segunda-feira, 7 de junho de 2021

Da série 'Filósofos estudam o Brasil', parte 5

Santo Agostinho de Hipona viveu entre 354 e 430, no norte da África, então submetido ao jugo de Roma, que, em sua época, estava em séria crise e cujo poder foi esfacelado com a morte de Teodósio, em 395 e a divisão do império em dois. A província da África, situada no litoral das atuais Argélia e Tunísia, ficaram com o Reino do Ocidente, governado por Honório, filho de Teodósio, fraco e incapaz de administrar a crise, permitindo a invasão e o saque de Roma pelos visigodos. Estes acontecimentos influenciaram o pensamento de Agostinho, juntamente com a filosofia dos neoplatônicos de Plotino e o maniqueísmo, mas tomando o cuidado de nunca abandonar a ortodoxia cristã. 

Santo Agostinho, por Antonello da Messina (1430-1479)

Existem muitos freis da Ordem de Santo Agostinho no Brasil, assim como há instituições de ensino criadas por eles, como o Colégio São José, no bairro do Belenzinho, e sites como a Província Agostiniana (ver AQUI) e a Família Agostiniana no Brasil (ver AQUI). O santo dava especial valor à pedagogia como forma de preparar o ser humano e aproveitar seu potencial, como a obra máxima da Criação. Curiosamente, o "pai" da Reforma protestante, Martinho Lutero (1483-1546), foi um monge agostiniano antes de se rebelar contra o papado, assim como o biólogo Gregor Mendel (1822-1884), nascido na Boêmia (então província do império austríaco) e estudioso da genética. O frei Santa Rita Durão (1722-1784), nascido no Brasil e literato, também era agostiniano. 

Recentemente, os agostinianos iniciaram uma campanha contra a insegurança alimentar agravada pela pandemia de COVID-19. 

Sobre o Brasil, como o bispo de Hipona iria analisá-lo?

Estudiosos da obra de Agostinho talvez pudessem analisar o nosso país por meio da sua obra máxima, De Civitate Dei (A Cidade de Deus), onde ele analisa o pensamento dos antigos e os refuta, para defender a doutrina cristã. Ele também faz uma alegoria de uma cidade onde os habitantes se dedicam às causas mais elevadas, deixando de lado os prazeres terrenos, enquanto a outra, chamada de Cidade Terrena (também conhecida como Cidade dos Homens ou Cidade do Mundo), continua envolvida nas causas mundanas, onde não há harmonia nem ordem, e está sempre exposta ao perigo de cair nas tentações impostas por Satanás, o príncipe dos demônios; eventualmente, ira sucumbir ao mal e se tornar a Cidade do Diabo. 

Para os agostinianos mais tradicionais, o Brasil e outros países estão muito afastados do ideal religioso, devido à separação entre Igreja e Estado, mas muitos brasileiros querem obter conforto espiritual, seja na Igreja Católica ou nos templos de outros movimentos religiosos, sobretudo os neopentecostais. Eles veem com preocupação as atuais linhas de pensamento dos ditos "progressistas", coniventes com as deturpações morais, para eles causa dos mais diversos males no país. Para eles, esses são ideais influenciados pelos inimigos de Cristo. Os mais liberais, sem desprezar os desafios e perigos da vida moderna, preferem destacar a importância das obras de caridade para minorar o sofrimento de famílias vulneráveis. 

Um frei agostiniano expressaria preocupação com tantos males provindos da fragilidade do espírito humano, inclusive do brasileiro, mas segundo ele Deus intervém de alguma forma para assegurar a vitória da Cidade de Deus, e um dia o Brasil e outros países do mundo serão livres do pecado, enquanto a Cidade do Diabo será destruída com a derrota de Satanás e a destruição dos maus valores.  

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