Pelé falou de Blatter, e por coincidência o dirigente da Fifa caiu. Mais uma para o folclore sobre o "rei do futebol" (Alexander Hassenstein/Getty Images)
Pelé, o melhor jogador da História, também é especialista em opiniões infelizes e palpites fracassados. Ele disse que o Brasil não seria campeão em 2002, a Argentina e a França iriam sobrar na mesma Copa - foram eliminadas na primeira fase - e apostou em uma seleção africana campeã a partir de 1990. Queria aproveitar o ufanismo mal-ajambrado na Copa de 2014 para dizer que o Brasil seria hexa (até esse blog havia "previsto" isso).
O que ele disse não foi bem um palpite, mas uma opinião. Infeliz, como sempre, que bem reflete sua falta de visão política, bem mais míope do que a visão futebolística ou empresarial. Para ele, Joseph Blatter era a melhor opção porque era o mais experiente. Comparado a um príncipe da Jordânia, Ali bin Al-Hussein, dentro do quesito "experiência" o "Rei" está certo. O filho do rei Hussein, presidente da Associação de Futebol da Jordânia, é visto por muitos como títere dos dirigentes da UEFA e de alguns representantes árabes.
Normalmente, as suas opiniões só contribuíram para desmistificar (e, às vezes, comprometer) sua imagem, mas jamais renderam "urucubaca" como seus palpites sobre os jogos, conforme o folclore. Desta vez, parece ser diferente.
Joseph Blatter, reeleito há menos de uma semana e pressionado pelos dirigentes do futebol, imprensa, patrocinadores, não aguentou e renunciou.
A gota d'água, diga-se, não foi o apoio de Pelé, mas o envolvimento de seu braço direito, o francês Jérome Valcke, no escândalo. Ontem, foi divulgado um documento de 2007 onde ele atendeu a um pedido de Jack Warner, então vice-presidente da Fifa, transferindo para as contas dele US$ 10 milhões. Warner usou o dinheiro para fazer pagamentos irregulares às federações nas Antilhas (ele é de Trinidad e Tobago, que fica ao sul da região), sob o pretexto de ajudar no desenvolvimento do futebol na região. Em 2004, os antilhanos haviam votado na África do Sul como sede da Copa de 2010. Warner é um dos investigados que não está preso a mando do FBI.
Durante o anúncio da renúncia, Blatter disse que vai convocar novas eleições, a serem realizadas no final deste ano ou começo de 2016. Até lá, ele continua no cargo. O príncipe da Jordânia será um dos candidatos. Michel Platini, o poderoso presidente da UEFA e ex-algoz do Brasil na Copa de 1986, é um dos principais beneficiados pela saída de Blatter, também poderá concorrer após ter anunciado candidatura em 2013 e não se increver no ano seguinte, ou apoiar outros candidatos.
É o fim de uma administração marcada por escândalos numa das maiores empresas do mundo, exercendo seu poder até sobre os governos (mesmo sendo uma entidade privada) de forma considerada ameaçadora à soberania dos países. Em seu longo período chefiando a Fifa (desde 1998), Blatter expandiu o futebol à Ásia e à Oceania, dando continuidade à gestão de João Havelange, presidente entre 1974 e 1998 e visto também como beneficiário de corrupção, assim como o genro deste, Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e atualmente sob investigação.
Até ontem Pelé dava apoio a "Sepp" Blatter, mas ele pode mudar de ideia quando novas provas de corrupção aparecerem. Enquanto isso, a Fifa irá (ou não) aproveitar a oportunidade para melhorar sua imagem diante dos apreciadores do futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário