segunda-feira, 8 de junho de 2020

Manifestações indicam acirramento da polarização (ou os dois lados da necropolítica)

O Brasil já tem alguns apelidos, uns históricos e bem mais benfazejos, como a "Pindorama" dada pelos tupis e a "Terra de Santa Cruz", com a qual os portugueses denominaram este imenso lugar durante as descobertas. Outros, ao longo do tempo, falaram em "país do carnaval" ou "país do futebol", aludindo a aspectos pitorescos da cultura. Existem, porém, termos pejorativos, como "Botocúndia", "Banânia", "Bananistão". Devido à falta de controle sobre a pandemia de coronavírus e ao desprezo dado neste país aos cuidados com a doença, este lugar "abençoado por Deus" vai acabar recebendo outro apelido, o de "Covidistão". 

Militantes políticos aproveitam o vácuo de poder deixado pelas autoridades, que demonstram todas as suas limitações por não conseguirem resolver nem a crise econômica e nem a sanitária, e resolvem tomar as ruas, aglomerando-se e correndo o risco de pegar a COVID-19 em nome de suas convicções.

De um lado, temos forças políticas que "pegaram carona" nas revoltas ocorridas nos Estados Unidos. O pretexto para os chamados "democratas" vestidos de vermelho e preto irem às ruas é o assassinato de George Floyd em maio, um homem negro que pereceu sob os joelhos de um policial branco violento. Em nome do combate ao racismo e à democracia, eles querem o presidente Jair Bolsonaro fora do poder. A maioria deles é simpatizante do governo petista entre 2003 e 2016 ou defensora do socialismo e do marxismo, sempre vistos como solução para resolver a gritante desigualdade social e a pobreza existente na nossa nação. O governo petista, de forma menos utópica, usou essa ideologia "de esquerda" para abusar do poder, favorecendo a gigantesca roubalheira contra o NOSSO DINHEIRO feita por corruptos e oportunistas.

Manifestantes se reúnem no Largo da Batata contra o governo Bolsonaro (Eduardo Knapp/Folhapress)

De outro, os simpatizantes mais radicais do presidente, defendendo um governo sem tantos obstáculos impostos pela chamada "velha política". Parte deles quer o autoritarismo puro e simples, com o fechamento do STF e até do Congresso, e uma "intervenção militar" para combater o comunismo e a quarentena causada pelo "vírus chinês", acusada de destruir a economia e gerar desemprego, enquanto priva a liberdade, principalmente de ir e vir e de se aglomerar para, segundo eles, defenderem a pátria. 

Na Avenida Paulista, houve protesto pacífico, mas esvaziado, a favor de Bolsonaro (Kaio Lacaio/VEJA)

Em São Paulo, os vestidos de verde e amarelo eram poucos e se concentraram na Avenida Paulista, enquanto os vermelhos e pretos enchiam o Largo da Batata e alguns deles apanharam da polícia ao tentarem marchar para a Paulista, onde estão os "inimigos". Em Brasília, ambos se reuniram e não houve violência, mas se juntaram e nem ligaram para as máscaras. 

Quem vestiu vermelho ou preto protestou contra o racismo e o governo Bolsonaro, visto como contrário à democracia (Ricardo Stuckert)
O presidente recomendou que os apoiadores não fizessem manifestações próximas às dos opositores, mas alguns não atenderam ao pedido (Evaristo Sá/AFP)
Mesmo assim, a maioria dos que saíram às ruas no domingo era anti-Bolsonaro; no Recife, incluíram protestos por causa da morte do menino Miguel, negro, filho de empregada doméstica, morto pela negligência da patroa dela (Guilherme Gandolfi)

A pandemia e a maior crise econômica em décadas, causada pelo coronavírus, geraram um ambiente propício para o Brasil ser um imenso lugar mefítico. Assoladas pela necessidade de se sustentarem, ou simplesmente porque não aguentam ficar em casa, milhões de pessoas desobedecem às normas do Ministério da Saúde, que ainda valem, apesar do presidente também ignorá-las totalmente.

Bolsonaristas insistem ainda em subestimar o "vírus chinês", visto como pretexto para a roubalheira (o "covidão") e a subserviência à China, enquanto muitos adversários políticos colocaram, acima da necessidade de proteger a saúde, a vontade de pressionar por um impeachment ou até uma cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, acusando-a de ter fraudado as eleições com as fake news (usadas galhardamente em 2018 não só por eleitores do ex-capitão, mas por quem votou em Fernando Haddad, também, na esperança de colocar o ex-presidente Lula de novo no poder).

Além disso, planejamento dos governadores e dos prefeitos se revelou um fracasso, pois agiram tarde, depois do Carnaval, quando a pandemia começou a explodir no mundo. Para não agravarem o colapso econômico eles estão flexibilizando as quarentenas, mesmo quando não se atingiu ainda o pico da pandemia, a partir do qual os casos e as mortes pela COVID-19 param de crescer. Pagaram o preço de adotarem algo diferente de países que estão controlando o vírus, como Coréia do Sul, Taiwan, Vietnã e Islândia, que adotaram medidas rigorosas já no começo da epidemia enquanto faziam testes e monitoramentos em massa, e o Japão, cujos habitantes levaram realmente o uso das máscaras a sério.

Se os chefes dos Estados e municípios falharam e ainda permitiram desvios milionários de dinheiro em licitações mal feitas, irregulares ou ausentes, o que fez o governo federal? Está dificultando a divulgação das mortes e dos novos casos, seguindo o exemplo de países como Venezuela, Coréia do Norte, Belarus, Turcomenistão e outras nações párias.

Como resultado dessa necropolítica generalizada, o Brasil virou o epicentro do inimigo invisível, e sabe-se lá quando nos livraremos dele, mesmo usando recursos como a hidroxicloroquina. Pois a vacina ainda vai demorar para chegar, apesar dos esforços para testar algumas das possíveis candidatas à imunização mundo afora. 

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