terça-feira, 5 de maio de 2020

Consequências dos bloqueios

É necessário fazer uma observação importante a respeito das atitudes de nossos governantes diante da pandemia. Só porque os governadores e prefeitos discordem do presidente neste assunto, não quer dizer que estejam certos em qualquer coisa. O presidente tem se comportado de forma leviana, estimulando aglomerações e subestimando perigosamente a COVID-19. Mas muitas atitudes tomadas por Estados e municípios também se mostram desastrosas. 

É o caso dos bloqueios feitos a mando da prefeitura de São Paulo. Eis os locais: 

Zona Sul: Av. Moreira Guimarães x Av. Jurema, sentido Santana, com desvio para a via lateral;

Zona Norte: Av. Santos Dumont x Av. do Estado, sentido aeroporto de Congonhas, com tráfego desviado para a pista lateral da mesma avenida;

Zona Leste: Av. Radial Leste x Viaduto Bresser, sentido centro, com desvio dos carros para a pista lateral da Radial;

Zona Oeste: Av. Francisco Morato x Av. Morumbi, sentido ponte Eusébio Matoso, com carros desviados para Av. Morumbi

Congestionamento na Av. Moreira Guimarães, um dos locais com bloqueios em São Paulo (Felipe Rau/Estadão)

Não levaram em consideração que muitos profissionais de saúde não se deslocam em ambulâncias, mas em seus próprios carros, a fim de se deslocarem aos hospitais. 

Não informaram de forma adequada e ostensiva a população a respeito das vias a serem bloqueadas. Criaram pontos de gargalo, nos quais nem as ambulâncias conseguiram passar. 

Não colocaram um número suficiente de ônibus para evitar as aglomerações nos terminais e paradas, afugentando os usuários, que preferiram usar o transporte particular. Nos horários de pico, os coletivos, lotados, são verdadeiros, enormes focos de coronavírus ambulantes, e só agora estão obrigando os passageiros a usarem máscaras para minimizarem o contágio. 

O efeito foi contraproducente, com congestionamentos e profissionais de serviços essenciais chegando atrasados, fazendo a ira da população se voltar contra a prefeitura. Terão que rever com urgência essas medidas, ou tornarão a vida dos paulistanos ainda mais difícil. O prefeito Bruno Covas não só vai ser atacado como mais um "ditador" e perder popularidade, mas também sepultará qualquer chance de reeleição, que já é bem reduzida, pois muitos sabem do seu estado de saúde minado pelo câncer e não votarão nele.

Qualquer decisão precisa considerar as necessidades de quem precisa trabalhar nas atividades essenciais e nos sistemas de saúde. Na ausência de um verdadeiro lockdown, parece mais sensato permitir a livre circulação nas ruas do que organizar bloqueios sem a devida orientação do poder público. 


N. do A.: O presidente Jair Bolsonaro também não perdeu a oportunidade de brigar com a imprensa, para expor a sua versão sobre a rumorosa demissão de Sérgio Moro e as mudanças na Polícia Federal. Chegou inclusive a mandar os jornalistas, aglomerados, "calarem a boca" enquanto discutia uma reportagem dada pelo jornal Folha de S. Paulo, a quem ele chamou de "imprensa canalha"; ele foi pedir desculpas publicamente por este ato mais tarde. Não só o presidente, mas muita gente, na política, na imprensa, em qualquer outro meio, está pensando mais em defender sua imagem e pensar em seus próprios interesses do que em se portar de forma mais adequada, principalmente porque a COVID-19 está devastando o Brasil: nas últimas 24 horas, ela conseguiu matar 600 cidadãos do país. É bom repetir: SEISCENTOS!

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