segunda-feira, 20 de março de 2017

Ainda sobre a podridão

Por causa da repercussão extremamente negativa da Operação Carne Fraca, que revelou procedimentos inaceitáveis, como a adulteração de carne, o uso de produto em decomposição e as fraudes fiscais, cometidas por funcionários de empresas frigoríficas, o presidente Michel Temer foi obrigado a agir logo. 

No domingo, ele tentou tranquilizar o mercado consumidor brasileiro e no resto do mundo, dizendo que as fraudes são cometidas por uma pequena parte de funcionários e executivos, e não é uma prática corriqueira nos frigoríficos. O ministro Blairo Maggi, da Agricultura, criticou a Polícia Federal pois, para ele, do jeito que ela agiu, "a narrativa nos leva até a criar fantasias", usando até termos que não podem ser ditos para não agravar ainda mais a irritação contra o governo ("idiotice", "insanidade"), e defendeu os frigoríficos, como fez o seu chefe, Temer. E houve promessas para aumentar o rigor na fiscalização. 

Em Brasília, o Planalto ainda ofereceu carne aos embaixadores de países consumidores da carne brasileira, para reforçar a ideia segundo a qual não há problema de qualidade na carne exportada. De fato, o controle de qualidade dos produtos vendidos ao exterior passam por um controle de qualidade bastante rigoroso, para atender aos requisitos dos importadores. 

Mesmo assim, o estrago foi grande: China e Chile vão suspender a compra de carnes vindas do Brasil temporariamente, enquanto Europa, Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul já estão tomando providências a respeito. 

Salienta-se que a Polícia Federal fez o trabalho que lhes cabia, embora o sigilo das investigações e a má prática de se fazer vazamentos seletivos induzissem a imprensa a divulgar informações erradas, não dando "os nomes aos bois", para fazer um trocadilho infame sobre o tema, como se papelão no frango e carne estragada fossem problema de todos os frigoríficos investigados.

O papelão usado foi por conta de alguns funcionários da BRF Foods, para embalagem de frango; além disso, seria facilmente descoberto se fosse usado para fraudar o conteúdo. 

Carne de cabeça de porco e uso de produto vencido mascarado com vitamina C (ácido ascórbico) ou ácido sórbico (a informação é confusa: usaram um ou outro) foram práticas cometidas dentro de uma só empresa, a Peccin Agroindustrial - não confundir com a Peccin Alimentos, fabricante de doces totalmente isenta de qualquer irregularidade apontada pela Polícia Federal - e é também atos de funcionários corruptos e irresponsáveis, sendo obrigação dos investigadores terem provas que incriminem a empresa por supostamente autorizar uma prática tão abjeta. Enquanto isso, a Peccin Agroindustrial exerce seu direito de defesa.

A presença de salmonela (do tipo Saint-Paul) em um lote de carne da BRF é um fato isolado, embora grave, pois veio de uma das unidades sob risco de interdição, em Mineiros (Goiás), ainda em funcionamento por motivos suspeitos. Necessita de investigação cuidadosa. Outros lotes não foram considerados pela PF. 

Propinas e favorecimento de políticos precisam ser melhor esclarecidos. Quanto foi investido nessas práticas, quais os nomes, quem está realmente envolvido? Quem tem obrigação de responder é a PF, após apurar o caso. 

Eventuais problemas na qualidade de carne em supermercados e açougues, procedentes das empresas investigadas, NÃO estão no inquérito da Operação Carne Fraca. Isso é fruto de má conservação ou refrigeração, ou tentativa de vender produto encalhado. 

O problema de tudo isso não está no agronegócio, uma das bases mais importantes da economia brasileiro, e sim na rapinagem e desrespeito com os consumidores, dentro e fora do Brasil, cometidos por quem trabalha neste ou qualquer outro ramo. Não interessa a nenhum país digno de ser considerado fechar empresas, e sim coibir as malfeitorias que prejudicam a imagem delas e da economia local.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário