois cavaleiros armados de espadas brigando por uma donzela? Isso só acontecia em ambiente da nobreza. A vida das pessoas comuns era muito mais difícil e violenta (de uma pintura medieval feita no séc. XIII)


A Idade Média é uma época muito difamada desde que ela terminou, com a tomada de Constantinopla pelos turcos, as descobertas de outros continentes pelos europeus e o florescimento das artes com o Renascimento. Consideram-na uma época de ignorância, obscurantismo, tirania exercida pela nobreza e pela igreja contra o resto da população - a maior parte dela vivendo em condições realmente difíceis. 

Existiram fatos que comprovavam esta visão ruim desta época, de acordo com o site List25 (leia o original, em inglês, AQUI). Alguns itens foram retirados porque eram considerados apenas pitorescos, não terríveis, como a contagem dos minutos, o tipo de vestuário e a composição dos nomes naquela época trevosa:


1. Não tinha essa de "felizes para sempre" no casamento
 
O casamento na época medieval era muito diferente do que definiríamos como “casamento” hoje. As mulheres não tinham escolha e nem conheciam o homem antes de se casarem. Simplificando, o casamento não foi baseado em amor e romance, como muitos ingenuamente pensam.


2. A mulher não tinha direitos

Mesmo que o estupro fosse considerado um crime na maior parte da Europa medieval, a mulher era sempre considerada a grande culpada, por se deixar entregar ao agressor. Uma esposa não podia recusar legalmente as demandas sexuais do marido, mas o marido também não podia recusar os avanços da esposa. A crença popular era que as mulheres estavam sempre desejando sexo, e que era ruim para a saúde não ter relações sexuais regularmente. Naquela época, as mulheres eram vistas (e usadas) como estritamente para fins de sexo, geração de filhos, preparação da comida e da limpeza. 


3. A cadeia era verdadeiramente terrível

O sistema penitenciário da época não era tão civilizado e humano quanto o atual na maior parte do Ocidente. Se você acabou perdendo sua liberdade, o inferno estava esperando por você. Cadeias foram as primeiras masmorras em castelos ou fortificações como a Torre de Londres. Um prisioneiro não se alimentava e não tomava água todos os dias e, claro, não havia atividades sociais ou sol. A maioria dos prisioneiros eram acorrentadas m suas celas para evitar tentativas de fuga e muitos deles morriam de fome ou doença. Os presídios de agora, mesmo no Brasil, pareceriam hotéis perto das cadeias medievais. 


4. Ruas pavimentadas eram uma raridade

Na maioria das grandes cidades medievais não havia pavimento e as pessoas tinham que andar na terra nua. Aliás, não exatamente, pois a maior parte do solo estava coberta de excrementos, assim como entranhas de animais e comida apodrecida.


5. Os loucos eram tratados como escória

Ter problemas mentais na Idade Média era um problema real. Os espancamentos eram administrados como punição aos doentes mentais que agiam por causa dos distúrbios causados ​​por seu comportamento e como meio de “ensinar” os indivíduos a sairem de suas doenças. Outros que eram considerados perigosos sofriam espancamentos, eram expulsos das cidades, jogados na cadeia, ou executados pelo crime de possessão demoníaca. Tempos felizes!


6. A comida era horrível

A violência da Idade Média levou a uma sociedade primitiva sem elegância e refinamento. Comida medieval era muito simples e os ingredientes eram obtidos nos lugares de origem, com poucos locais onde se comercializavam produtos de fora. As massas comiam muito pão, muitas vezes mofado, carne de baixa qualidade (principalmente porco), enquanto havia uma séria falta de frutas e vegetais. E a falta de higiene ao comer era regra.

7.  A medicina era baseada na superstição

Um diagnóstico médico durante os tempos medievais envolvia astrologia e outras teorias que hoje seriam consideradas absurdas. Por exemplo, a sangria era um dos métodos de tratamento mais amplamente aceitos e respeitados, uma vez que a maioria dos médicos acreditava que o corpo se livraria de todas as doenças ou enfermidades se o "sangue ruim" fosse removido.


8. Ter uma longa vida era uma raridade

A expectativa média de vida de um homem nascido no Reino Unido entre 1276 e 1300 era de cerca de trinta e um anos, e no resto da Europa as coisas não eram melhores. A "meia-idade" naquela época era a adolescência, sendo que as mulheres já estavam em idade reprodutiva. Gravidez na adolescência não era vista como um problema.


9. Água era rara e imunda; as bebidas alcoólicas eram mais seguras

A água raramente era bebida nos tempos medievais devido às dificuldades em obter água limpa. Se a água tivesse que ser bebida, a de nascente era preferida, pois era menos provável que causasse doença do que se fosse colhida do rio. Acreditava-se também que a água era ruim para a digestão e, por todas essas razões, as pessoas consumiam grandes porções de vinho, cerveja, cidra, cerveja, etc. Era, aliás, menos perigoso se embebedar do que morrer em decorrência de parasitoses vindas da água. 


10. As pessoas não tomavam banho

Embora os banhos públicos e os métodos sanitários fossem comuns em Roma, Atenas e na maioria das grandes cidades da Europa, tudo isso mudou nos tempos medievais. Os cristãos foram proibidos de tomar banho por causa da nudez, e portanto a Igreja proclamou que banhos públicos levavam à imoralidade, sexo promíscuo e doenças. Essas “leis não escritas” da religião tornaram-se parte da vida cotidiana da maioria dos cidadãos que lentamente começaram a evitar qualquer tipo de autolimpeza.


11. Viver nas cidades era uma sujeira

Estima-se que os habitantes da Londres medieval produziam cinquenta toneladas de excrementos humanos e animais por dia. Eles eram descartados em qualquer lugar, até do alto das casas mais altas (e ai de quem passava perto delas).


12. Viver de entretenimento era um risco

Hoje em dia, atores, cantores, atletas e personalidades da TV podem ser algumas das pessoas mais bem-sucedidas e mais respeitadas do mundo, mas, na época medieval, as coisas não eram ótimas para elas. Se um artista não fizesse o rei ou um senhor feudal feliz, ele poderia ser executado por não ser bom em seu trabalho e não, isso não é apenas uma história que você viu nos filmes.


13. O pão era um perigo para a saúde e podia até ser alucinógeno

Pão era alimento essencial na Idade Média. No entanto, durante o verão, fazer pão era uma tarefa particularmente difícil para os aldeões, uma vez que ficavam sem grãos e a nova cultura não estava pronta para ser colhida. Por essa razão, eles foram forçados a fazer pão de centeio velho infestado com um fungo chamado ergot, que tem os mesmos efeitos do LSD.


14. Havia guerras e mais guerras

Viver na Idade Média era conviver com a violência e precisar se sujeitar aos interesses dos senhores feudais e dos reis, que entravam em guerra por qualquer motivo, inclusive questões de honra familiar, mas principalmente devido às disputas pelos tronos (esta é uma causa da Guerra dos Cem Anos entre os reinos franceses - haviam vários - e a Inglaterra, entre 1337 e 1450). As famosas Cruzadas nem sempre foram motivadas pela Igreja para "libertar" Jerusalém, mas também por questões comerciais. Os cavaleiros medievais, mesmo os cruzados, muitas vezes não se comportavam como... cavalheiros, agindo muitas vezes com selvageria. E ser um guerreiro na Idade Média não era fácil, pois para matar o inimigo era preciso enfrentá-lo em combate direto; os nobres raramente o faziam, pois era difícil carregar elmos e armaduras pesadas, enquanto os soldados comuns muitas vezes usavam o que tinham em mãos; não havia a praticidade das armas de fogo e dos mísseis de longo alcance, enquanto as balestras eram o máximo de sofisticação bélica da época.


15. A peste e outras doenças eram sentenças de morte

A peste negra foi registrada como uma das pragas mais mortíferas da história da humanidade. De acordo com relatos históricos, a peste negra matou cerca de metade da população da Europa em apenas três anos, o que significa que se você vivesse na Europa medieval por volta de 1340, teria 50% de chance de morrer com ela. Não era só a peste que matava, mas a malária era um flagelo principalmente na Itália, onde milhares de pessoas morriam todo ano por causa dessa doença. Havia registros de outras enfermidades temíveis, como o Mal des ardents (ou "Fogo de Santo Antônio"), forma perigosa da intoxicação pelo já citado ergot, onde as pessoas sentiam-se como se pegassem fogo e sofriam com a má circulação do sangue e até gangrena.


16. Boas maneiras eram quase inexistentes

Excluindo a maioria das famílias reais e algumas pessoas da nobreza, a grande maioria das pessoas não sabia o que eram boas maneiras. A maioria deles usava palavrões regularmente, eles consideravam a bondade uma coisa ruim, e tinham modos horríveis à mesa. Para ter uma ideia mais clara, era considerado legal arrotar em voz alta enquanto jantava e jogava ossos e restos no chão.


17. Os animais eram tratados como gente, mas só quando eram castigados

Sob a lei medieval, os animais poderiam ser julgados e sentenciados por crimes, como se fossem pessoas. Existem registros de animais de fazenda sendo julgados por ferir ou matar pessoas. Não é um bom momento ou lugar para os animais ou as pessoas que os amam.


18. Anestesia? Que anestesia?

Hoje nós tomamos anestesia, seja no consultório de um dentista ou em um hospital. No entanto, este não foi o caso na Idade Média. Os cirurgiões tinham uma compreensão muito pobre da anatomia humana, dos anestésicos e das técnicas antissépticas para manter feridas e incisões livres de infecções, o que resultou em muitas mortes e muita dor. Além disso, o tratamento para a maioria das cáries era mesmo o boticão, gerando multidões de desdentados.


19. Universidades eram um privilégio e a regra era ser analfabeto

Na Idade Média, surgiram as primeiras universidades, como as de Sorbonne, de Bologna e de Oxford, onde algumas famílias de posses podiam estudar. Não eram um primor e estavam muito longe de transmitirem os conhecimentos como atualmente, mas eram verdadeiros oásis, cercados de ignorância. A maioria das pessoas não sabiam ler nem escrever. As universidades eram derivadas de estabelecimentos religiosos, e desde o início da Idade Média a Igreja era a maior fonte de cultura. 


20. Havia poucas opções de lazer

Na Idade Média, os esportes eram pouco conhecidos e coisas como torneios de cavalaria, justas (duelos entre dois cavaleiros e três tipos de armas por disputa), treinamentos com bonecos armados (estafermos) e corridas de cavalos eram restritos aos senhores feudais, e aos quais o populacho não podia nem sequer pensar em assistir. Havia um tipo de esporte parecido com o futebol, chamado de Calcio (até hoje o esporte moderno é chamado assim na Itália), mas era visto com maus olhos pelas autoridades. Além disso, uma fonte de divertimento era assistir às execuções públicas e participar dos castigos contra delinquentes e ladrões, que eram perseguidos, amarrados, espancados e tratados como alvos para brincadeiras de mau gosto.


Se você está lamentando a vida difícil, o risco de recessão global, a falta de verbas nas universidades, o dólar de novo acima de R$ 4,00, o desemprego, a violência, o governo Bolsonaro, a derrota do seu time ou a ida ao dentista, pode parar de mimimi e agradecer de joelhos por estar vivendo no século XXI, e não na Idade Média!

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Avó da primeira dama engrossa estatísticas

Na semana passada, a avó da primeira-dama Michele Bolsonaro foi notícia devido à espera por atendimento médico em cima de uma maca. Por ser quem era, foi atendida, mas milhares de pessoas passam dias, ou semanas, aguardando nessas condições indignas, mas ainda extremamente comuns, devido às quedas.

A maior parte dos idosos sofrem quedas dentro de casa (Divulgação)


Segundo o Bepa (Boletim Epidemiológico Paulista), as quedas representam a terceira causa de morte por causas externas em 2016. ou 16%, perdendo apenas para acidentes de trânsito e homicídios, nesta ordem. Antes, em 2000, eram apenas 1,9%, quando se morria mais por violência no trânsito ou nas mãos assassinas. 

De 2000 para 2016, a taxa de morte por queda saltou 422%. Parte desse aumento se deve à falta de registros no passado, quando era costume colocar os fatores secundários (pneumonia, embolia pulmonar, falência múltipla dos órgãos) devido à internação e imobilização após ter um osso quebrado. Mas boa parte desse aumento brutal é devido ao envelhecimento da população. Os idosos são as maiores vítimas de quedas, pois perdem os reflexos com a idade e muitos deles apresentam perda óssea acentuada, como a osteoporose. Qualquer tombo mais forte representa uma fratura. Os casos mais graves envolvem o crânio e a coluna vertebral, por protegerem o sistema nervoso central. Mas as fraturas no fêmur e na bacia também são muito perigosas, pois levam à imobilização prolongada e a coágulos nos vasos sanguíneos, geradores da trombose venosa profunda, causa principal da embolia pulmonar. 

As famílias devem ficar atentas, evitando colocar carpetes escorregadios no caminho dos idosos, assim como garantir a iluminação adequada. Existem ainda muitas calçadas esburacadas e escadas em má situação, capazes de ocasionar fatalidades. Os idosos, quando possuem condições, precisam cuidar da alimentação e prevenir a osteoporose com atividade física e cuidados médicos. Infelizmente, boa parte, no Brasil, vive em condições precárias e enfrentam as limitações do sistema público de saúde.


N. do A.: Hoje o governo enfrentou mais uma série de protestos. A "Marcha das Margaridas", em homenagem a Margarida Maria Alves, sindicalista e militante pelos direitos humanos e contra o regime militar, desta vez elegeu a falta de verbas para a educação e o meio ambiente como motes, mas o foco sempre foi as causas ditas da chamada "esquerdalha", como diria o presidente Bolsonaro: oposição às reformas previdenciária, trabalhista e tributária, vistas como uma ameaça aos direitos dos trabalhadores. Essas reformas estão tendo menos resistência por parte da população. 

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Delegação brasileira termina melhor campanha da História dos Jogos Panamericanos


Delegação brasileira mostrou animação na cerimônia de encerramento do Pan em Lima, e não foi à toa: muitos deles voltaram com medalhas (TV Record)

Quem torceu para os atletas brasileiros no Pan de Lima pode ficar satisfeito no final: eles tiveram o melhor desempenho coletivo da história dos Jogos Pan-Americanos. Não é sempre que o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos, potência esportiva incontestável, superando México, Canadá e Cuba.

Com uma delegação menor em relação às de outros torneios (apenas 487 nomes), houve bem mais medalhas de ouro do que a média: 55. Mais do que no Pan do Rio, com 52! O número de pratas (45) e bronzes (71) também merece destaque. 

Muita gente até então pouco conhecida ganhou medalha e está apta para participar dos Jogos Olímpicos em Tóquio, onde o nível técnico será bem maior: Augusto Dutra, prata no salto com vara (5,71 m), Beatriz Ferreira (ouro no boxe), Bruna Wurts (ouro na patinação artística), Guilherme da Costa (ouro nos 1.500 m livres) e a equipe de hipismo. Ao todo, 104 atletas que regressaram de Lima estarão a competir no maior evento esportivo do mundo, em 2020.

Dentre os atletas top de linha, alguns se destacaram, como a Ana Marcela da maratona aquática, Rafaela Silva (judoca e uma das protagonistas das Olimpíadas de 2016), Mayra Aguiar (outro destaque do judô), Martine e Kahena (a dupla da vela, ouro nas Olimpíadas do Rio), Isaquias Queiroz (mesmo participando de uma única competição) e Hugo Calderano (considerado o melhor tenista de mesa das Américas atualmente). Todos eles subiram ao alto do pódio. Outros decepcionaram, como as equipes de vôlei (principalmente o feminino, quando o time deu saudade dos tempos de 2008 e 2012 ao perder para Colômbia e Argentina e ficar sem medalha) e o Thiago Braz, que não saltou bem (apenas 5,61 m).

E o futebol brasileiro nem deu as caras! O time feminino está em processo de mudança, com o comando de Pia Sundhange, que promete corrigir algumas falhas crônicas da equipe, enquanto o time masculino não participou por sua horrenda participação no Pan-Americano, que garantia vaga para os três primeiros colocados (a Seleção sub-20 ficou em quinto). 

Mesmo assim, o saldo foi positivo para o esporte brasileiro. Alguém com certeza vai se destacar em 2020, quando competirem com europeus, asiáticos e africanos.


N. do A.: Se a capital do Peru reservou boas notícias para o Brasil, a Argentina e a Alemanha reservaram as más. No caso do país europeu, ele ameaçou cortar sua participação no Fundo Amazônia, alegando descaso do governo com a floresta, alvo de depredação sistemática por madeireiros ilegais, garimpeiros agindo à margem da lei, grileiros de terras e agricultores irresponsáveis, além da cobiça de governos, empresas e certas ONGs, querendo se apossar de uma riqueza mal conservada pelos legítimos donos, os brasileiros. Os alemães já congelaram as doações milionárias (35 milhões de euros) destinadas à conservação. Enquanto isso, nas prévias para as eleições para presidente, 47% dos votos válidos foram para o kirchnerista Alberto Fernández, derrotando facilmente Augusto Macri, candidato à reeleição. Os mercados argentino e brasileiro ficaram em pânico, e por aqui a Bovespa desabou (2%), enquanto a Bolsa de Buenos Aires chegou a perder 30% do valor. Por outro lado, o dólar voltou a encostar em R$ 4,00, fechando pouco abaixo disso em dois centavos.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Mais sujeira!

Vítima dos hackers que tinham como intenção a derrota da Lava Jato e a soltura do ex-presidente Lula, a Polícia Federal resolveu divulgar vazamentos feitos por ela mesma, com conteúdo escabroso: um suposto tesoureiro do PCC teria falado sobre relações "cabulosas" com políticos do PT e disse ofensas pesadas contra Sérgio Moro. 

A direção do PT reagiu, insinuando armação. Por outro lado, a PF não poderia divulgar algo que não fosse verdade, sob pena de afastamento ou até de prisão, por atentar contra um partido político. Poderia até fazer o governo Bolsonaro ser acusado de atos típicos do fascismo e do nazismo. Não se pode ser irresponsável a este ponto, ou logo falarão sobre um plano para instituir uma versão tupiniquim da "noite dos longos punhais", ou algo parecido. 

Associação entre membros de um partido político e organizações criminosas pode render graves consequências à agremiação. Forjar um falso diálogo para incriminar qualquer um, mesmo um partido acusado de tantos crimes contra o Brasil, não significa limpar a sujeira, e sim aumentá-la ainda mais.

Este conteúdo é extremamente grave e merece uma análise por parte do STF, tal como será feita com o conteúdo vazado pelos hackers. É imperativo verificar qual dos lados desceu à sordidez mais abjeta: a Polícia Federal ou o PT. Em ambos os casos, aumenta a sensação de vivermos na maior cafua do mundo.


N. do A.: Nesta semana o blog ficou preso demais aos assuntos referentes ao governo Bolsonaro e à política em geral. Cabe variar a pauta a partir da próxima semana.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Sujeira demais

Estamos numa época onde parece haver uma faxina excessivamente prolongada e mal feita, com alguma coisa de grande volume sendo removida, mas sem notar grande avanço. 

Sérgio Moro, o ministro da Justiça, propôs continuar o seu serviço de "faxineiro-mor", após uma etapa onde ele parece ter feito um serviço bem duro (e, como mostraram ao longo do tempo, bastante heterodoxo). Sua nova tarefa parece feita de maneira bem menos eficiente, preocupado com a preservação da sua imagem, fortemente afetada pelos vazamentos divulgados pelo The Intercept. E nem o modo com que isso foi feito agrada: ele está querendo processar o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por calúnia, por dizer que o ministro

"(...) usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas!"

Advogados costumam usar termos duros e insultuosos como este para se referir aos acusados de crimes durante o processo destes ou mesmo antes do inquérito ser aberto, e muitas vezes nem se cogita um processo de calúnia, mesmo quando o réu é inocentado. 

Entretanto, cabe à Procuradoria Geral da República acolher a queixa, e se ela não for considerada pertinente, o ministro terá que aceitar. Caso contrário, não será o último insulto que Moro irá ouvir, em meio a outras manifestações bem mais favoráveis a ele.

Eike Batista estava cumprindo pena de 30 anos desde 2017, mas ganhou o benefício da prisão domiciliar (Fernando Frazão / Ag. Brasil)

Por outro lado, a Lava Jato, apesar de todos os questionamentos, ainda continua funcionando, na sua tarefa interminável, e nem sempre zelosa, de investigar e punir quem emporcalhou a nação. Um deles foi colocado na prisão. De novo. Eike Batista foi levado de sua casa pela Operação Segredo de Midas, que visa descobrir esquemas de manipulação de capitais e lavagem de dinheiro. Segundo a Polícia Federal, há indícios de que isso explica parte da fortuna acumulada pelo empresário. Quem mandou executar a ação foi o juiz Marcelo Bretas, celebrizado pela linha dura contra os corruptos, mas visto como mais um justiceiro pelos adversários da Lava Jato, assim como o ministro Moro.

Recentemente, Eike depõs na CPI do BNDES, para a investigação de seus empréstimos conseguidos pelo banco, que ainda está sob suspeita de guardar uma "caixa preta", interpretada como uma lenda urbana por analistas, principalmente os simpatizados com a causa do "Lula Livre", mas vista como algo cheio de segredos por setores do governo e pelos acólitos do presidente Jair Bolsonaro. O BNDES financiou obras com retorno para lá de duvidoso em países como Angola, Moçambique, Cuba, Venezuela e Equador. Descobrirão dentro do banco, como dizem, algo mais, isto é, a maior parte da sujeira feita por anos de rapinagem contra o NOSSO DINHEIRO? Ou é mais uma teoria das conspiração?

Apesar da vontade do governo, ainda não encontraram nem sinal da "caixa preta". E as inúmeras acusações contra quem é apontado como os líderes da tramoia, entre eles o ex-presidente Lula, ainda estão à espera de uma melhor apuração. Na falta disso, o líder do PT ainda pode se livrar da sentença por uma causa menor (o triplex do Guarujá), pelo empenho do The Intercept em devassar a carreira dos responsáveis por este serviço. E os bilhões ainda para serem recuperados? Já secaram o caixa de duas grandes empreiteiras, a Odebrecht e a OAS, mas a maior parte da grana não está sob posse das empreiteiras, mas em certas contas ainda muito bem guardadas dentro e fora do País.

Assim, ainda há muito trabalho a ser feito para tentar limpar a imundície. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

STF assume protagonismo

Ontem, a Segunda Turma do STF impediu o governo da Turquia de extraditar o turco radicado no Brasil Ali Sipahi, de 31 anos, acusado por Ancara de terrorismo por ser integrante do Hizmet, grupo de oposição à ditadura de Rayyip Erdogan. Mesmo ele sendo integrante deste grupo, ele pessoalmente nunca participou de qualquer ato terrorista, disseram os advogados de Sipahi, que vive há 12 anos no Brasil, como dono de um restaurante. De fato, não houve um único registro de atividade ilegal dele em terras brasileiras. 

Por outro lado, o plenário todo se mobilizou para analisar o pedido de soltura do ex-presidente Lula. Nesse tempo, a Justiça Estadual de SP, ou mais precisamente o juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, mandou a Polícia Federal transferir o preso mais famoso do país de Curitiba para Tremembé, o famigerado "presídio dos famosos", onde estão presos Alexandre Nardoni, os irmãos Cravinhos (cúmplices de Suzane von Richttofen) e Lindembergue Alves (assassino da namorada, Eloá Cristina Pimentel). Registre-se que Lula ainda responde a vários outros processos, com potencial para lhe garantir uma sentença de dezenas de anos, por acusações de ser o grande líder do "Quadrilhão", mas no momento só cumpre pena por uma única sentença, que se mostrou questionável desde os vazamentos envolvendo o então juiz Sérgio Moro, que o condenou pelo caso do triplex do Guarujá. Quase todos os ministros do STF foram contra a transferência imediata, menos Marco Aurélio Mello. Este disse que o TRF-4 deveria ter se manifestado primeiro. Lula ficará em Curitiba até o Supremo decidir se ele pode responder em liberdade ou não.

Enquanto isso, continuam os questionamentos à instância máxima do Judiciário, depois que os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli (atual presidente do Supremo) reagiram às gravações divulgadas pelo site The Intercept, Gilmar disse que a Lava Jato é uma "organização criminosa", como se a prisão dos corruptos tivesse sido feita com base na dilapidação das instituições. Isso provocou arrepios nos bolsonaristas, adversários dessa linha de pensamento, e nos petistas, antigos desafetos e agora aliados do ministro. De acordo com os documentos vazados, os procuradores da Força Tarefa estariam tentando investigar as contas de Mendes na Suíça e interferir nas decisões dele sobre Paulo Preto, ex-presidente da Dersa preso por desvios milionários nas obras do Rodoanel. 

Estas são alguns dos atos que mantiveram o Tribunal como protagonista dos rumos tomados pelo Brasil. Bem ou mal, agem de forma independente das vontades dos outros Poderes, sobretudo o Executivo. E isso é bom para manter vivo o frágil espírito republicano no País.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Bolsonaro não é Johnny Bravo

Johnny Bravo é um personagem do Cartoon Network criado pelo cartunista filipino (naturalizado americano) Van Partible nos anos 1990. Ele é uma paródia de outro personagem, Jonny Quest, de Doug Wildey, dos anos 1960. 

Johnny Bravo não deixa as garotas em paz com seu insistente assédio. Imaginem alguém como ele governando um país (Cartoon Network)

O personagem é paquerador barato, mulherengo, nunca tira os óculos escuros, cabelos loiros, jovem, narcisista, egocêntrico, com muitos músculos e pouco cérebro. Aliás, os opositores e setores da mídia gostam de dizer que o presidente tem esta última característica. 

Nosso presidente deve ter citado o Johnny Bravo em mais um ato falho durante discurso em Sobradinho, na Bahia. Mas não pode ser comparado a um personagem assim, assim como não é Jeca Tatu, Macunaíma, Rambo, Conan, Homer Simpson, Jânio, Collor, Trump, Napoleão, Hitler... e nem o Messias (tampouco um menino muito travesso, aproveitando a piada feita pelos britânicos do Monty Python hehehe!), apesar de ter um "Messias" no nome. 

Bolsonaro só pode ser o que ele realmente é. Fim de papo.


N. do A.: Johnny Bravo não é o responsável pela crise no país, pelo tratamento antirrepublicano dado aos governadores do Nordeste (assim como o presidente, eles também foram eleitos) e nem pela irritação da imprensa, alvo de uma MP que desobriga as empresas de capital aberto a divulgar os balanços nos jornais. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) vê um prejuízo à transparência e uma afronta à lei 13.818, sancionada pelo próprio presidente (repetindo, não pelo topetudo exibido da ficção). 

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

10 anos do blog



Ontem, o blog "Assuntos 1000" fez 10 anos (leia mais AQUI, com a data da primeira postagem: 4 de agosto de 2009). 

Foi e continua a ser mantido apenas com o empenho do autor em registrar os acontecimentos e os pensamentos, sem ajuda de ninguém e sem custeio de governos, partidos políticos ou empresas de qualquer espécie. E também sem muito tempo, já que existem as atividades acadêmicas na USP, e só posso escrever à noite, como se pode notar nos registros dos artigos. 

Muita coisa mudou em dez anos, passando pelos governos Lula, Dilma, Temer e, agora, Bolsonaro. Tecnologias foram criadas e depois substituídas. Modismos vêm e vão. 

Este espaço, porém, mudou pouco, apesar de sua criação com outro nome: "Salada de Assuntos". Como houve um outro blog com o mesmo nome, houve uma mudança antes do primeiro aniversário (ver AQUI). 

O foco também não mudou, e este espaço se empenha em abordar os mais variados assuntos, desde os esportes até os livros, passando pela ciência, tecnologia, política, economia, tragédias (infelizmente), humor, maluquices do passado (oitentolatria, noventolatria), bizarrices (infelizmente, também, com as pautas Mondo Cane e Mondo Brasile), etc., etc., etc.

Espera-se chegar aos 20 anos com a mesma proposta. O futuro dirá. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Criou-se um problema e não uma solução

O presidente Jair Bolsonaro mostrou mais uma vez que não gosta de ser contrariado e age com rapidez quando isso acontece. Isso é bom quando há afronta e quebra de hierarquia por parte de algum ministro ou funcionário do Executivo. Quando, no entanto, o subordinado em questão argumenta com fatos e dados concretos, a coisa é muito diferente. 

A demissão de Ricardo Galvão, até então presidente do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, parecia ser uma solução na ótica dos bolsonaristas. Para os demais, criou-se mais de um problema. Quem possui capacidade para substituí-lo? E qual metodologia será adotada para a avaliação dos desmatamentos, se o presidente considera equivocada a atual abordagem? Ela deve, necessariamente, se basear nos dados coletados via satélite, da Amazônia e outras regiões. 

Não havia nada de tecnicamente equivocado na atuação de Galvão, a não ser o uso de termos assertivos para defender seu trabalho, que poderiam soar ofensivos aos ouvidos do presidente. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências já o defenderam. E se o envolvimento com alguma ONG é considerado um desvio de função, o ônus da prova cabe ao acusador, por meio de apurações e resultados de inquéritos, em países com fundamentos jurídicos sólidos. 

Lidar com as consequências das mudanças no Inpe é uma tarefa a ser feita por Bolsonaro e pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Os times brasileiros na Libertadores 2019

Está ocorrendo o previsto para os times brasileiros nas oitavas-de-final da Libertadores deste ano. 

Hoje o Grêmio não deu chance ao Libertad, venceu com gols de André Balada (com 2) e Jean Pyerre. Vai tentar novamente ganhar um título, como ocorreu em 2017, e enfrentará o Palmeiras, que venceu fácil o Godoy Cruz, da Argentina, e poderia ter feito mais do que 4 gols, mesmo desconsiderando aquele pênalti inexistente cobrado por Rafael Veiga. 

Já o Internacional venceu com certa facilidade o Nacional do Uruguai por 2 a 0, e eles não se abalaram com dois gols de Nico López anulados pelo famigerado VAR. Vai enfrentar o Flamengo, o time mais badalado e caro do Brasil, com astros dignos de uma Seleção Brasileira, e alguns realmente membros do time da CBF, como o recém-contratado lateral Filipe Luiz, que jogou a Copa América e faturou o título.

Para isso, os rubro-negros sofreram contra o Emelec, no Maracanã. Obrigado a reverter os 2 a 0 sofridos em Guayaquil, o time carioca fez 2 com Gabigol, logo no começo do jogo - o primeiro deles após cobrar pênalti duvidoso sofrido por Rafinha, aquele mesmo que ficou mais de 14 anos na Europa e jogou no Bayern de Munique. No resto do jogo, não conseguiu produzir e precisou arrancar a vaga nos pênaltis. Todos os flamenguistas converteram (Rafinha, Renê, Bruno Henrique e Arrascaeta), enquanto Queiroz parou em Diego Alves e Arroyo, o "vilão do jogo" por suas jogadas violentas (ele quebrou o tornozelo de Diego no jogo de ida e foi violento de novo agora), desperdiçou. 

Se o Flamengo passou sufoco, o Cruzeiro foi castigado, por não aproveitar as oportunidades frente ao poderoso River Plate, e no Mineirão o placar ficou zerado. Robinho e Fred converteram, mas David e Henrique selaram o destino do time celeste. Todos os cobradores do time argentino fizeram (Santos Borré, Lucas Martinez, Montiel e De La Cruz). 

Gabigol fez a parte dele, mas o Flamengo esteve por um triz de protagonizar um vexame do tamanho do Maracanã (Eldio Suzano/Photopress)

Quanto ao Athlético... infelizmente, não deu, pois não fez a "lição de casa" no jogo de ida e foi derrotado de novo pelo Boca Juniors na Bombonera. 


N. do A.: Os times brasileiros estão ousando mais nas contratações. Luiz Adriano, que jogou oito anos no Shakhtar Donetsk, e depois no Milan e no Spartak Moscou, foi repatriado pelo Palmeiras. E um dos jogadores mais conhecidos da Seleção, o lateral Daniel Alves, pôs fim ao desemprego e surpreendeu o mundo do futebol, sendo contratado pelo São Paulo. Isto não chegou a surpreender tanto quando os rumos da Lava Jato, ameaçada por novos vazamentos envolvendo (novamente) Deltan Dallagnol, acusado de constranger os ministros do STF Dias Toffoli e Gilmar Mendes, supostamente investigando à revelia da Justiça possíveis irregularidades cometidas pelas esposas dos meritíssimos senhores do Supremo. Em decisões monocráticas (para não variar), Alexandre de Moraes, ao suspender as investigações da Receita contra membros do Judiciário, e Luiz Fux, que proibiu a destruição do conteúdo revelado pela "Vaza Jato", fizeram os defensores do combate à corrupção a qualquer custo ficarem de cabelo em pé.