quinta-feira, 14 de maio de 2020

Modesta proposta para enfrentar a pandemia

Enfrentar a pandemia de COVID-19, como demonstram galhardamente os cidadãos comuns, os profissionais de saúde e também os governantes, isto é, prefeitos, governadores e o presidente da República, não é uma tarefa simples e envolve vários fatores, como a disponibilidade de vagas, a preparação dos médicos e atendentes, a economia, a educação e a vulnerabilidade social. 

Nesta postagem, o autor deste blog apresenta uma modesta proposta para enfrentar a pandemia quando ela atingir o pico dos casos e das mortes. Modesta, porque não é tão elaborada quanto os trabalhos dos profissionais de saúde e dos especialistas em engenharia social. 

Em primeiro lugar, antes de surgir a pandemia, consideremos dois grandes grupos, os médicos e os não médicos. A tabela abaixo mostra como a vida era, em termos de circulação, distanciamento social e contato. Chamemos de situação 1

Grupo dos médicos Grupo do público em geral
* Circula livremente * Circula livremente
* Não há distanciamento social * Não há distanciamento
* Entra em contato intermitente com o outro grupo * Entra em contato intermitente com os médicos

Com o surgimento da pandemia de COVID-19, foi determinado que os trabalhadores de serviços essenciais podiam sair às ruas, enfrentando o risco de contrair o coronavírus, causador dessa doença. Infelizmente, outros trabalhadores considerados "não essenciais" estão atualmente em situação de vulnerabilidade, e se veem forçados a enfrentar a pandemia. Os desempregados muitas vezes precisam sair para enfrentar as filas nos bancos para receberem o auxílio emergencial. Para isso, em teoria precisam se armar de máscaras, evitar aglomerações e reforçar a higiene pessoal para evitar a contaminação deles e de outras pessoas. No Brasil a teoria vem se mostrando difícil de ser colocada em prática. 

Estudantes, trabalhadores que conseguiram o home office, aposentados e pessoas que cuidam destes últimos (muitas vezes, também idosos e sem outros familiares) são aconselhados a permanecerem em casa.

Já quem contraiu a doença deve ser internado e isolado para minimizar qualquer contaminação alheia. Por outro lado, o grupo dos médicos entra em contato direto com os doentes e muitos profissionais acabam atingidos pelo vírus. Há um complicador: por falta de leitos muitos doentes acabam sofrendo em suas casas, e quem está morando neles sofre as consequências. 

O momento atual, aqui, é considerado a situação 2: 

Grupo dos doentes Grupo dos médicos Grupo dos trabalhadores Grupo da população em geral
* Fica isolado em hospitais * Circula livremente * Tem circulação restrita * Fica isolado em casa
* O distanciamento social não se aplica entre os doentes e os médicos * Deve obedecer ao distanciamento, salvo se cuidar dos doentes * Obedece ao distanciamento, salvo se estiver em casa * Obedece ao distanciamento quando precisar sair
* Não entra em contato com ninguém salvo os médicos * Entra em contato intermitente com os trabalhadores (no transporte público) * Entra em contato intermitente com os médicos e permanente com o resto da população * Entra em contato intermitente com os médicos e permanente com os trabalhadores

Na prática não é bem isso que ocorre, principalmente na periferia, onde evitar a aglomeração é difícil e as condições econômicas obrigam a classe dos trabalhadores a circular, desafiando as restrições para os serviços não essenciais e para quem está dependendo do auxílio emergencial. Além disso, há vários casos de violação do isolamento por parte de quem não precisa circular. 

A situação atual pode ser quebrada em caso de medidas irresponsáveis das autoridades, como forçar a quebra do distanciamento social impondo uma volta sem planejamento ao trabalho ou criando rodízios de veículos cuja consequência é a aglomeração de pessoas no transporte público (sim, estes são os casos do presidente da República e do prefeito de São Paulo...).

Agora chegamos à proposta, em caso de melhora no triste quadro atual. 

Ainda enfrentaremos a situação 3, onde o número de novos casos começa a diminuir. Aos poucos, isso deverá diminuir a pressão sobre os hospitais. Chegaremos a isso principalmente quando houver maior conscientização da população e maior número de testes. Já se sabe que todos são sujeitos a morrer por causa da doença, mas há aqueles cuja probabilidade é maior: os idosos, os obesos mórbidos, os predispostos a doenças respiratórias, os acometidos por outras doenças graves. 

O grupo dos doentes, a partir daqui, será chamado de grupo A

O grupo dos médicos será dividido em dois: o grupo B, que cuida dos doentes, e o grupo C, responsável por atender a população em geral. Os grupos B e C precisam manter distanciamento social entre eles, salvo entre pessoas dentro do grupo B, onde isso não é possível. 

Os trabalhadores serão conhecidos pelo grupo D. À medida que a situação melhorar, todo esse grupo poderá voltar ao trabalho, mas precisam cuidar da higiene pessoal. O distanciamento social entre membros desse mesmo grupo pode ser abolido, principalmente quando houver testes confiáveis. 

Estudantes, que deverão voltar às aulas quando as autoridades permitirem, são o grupo E. O distanciamento social entre membros desse grupo muitas vezes é impossível, e eles fatalmente irão entrar em contato com o grupo D, formado por pais e mães desses estudantes. 

Os mais vulneráveis são chamados de grupo de risco, ou grupo G, que precisa ter a assistência de pessoas, as quais também precisam de cuidados especiais para não terem contato com o vírus, ou grupo F, formado por quem precisa cuidar dos membros do grupo anterior. 

É fortemente recomendável que os grupos D e E mantenham o distanciamento social principalmente com o grupo de risco (G), salvo se houver testes confiáveis que indiquem ausência de contaminação por parte dos indivíduos destes dois grupos. 

Eventualmente, os indivíduos dos grupos não doentes deverão ser atendidos diretamente pelos médicos do grupo B, apenas em caso de terem desenvolvido a doença. Neste caso, tornam-se automaticamente membros do grupo A e precisam ser isolados.

Enquanto durar a pandemia, pessoas com problemas respiratórios devem, de preferência, ficar em casa. 

Grupo A
Grupo B
Grupo C
Grupo D
Grupo E
Grupo F
Grupo G
* Fica isolado em hospitais
* Circula livremente
* Circula livremente
* Circula livremente
* Tem circulação restrita no início; depois, circula livremente
* Tem circulação restrita
* Tem circulação restrita; deve evitar sair enquanto não houver normaliza- ção
* O distancia-mento não se aplica entre os doentes e os médicos do grupo B
* Deve obedecer ao distanciamento, salvo se cuidar dos doentes
* Obedece ao distanciamento, salvo se atender aos grupos não doentes
* Obedece ao distanciamento principalmente com o grupo G
* Obedece ao distanciamento com os grupos F e G; deve evitar qualquer contato com o grupo B
* Obedece ao distanciamento quando precisar sair
* Obedece ao distanciamento quando precisar sair
* Não entra em contato com ninguém salvo os médicos
* Entra em contato intermitente com os outros médicos e com outros grupos que adoecem
* Entra em contato intermitente com os outros grupos, mas não com os doentes de COVID-19
* Entra em contato intermitente com os grupos C, F e G, e permanente com o grupo E
* Entra em contato intermitente com os grupos C, F e G e permanente com o grupo D
* Entra em contato intermitente com os grupos C, D e E e permanente com o grupo G
* Entra em contato intermitente com os grupos C, D e E, e permanente com o grupo F

Deve-se lembrar das fontes de aglomeração, que devem ser limpas periodicamente. Igrejas, templos e shopping centers, poderiam funcionar, de início, em horários definidos por iniciativa destes. Depois, com testes mais frequentes, passam a ter funcionamento normal. Estádios esportivos ficam abertos apenas aos clubes, a princípio, para depois serem liberados, com atenção às torcidas organizadas, que deverão ser punidas em caso de agressões físicas. Antes de serem abertos, os parques, praças, praias e outros lugares públicos devem ser limpos e bem cuidados. Manifestações são livres, desde que não agridam fisicamente ninguém e nem causem danos ao patrimônio público - neste caso, os organizadores precisarão ser responsabilizados criminalmente.

É preciso ter em mente que a COVID-19 não deixará de ser uma ameaça enquanto não houver vacinas eficientes, capazes de lidarem com os tipos mais comuns de coronavírus. Haverá outros surtos, e, neste caso, as autoridades e a população precisam ajustar as medidas de controle. Em um próximo post vou expor o que poderá acontecer até o surgimento das vacinas. Pode-se já cogitar uma outra proposta, quando se notar que a pandemia está perdurando por tempo demais, a ponto de ameaçar criar um colapso social e econômico. Quando houver sinais disso, este blog irá se manifestar na medida do possível. 

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