O resultado oficial das urnas segundo o critério da divisão por municípios mostra um perfil mais detalhado. No mapa abaixo, é possível notar áreas, às vezes vastas, onde o atual presidente Bolsonaro venceu, mesmo em Estados onde ele foi derrotado, como é o caso do sul do Pará e o oeste de Minas (inclusive boa parte do Triângulo Mineiro).
Em azul, as regiões onde houve a vitória de Bolsonaro; Lula venceu nas áreas em vermelho (Divulgação/CNN) |
Por outro lado, São Paulo, a maior cidade do Brasil, deu mais votos ao ex-presidente Lula do que ao atual presidente, devido aos votos na maior parte da Zona Sul, na extrema Zona Leste e mesmo em áreas com maior poder aquisitivo, como Pinheiros, Perdizes e Butantã, na Zona Oeste, e no centro.
Boa parte da capital paulistana, inclusive o Centro e a região da Faria Lima (Pinheiros) votou em Lula (Divulgação/Folha de S. Paulo) |
A diferença mínima de votos, pouco mais de 2 milhões (pequena o suficiente para fazer conjeturas a respeito da capital paulista, se ela e mais algumas cidades tivessem dado mais votos para Bolsonaro) e as acusações (sem provas, embora com muita margem para suspeitas) de fraude eleitoral deixou muita gente frustrada.
Boa parte dos caminhoneiros havia apoiado Bolsonaro desde antes da grande paralisação de 2018, e voltou a parar as estradas, como protesto contra a eleição de Lula. Curiosamente, André Janones era um dos líderes e agora é um aguerrido apoiador de Lula, inclusive espalhando notícias falsas durante a campanha. Porém, outras lideranças mantiveram-se fieis à causa bolsonarista. Em 20 Estados, a maior parte deles onde o ex-capitão ganhou mais votos, houve protestos, apoiados por empresários e por uma parcela significativa da população. Em São Paulo, a Marginal Tietê ficou interditada parcialmente.
Bloqueio na BR-277, próximo a Foz do Iguaçu (Samuel Vasconcelos) |
Manifestantes protestam em rodovia do Rio Grande do Sul (Roberto Gardinalli/Futura Press) |
Protesto na Marginal Tietê (R7/Record) |
Algumas pautas mostram o grau de ressentimento e não conformidade com o resultado, para eles uma "marmelada". Uma delas é a "intervenção militar", eufemismo para golpe de Estado. Há uma interpretação simplista do artigo 142 da Constituição, sobre o papel das Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, e por iniciativa deste - ou do Congresso, ou do STF - pode mandar as tropas nas ruas a fim de garantir a lei e a ordem. Eles evocam o artigo 142 para respaldar algo inexistente na letra da lei, como o Executivo ameaçar o Judiciário com os tanques, algo imaginável em países como Cuba ou Mianmar (Birmânia), mas não em países onde as liberdades são mais consolidadas.
As manifestações em geral se limitaram a bloquear parcialmente as estradas, mas alguns queimaram pneus como aconteceu em 2018 e como costuma fazer os movimentos sociais pró-PT.
Houve pneus incendiados para bloquear a BR-163 em Mato Grosso (Divulgação) |
Enquanto isso, o atual governante da nação ainda não se pronunciou e os brasileiros, principalmente os manifestantes, estão esperando pela sua fala, que poderá acalmar os ânimos, ou acirrá-los ainda mais.