quinta-feira, 21 de julho de 2022

Estranha semelhança

O filme Elvis é considerado um sucesso de público e crítica, embora a biografia do "rei do rock'n roll" contada a partir do ponto de vista de seu empresário, Tom Parker, o famigerado "Coronel" interpretado por Tom Hanks, seja considerada muito focada na lenda e pouco na pessoa chamada Elvis Presley, encarnado por um espantoso, digno de um Oscar, Austin Butler. 

Essa lenda foi construída a partir de uma das histórias para explicar o visual extravagante do ídolo, com suas botas, roupas esquisitas, adereços com raios e as iniciais TCB (Take Care of Business) e o imortalizado topete. Ele teria se inspirado num personagem de histórias em quadrinhos durante a Era de Ouro, o Capitão Marvel Jr. 

Em postagem recente, o companheiro de aventuras e discípulo do Capitão Marvel, agora chamado de Shazam, foi citado. Ele era da Fawcett Comics, e atualmente pertence à DC Comics, agora com o nome de Shazam Jr., muito diferente em relação ao original. A versão da Era de Ouro era um jornaleiro adolescente forçado a amadurecer por conta da deficiência física (contraída após um ataque de seu pior inimigo, o Capitão Nazista), da miséria e da II Guerra Mundial. Agora o jovem herói tem comportamento de "aborrecente" e cabelos loiros (embora a versão do filme Shazam!, interpretada pelos atores Adam Brody e Jack Dylan Grazer, seja morena como antigamente). Uma das poucas características mantidas é ser paraplégico, quando não está na forma heroica. 

A versão antiga que encantou o imortalizado roqueiro nascido no Mississipi tinha feições muito parecidas com o cantor, sobretudo quando desenhada pelo cartunista Bud Thompson (1905-1980), um inglês que modificou os traços do jovem Marvel Jr., em relação aos desenhos do criador do personagem, Mac Raboy (1914-1967), em 1941, deixando-o mais cartunesco para histórias mais leves feitas no pós-guerra. O adolescente era um precursor do Superboy, da National Publications, atual DC, criado em 1949. A editora do Superman tinha uma longa rixa com a Fawcett após acusar o Capitão Marvel (o sênior, com roupa vermelha) de ser uma imitação de seu principal super-herói. 

Não havia como dizer que o personagem fictício era o Elvis Presley, na época das publicações. Em 1953, último ano da revista "Captain Marvel Jr.", Elvis tinha apenas 18 anos e estava no início da carreira. 


O Capitão Marvel Jr. parecia um jovem Elvis com os poderes concedidos por Shazam (DC Comics/Divulgação)

Com a falência da Fawcett, as aventuras da Família Marvel, da qual pertence o jovem Marvel Jr., deixaram de ser publicadas, mas voltaram vinte anos depois com a licença adquirida pela velha inimiga da Fawcett, a DC, mas esta ficou impedida de usar "Capitão Marvel" na capa, devido ao registro desse nome pela Marvel a partir de 1967, durante o tempo do sumiço dos personagens "empoderados" pelo mago Shazam. O pobre e desafortunado personagem, que em sua forma mortal e vulnerável se chama Freddy Freeman, recebeu mudanças significativas, deixando de gritar "Capitão Marvel" e passar a evocar "Shazam" como faz o amigo Billy Batson. No entanto, ele nunca mais teve histórias relevantes, mas, de antigo ídolo de Elvis, tornou-se fã dele em algumas histórias. 

O imortal "rei do rock", por outro lado, passaria a ser mostrado nos quadrinhos de várias editoras, inclusive a Marvel, que fez uma história curiosíssima sobre ele na série What if...? (este blog vai abordar esse assunto em breve). Participou de inúmeros filmes, como Viva Las Vegas, e após o fim de sua curta vida sua biografia teve várias versões para o cinema, mas só a atual (da Warner, dona da DC) deixou explícita a história do ídolo da juventude no século XX como um fã de um personagem fictício. 


N. do A.: Enquanto isso, a mídia faz destaque à violência no Rio de Janeiro, com mais uma carnificina no Morro do Alemão. 17 moradores, alguns deles envolvidos com o tráfico de drogas, foram mortos durante tiroteio com a polícia. Um PM também perdeu a vida. Acabar com esta sina não requer o trabalho de super-heróis, mas de uma política realista baseada em inteligência, estratégia e fatos, não em ficção. 

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