No dia 15 de maio, dia do "aniversário" de um dos símbolos da indústria automobilística nacional, este blog ia escrever algo sobre ele, mas teve de mudar a pauta para as últimas "quizumbas" envolvendo o governo, entre as quais a demissão do ministro da Saúde Nelson Teich.
Quem teve a oportunidade de ver o Gol, o carrinho da Volkswagen em seu primeiro ano, notava que ele ia ser uma espécie de "mini Passat" para concorrer com os pequenos carros da época, como o Chevette e o Fiat 147. No longínquo ano de 1980, o Fusca ainda era o carro mais vendido, e ainda havia a Brasília.
O Gol de 40 anos atrás (Divulgação) |
De início, o pequeno carro com o nome parecido com o Golf, o carro-chefe da marca na Europa, mas "abrasileirado" para atender ao gosto do povo, por lembrar o futebol, parecia que não ia vingar, com seu motor 1.6 refrigerado a ar, sem fôlego para correr muito com seus 42 cv. Mas ele resistiu. Philip Schmidt, então chefe do departamento de projetos da Volks no Brasil, não queria ver o projeto, desenvolvido desde 1975, fracassar, e bancou a criação de mais carros derivados: o sedã Voyage em 1981, a perua (station-wagon) Parati e a picape Saveiro, ambas de 1982.
Depois de algumas versões impactantes, como o Gol GT de 1984, e o lançamento do conhecido motor AP, a partir do antigo motor MD-270 do Passat que equipava o carro nas versões menos espartanas e também o Voyage e a Parati, o carrinho passou a ficar interessante para o consumidor. A primeira retirada de linha do Fusca (1986) foi um teste para o Gol, que mudou a frente logo a seguir, ficando mais atraente. Apesar de apertado e sem equipamentos de conforto, o carro tinha bom desempenho para a época e uma mecânica bastante robusta. Com isso, em 1987 o pequeno Volkswagen passou realmente a ser o sucessor do velho besouro, e foi o carro mais vendido.
A icônica versão GTi, lançada um ano após o Gol se tornar o mais vendido do Brasil |
Foi assim nos anos seguintes. Em 1988, veio o Gol GTi, primeiro carro de série equipado com injeção eletrônica. Em 1993, o Gol 1000 foi uma tentativa (não muito bem sucedida) de fazer concorrência ao Uno Mille, aproveitando a menor tributação para os carros de menos de mil centímetros cúbicos no motor.
Em 1994, o Gol se reestilizava completamente, tornando-se o "Bolinha", ou "Geração 2". Surgiram versões como o Gol GTI 16V, um dos campeões de desempenho nos anos 1990. O Voyage desapareceu, mas a Parati e a Saveiro se transformaram mais tarde, acompanhando as mudanças do carro-chefe. Surgiu a versão com quatro portas, acompanhando o gosto do público. Mais tarde, as reestilizações do "Gol Bolinha", chamadas de Gol G3 (1999) - que inovou com o motor flex a partir de 2003 - e G4 (2005), sempre acompanhadas da reestilização de suas versões perua e picape, que passaram a sofrer mais com a concorrência. A Parati, até então a líder no mercado de station-wagons, perdeu o mercado para a Palio Weekend, da Fiat, e a Saveiro foi perder terreno para a Strada, também da Fiat.
O Gol G2, ou "Bolinha", lançado no final de 1994. Acima, a versão GTI, sucessora do antigo GTi |
Finalmente, a transformação mais radical do carro em 2008, quando ele deixou de usar um motor longitudinal e passou a adotar a plataforma do Polo, tornando-se o Gol G5, na prática a terceira forma do campeão de vendas. Voltou o Voyage, para competir no mercado de sedãs compactos. A Saveiro também se reestilizou, mas a Parati estacionou no formato "bolinha", a G4.
O Gol G5 é o terceiro formato do líder de vendas. A partir daí passou a ser encontrado predominantemente com quatro portas - os Gol mais recentes com duas portas são relativamente raros |
Infelizmente, para a fábrica alemã, a concorrência passou a disputar com mais competência o gosto do consumidor, e além disso o Gol deixou de inovar como antes. Para enfrentar os rivais, surgiram novos Volkswagen na faixa dos compactos, o Fox, o Polo e o pequenino up! Como resultado disso, ele perdeu o posto de carro mais vendido para o Palio em 2014, coincidentemente o ano da Copa do Mundo no Brasil, onde houve o 8/7. O Brasil deixou de ser considerado o país do futebol, e o Gol deixou de ser o queridinho dos consumidores de automóveis.
Desde então, o modelo nunca mais recuperou a liderança, perdendo terreno para o Onix, da Chevrolet, o novo líder de vendas. Agora, a sobrevivência do velho Gol está em xeque, com planos de substituí-lo. Mas a Volkswagen dificilmente irá desprezar o modelo responsável por recordes de vendas, sendo o legítimo sucessor do lendário Fusca no Brasil.
N. do A.: O Gol surgiu no regime militar, época com a qual alguns radicais sonham e onde a imprensa, agora vista como inimiga do governo, ainda era amordaçada, apesar da abertura política que começou com o fim do AI-5 e do período ditatorial strictu sensu, em 1978. Os radicais anti-imprensa, anti-STF, anti-Congresso e anti-Constituição fizeram questão de aparecer nas manifestações, saudadas pelo presidente como "democráticas" mas que ignoraram as recomendações de distanciamento social por causa da pandemia de COVID-19.
N. do A.: O Gol surgiu no regime militar, época com a qual alguns radicais sonham e onde a imprensa, agora vista como inimiga do governo, ainda era amordaçada, apesar da abertura política que começou com o fim do AI-5 e do período ditatorial strictu sensu, em 1978. Os radicais anti-imprensa, anti-STF, anti-Congresso e anti-Constituição fizeram questão de aparecer nas manifestações, saudadas pelo presidente como "democráticas" mas que ignoraram as recomendações de distanciamento social por causa da pandemia de COVID-19.
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