Enfim, chegamos aos tempos modernos dos quadrinhos, a "nona arte", sempre vista como coisa de criança, nerd ou colecionador, e agora como algo próximo da decadência.
Críticos do "politicamente correto" enxergam os trabalhos atuais como "lacração" pura, destinados a agradar determinados nichos, como feministas ou homossexuais. E isso está acelerando o processo de decadência. Eles não aceitam o Jon-El (o novo Superman) namorando outro homem, assim como o Robin (Tim Drake) confirmando as piadas sobre o companheiro do Batman, cujo alvo, no entanto, era o Dick Grayson, agora o "pegador" Asa Noturna. Acham uma indecência a abordagem da vida do filho da Feiticeira Escarlate, o Wiccano, que namora o imperador dos Skrulls, Hulkling, ambos alvos da fúria tradicionalista quando foram mostrados se beijando em 2019. Também não gostaram de uma versão homossexual do Capitão América, ou do "excessivo" destaque para a Capitã Marvel (Carol Danvers), considerada uma feminista, assim como a Mulher Maravilha, agora convertida numa semideusa.
A Marvel, atualmente, tenta emplacar certas ideias, como um Capitão América gay e defensor das minorias, bem longe da figura "tradicionalista" de Steve Rogers (Marvel Comics) |
Próximos desses críticos, os leitores tradicionais de quadrinhos também estão detestando os rumos das histórias. Heróis tradicionais são simplesmente deixados de lado ou sofrem mudanças bruscas. Não há consenso sobre, por exemplo, os X-Men viverem isolados na ilha de Krakoa, ou as diversas versões dos outros personagens da Marvel, como o Thor ou o Hulk. Ou, como está acontecendo na "Distinta Concorrente", os heróis mais tradicionais foram simplesmente mortos por uma horda de vilões capazes de destruir todos os Universos, comandados pela "Grande Escuridão".
Atitudes agressivas e viris parecem se transformar em coisa do passado, dando lugar à "conscientização" ou woke. Ninguém sai por aí socando o Trump ou o Putin. Eles são satirizados nas histórias como líderes defensores de valores retrógrados, sem serem importunados por outros valentões que preferem resolver as diferenças na "porrada", como na época da II Guerra Mundial.
Outro aspecto que não encontra unanimidade é a abordagem quase como de "fim do mundo", onde demônios, zumbis e entidades capazes de recriar realidades no Multiverso (como Kang ou os Illuminati da Marvel) parecem comandar os destinos dos heróis e vilões, sob pena de simplesmente todos se transformassem em monstros ou serem apagados da existência num abismo nietzschiano.
Para quem acompanha a trajetória dos seus personagens favoritos, fica a impressão de haver versões demais e nenhuma coerência entre elas, sem rumo certo. As gerações mais novas parecem acompanhar os super-heróis por meio do cinema ou da televisão, onde a Marvel, graças ao UCM, ainda está em vantagem frente à DC. Esta última está tentando fazer ajustes, e até consegue, com alguns trabalhos como Batman e Pacificador, mas ainda sofre. E os enredos sofrem dos mesmos problemas dos quadrinhos, descartando o aspecto apocalíptico para não estragar (demais) a essência "family-friendly".
Qual será o futuro dos super-heróis? É o mesmo do resto de toda a criação humana, ou da própria espécie Homo sapiens. Tudo incerto.
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