quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Peruanos se despedem (ou não) de Alberto Fujimori

Ontem, faleceu o político mais contravertido da história recente do Peru, Alberto Fujimori, aos 86 anos, adorado por uns e execrado por outros, na casa de sua filha, a também política Keiko Fujimori, candidata derrotada às eleições presidenciais de 2011, 2016 e 2021. 

Fujimori é considerado um dos expoentes da chamada "extrema direita", um termo impreciso ainda mais na América Latina. Foi engenheiro agrônomo e reitor da Faculdad Nacional Agraria La Molina, em Lima, antes de se candidatar como um outsider à Presidência da República, em 1990. Tinha um perfil considerado "antissistema", uma mescla do estilo de Collor com o de Enéas ou de Bolsonaro. E venceu o bem mais conhecido oponente, o escritor Mário Vargas Llosa. 

Governou constitucionalmente pelos primeiros dois anos, implantando medidas para conter a hiperinflação aplicando medidas "neoliberais", mas depois deu um autogolpe alegando querer combater p crime organizado e o narcotráfico, verdadeiros flagelos no continente. Dissolveu o Congresso, fechou o Judiciário e o Ministério Público e se tornou um verdadeiro ditador. Mandou capturar o líder do grupo terrorista Sendero Luminoso, Alberto Guzmán, que passou o resto da vida na prisão, até sua morte em 2021. Por outro lado, seus métodos considerados tirânicos levaram à morte de centenas de inocentes. Impõs a formação de um novo Congresso, para uma nova Assembleia Consitutinte, responsável pela redação da Carta Magna de 1993, que respaldava suas ações e lhe permitiu concorrer a um segundo mandato. "El Chino", como era conhecido, liberalizou o regime após uma eleição polêmica, vencendo o pleito contra o ex-secretário geral da ONU Javier Pérez de Cuellar. 

Alberto Fujimori (1937-2024), ex-presidente do Peru entre 1990 e 2000 (Handour/Prensa Fujimori/AFP)


O então ditador posava de moralizador, mas foi acusado de corrupção e foi flagrado dando uma caixa de diamantes à cantora russa Raisa Vasilieva, paga com dinheiro público. Isso o levou a ser processado por um Congresso que deixou de temê-lo e ele foi punido com o impeachment em 2000. Logo, as acusações de abusos contra os direitos humanos chegaram aos borbotões. Mas ele foi preso em 2009 unicamente por acusações de ter se apropriado do dinheiro público, dando US$ 15 milhões a seu chefe de segurança, Vladimiro Montesinos, além das condenações por assassinatos políticos. Recebeu uma pena de 25 anos, e no Peru não há os benefícios pelos quais os brasileiros condenados podem usufruir, como progressão da pena. 

Anistiado pelo então presidente Pedro Paulo Kuczinski, o PPK, outro nome execrado pelos "progressistas" da América Latina, e que também viria a perder o mandato após impeachment, conseguiu se livrar da prisão, mas não por muito tempo: a anistia foi anulada em 2019, e ele passou a cumprir o resto da pena na casa de sua filha, Keiko. Além disso, a doença, um câncer na boca, viria a martirizá-lo e provocou sua morte. 

"El Chino" foi velado na casa de Keiko e será enterrado com honras de chefe de Estado. Muitos compareceram ao velório, mostrando a sua popularidade considerável mesmo agora, mas outros relembram os abusos contra a democracia promovidos pelo ex-ditador. 

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