sexta-feira, 19 de junho de 2020

"Memórias Póstumas" vira sucesso nos Estados Unidos

Os Estados Unidos andam valorizando mais a genialidade do brasileiro Machado de Assis (1839-1908)

Machado de Assis está a se tornar o primeiro brasileiro a ganhar popularidade entre os leitores norte-americanos. Antes, entre os sul-americanos, poucos se tornaram apreciados, como o colombiano Gabriel Garcia Marquez, o argentino Júlio Cortazar, o mexicano Carlos Fuentes e o peruano Mario Vargas Llosa. 

Na Amazon e na livraria Barnes & Noble, a edição do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas lançada pela editora Penguin Classics e traduzida para o inglês por Flora Thompson-DeVeaux esgotou-se em apenas um dia, para espanto da tradutora e da editora. Flora atribuiu o sucesso não apenas à valorização de autores afro-descendentes, estimulada pelo movimento BLM (Black Lives Matter), mas principalmente pela complexidade da escrita machadiana, onde a ironia e as sutilezas psicológicas devem ser bem absorvidas para quem se dispõe a ler ou a traduzir para outros idiomas. 

Machado de Assis é comumente descrito como tendo uma alma inglesa, por sua elegância de estilo e adaptar o estilo de Laurence Sterne, escritor inglês do século XVIII, apesar de sua origem pobre e nascer como filho de uma lavadeira e um pintor de paredes. Seu livro Memórias Póstumas foi o primeiro onde se pode notar o estilo maduro do escritor, inovando por trazer como um narrador-personagem um defunto, que dedicou seu livro "ao primeiro verme que roeu as frias carnes do meu cadáver". 

Há dois anos atrás, começou a ganhar popularidade quando 76 de seus contos foram publicados, ganhando destaque nas páginas do The New York Times com uma resenha elogiosa, lembrando que alguns escritores como Allan Ginsberg e Philip Roth entraram em contato com as obras do "bruxo do Cosme Velho" e se admiraram, comparando com outros gênios da literatura universal, como Franz Kafka e Samuel Beckett. 


N. do A.: Enquanto isso, o Brasil se reduziu a um "Covidistão", com mais de um milhão de casos (dos quais 520 mil se curaram, graças aos esforços dos profissionais de saúde, mas outros 48 mil pereceram), enquanto o presidente se preocupa muito mais com o filho acusado de corrupção e o ex-assessor deste, e os governadores mais os prefeitos atestam o fracasso de suas políticas contra o novo coronavírus. O que Machado de Assis escreveria, se vivesse na nossa época, na qual a literatura é vista apenas como assunto de intelectuais?

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