Chegamos a ter mais de 1.200 mortos por dia, pelo menos oficialmente, na pandemia de COVID-19. Isto deveria chocar, mas menos gente está se escandalizando para as mortes, preferindo falar de outra coisa, como o Anonymous Brasil, as fake news e a Sara Winter.
Muitos não se chocam com esses números pois está notando um número inflado de mortos, 1.262, por causa da subnotificação entre domingo e segunda. Isso sempre ocorre, mas não deixa de ser alarmante. E de nada adianta comentar isso aos parentes das vítimas, pois a estatística não vale nada diante da dor de perder um pai, uma mãe, um avô, um tio ou mesmo um filho.
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O Anonymous voltou das sombras para acirrar as diatribes políticas no Brasil e nos Estados Unidos, em meio à maior pandemia da História (Reprodução/Twitter) |
30.000 mortes causadas pelo vírus não impactam tanto quanto o vazamento de dados do presidente, dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, dos ministros Abraham Weintraub e Damares Alves, de aliados como o deputado do PSL paulista Douglas Garcia, pelo Anonymous Brasil. Isso mostra o perigo dos hackers e a importância de proteger os nossos dados pessoais. O "cyberterrorismo" não pode ser visto como uma luta política legítima. O Anonymous já atuou contra a ex-presidente cassada Dilma Rousseff durante as grandes manifestações de 2013, e agora tenta vitimar Bolsonaro. Donald Trump também é alvo dos "anarquistas virtuais", que se dizem apoiadores do movimento "Black Lives Matter", que protestou contra a morte brutal e abjeta de George Floyd por um policial branco que, ao menos, está na prisão.
Atuações de hackers e as fake news precisam ser combatidas com uma legislação eficiente. O projeto proposto por Tábata Amaral (PDT-SP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Felipe Rigoni (PSB-ES) ainda deixa bastante a desejar, apesar de ter perdido os arroubos autoritários que significavam a censura nas redes sociais e a possibilidade de fechamento do Whatsapp, do Twitter e do Facebook no país. Eles não retiraram o trecho que autoriza o uso da Polícia Federal contra acusados de divulgar notícias mentirosas sem mandato judicial, e poucas garantias de proteção de dados pessoais, como RG e CPF, que passam a ser obrigatórios para os usuários das redes sociais.
Acusada de, entre outras coisas, fazer mau uso dessas redes, a extremista Sara Winter continua a fazer barulho, após protagonizar o espetáculo grotesco do último domingo, quando o seu grupo, o "300 pelo Brasil", ameaçou o STF portanto tochas, como um arremedo dos grupos supremacistas norte-americanos. Ela foi expulsa do DEM, e fez pouco caso, dizendo ser membro do Aliança pelo Brasil, um partido ainda sem registro no TSE, e portanto uma agremiação, por enquanto, fantasmagórica, apesar do empenho demonstrado pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e asseclas.
Mais do que fantasmagórica, é aterrorizante mesmo a sanha militarista da China e da Rússia, como resposta à crescente deterioração das relações com os Estados Unidos.
O parlamento, tomado pelo Partido Comunista Chinês, aprovou ainda em maio uma lei de segurança nacional que ameaça a autonomia de Hong Kong, e militares já falaram grosso contra Taiwan, apesar de não haver grandes manifestações de hostilidade contra Pequim. A "província rebelde" onde há um regime democrático não reconhecido formalmente pela maioria dos países. assistiu ao começo do segundo mandato do presidente Tsai Ing-Wen, no último dia 20. Além de tudo, cresce o movimento de navios militares chineses e norte-americanos no Mar da China Meridional, onde há a disputa de territórios de pesca, reivindicados pelo gigante asiático em detrimento dos outros países, como Vietnã e Filipinas.
Jà a Rússia está para testar um drone submarino difícil de ser detectado e capaz de carregar armas nucleares suficientemente poderosas para causarem tsunamis de dezenas de metros de altura e destruir enormes áreas continentais.
Há, portanto, motivos para acreditar que o COVID-19 será um problema menor diante de outras ameaças. Caminharemos para um futuro distópico?