Assistir à CPI da Pandemia é uma perda de tempo, por ser um espetáculo grotesco onde parlamentares sedentos por protagonismo se dão ao direito de agir como juizes, a fim de mostrarem o quanto são "severos" contra a negligência do governo.
Os participantes, notadamente o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator, o famigerado Renan Calheiros (MDB-AL), costumam intimidar os depoentes, convocados como testemunhas, como se fossem delegados de algum lugarejo, mas agora passaram dos limites. A doutora Nise Yamagushi foi tentar se explicar por que defende o tratamento precoce e o uso da hidroxicloroquina, e foi alvo da ferocidade dos senhores congressistas.
"Não acreditem nela", disse o presidente da CPI. E todo o esforço foi feito para expô-la da pior forma. As falas da médica foram interrompidas com frequência, como foi feito principalmente com ela e a dra. Mayra Pinheiro, funcionária do ministério da Saúde apodada de "Capitã Cloroquina". Curiosamente, integrantes do movimento feminista falam de manterrupting, neologismo em inglês para homens machistas e mal educados que não deixam suas companheiras ou interlocutoras concluírem suas falas, mas não há nenhuma manifestação contrária do movimento feminista contra a CPI.
Chegou-se até a apontar, de forma irônica, sobre o tom de voz dela, calmo e pausado, ao contrário da maioria dos depoentes, que usaram tom quase tão assertivo quanto o dos integrantes da comissão (inclusive a dra. Mayra).
A médica imunologista Nise Yamagushi depõe à CPI da Pandemia (Adriano Machado/Reuters) |
Realmente a doutora Nise não foi convincente no seu depoimento, mostrando dados contraditórios e questionáveis a respeito do tratamento precoce, mas não justifica o tratamento grosseiro dispensado a ela.
Este esforço em combater o descaso de Bolsonaro, seus ministros, funcionários e acólitos com a pandemia está dando aos telespectadores mais informações sobre os senhores senadores do que a respeito dos depoentes ou dos integrantes deste governo.
N. do A.: As próximas postagens desta semana tratarão de temas menos explorados do que a pandemia, a política e o futebol. Já estão abordando o assunto ad nauseam em outros veículos da Internet.
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