Este blog tinha a intenção de pautar em outro assunto, mas terá que voltar atrás, pois acabou de explodir uma "bomba" em Brasília - no sentido figurado, mas com potência suficiente para afetar o Brasil todo.
Autorizaram a divulgação do "vídeo-bomba" da reunião ministerial feita há exato um mês. Mostra o presidente em sua postura "raiz" (considerando ontem, em reunião com governadores, como a postura "nutella", aquela mais parecida com a de um chefe de Estado, comedido e sem o já notório temperamento explosivo), exigindo que todos os ministros, inclusive Sérgio Moro, prestes a sair do governo, estejam de acordo com o pensamento dele. O presidente também mostrou sua notória aversão à imprensa e sua intolerância incurável às críticas, abusando dos xingamentos e das ofensas. Mas não é nada muito diferente da sua conduta fora do Planalto.
O vídeo da reunião, divulgado amplamente pela mídia (do canal CNN Brasil, no Youtube)
Pode-se fazer mais de uma leitura a respeito:
- o presidente quer fazer o que lhe der na telha, mesmo dando mau exemplo no combate ao coronavírus;
- o presidente está revoltado com o sistema político e com os críticos, vistos como ressentidos e "maus perdedores" porque ele foi eleito e os outros, não, e por isso o atacam pintando-o como fascista ou defensor da "Idade Média", quando na verdade ele quer o bem do país;
- os ministros não são meros lacaios do presidente, como muitos imaginam, e também não mostram uma segunda face;
- quase todos acham que governadores e prefeitos violam a liberdade adotando as quarentenas contra o coronavírus, enquanto são apoiados por vigaristas e oportunistas interessados em enriquecimento ilícito ou cometer crimes para colocar a culpa no governo;
- Bolsonaro realmente trata seus adversários como inimigos, e reserva termos "carinhosos" aos governadores João Dória e Wilson Witzel;
- exceto o ministro da Saúde, então Nelson Teich, e alguns outros, a maioria dos ministros de acordo com o uso da hidroxicloroquina, esta substância que tanto eles quanto os críticos ainda confundem com a cloroquina;
- eles culpam a China pela disseminação do "vírus chinês" que devastou a economia do Brasil - e do resto do mundo, inclusive a própria China;
- os assuntos não giram em torno da Justiça, mas são diversos, passando até pela liberação do jogo, algo deplorado pelos evangélicos;
- os ânimos estão muito acirrados e os ministros também abusam do direito de insultar, às vezes com termos pesados ou impublicáveis aqui, e atacar com agressividade os outros Poderes, ameaçando, por exemplo, botar os "vagabundos" do STF na cadeia, como fez o ministro da Educação Abraham Weintraub, sem receber uma reprimenda do presidente;
- Bolsonaro disse mesmo que quis intervir politicamente na Polícia Federal e proteger os filhos, como se eles não fossem adultos capazes de se defenderem; ele advertiu a todos os presentes sobre o risco de perder o mandato;
- o presidente tem uma noção particular de liberdade e democracia, e também se disse contra uma ditadura, o que soa para muitos como ironia; para ele, o povo tem que se defender de quem quer amordaçá-lo, pelas armas.
Enfim, o vídeo pode ser interpretado como o "descobrimento do governo", coincidindo com a data da reunião, 22 de abril, o dia do Descobrimento do Brasil. Isto servirá para acirrar os ânimos e a polarização política, pois os bolsonaristas vão apoiar ainda mais o governo por mostrar um governo transparente e sem "papas na língua", e os opositores vão aumentar os ataques devido ao desnudamento de uma visão pouco republicana do presidente e seus ministros.
Pelas vias republicanas (existem outras, mas este blog não vai tratar delas por serem piores e mais traumáticas), a decisão sobre o futuro do Brasil caberá ao Congresso. Ele pode escolher votar o impeachment, como quer a oposição (ainda minoria nas duas Casas, mas voltando a ser barulhenta como antes), ou, por outro lado, acabar com o "ativismo judicial", responsável, segundo os governistas, pela crise institucional, votando, por exemplo, pelo fim das decisões monocráticas dos ministros do STF, de acordo com projetos de lei em tramitação ou ainda em fase de elaboração. Em ambos os casos, os deputados e os senadores precisam ser responsáveis e pensar no presente e no futuro do Brasil, assolado pela pandemia, pela falta de rumo e pelos velhos problemas crônicos (miséria, analfabetismo, corrupção, violência...), e à mercê de uma crise econômica feroz e intensa, capaz de deixar cicatrizes permanentes em todos nós, brasileiros.
Este país haverá de sobreviver a todos os seus males.
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