quarta-feira, 30 de junho de 2021

Metade do ano já se foi. E agora?

a) Que bom! Metade do ano se foi. Só temos a outra metade para aguentar!

b) Péssimo! Metade do ano se foi e ainda temos a outra metade para aguentar!

c) Relaxem, porque todo mundo morre e ninguém escapa da morte. Não necessariamente neste ano. 

d) Se esses golpistas tumultuarem com o governo do mito, será uma longa metade do ano! Mito!

e) Se o bozo não sair desse governo, será uma longa metade do ano! Fora, Biroliro!

f) Mais uma dessas séries "Jumento pergunta, asno responde" para encher linguiça? (Obs.: Seu Madruga e Seu Barriga não aprovam responder uma pergunta com outra pergunta)

g) Nem ligo! Mas se esses jovens disserem que calendário ocidental, como o nosso, é "cringe", eu surto!

terça-feira, 29 de junho de 2021

Da série "Filósofos estudam o Brasil", parte 8

Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679, sendo contemporâneo de grandes gênios de sua época, como Shakespeare, Galileu e Descartes. Sua filosofia política sofreu influências de Aristóteles, Tomás de Aquino e Maquiavel, continuando o desenvolvimento dos estudos sobre o Direito Natural (Jus naturale) e o Direito Legal. Para Hobbes, o ser humano é intrinsicamente mau, e para frear seus instintos é necessário estabelecer um contrato social, a fim de garantir uma sociedade harmoniosa e ordeira. Em Leviatã, sua obra-prima, ele defende o absolutismo monárquico para a manutenção da ordem, utilizando a figura do monstro marinho bíblico, protetor dos mais fracos. Hobbes considerava o estado de natureza como um desastre, pois a natureza perversa dos homens e a escassez de recursos conduziria a um estado de Bellum omnium contra omnes (Guerra de todos contra todos). 

Hobbes viveu numa época de grandes transformações políticas na Inglaterra, com a crise da monarquia, a ditadura de Oliver Cromwell e a restauração da coroa, que cederia poderes ao Parlamento dez anos após sua morte, em 1679


Imaginemos o velho filósofo analisando a situação do Brasil: 

Este país é um caso onde o Estado da Natureza ainda não foi superado totalmente. Há muitos casos de violência, assaltos, sequestros, mortes. E temos também a espetacularização deste estado de coisas, como se pode constatar neste escandaloso caso do bandido Lázaro. 

Tudo poderia ser melhor no Brasil se não houvesse essa valorização de comportamentos pérfidos. Querer levar vantagem, a qualquer custo. Mostra apenas que eu estava certo a respeito da natureza humana, pois "Lupus homini lupus" (O homem é o lobo do homem). 

O próprio governo parece defender a prevalência do mais forte, com suas atitudes a respeito desta peste que assola o país. Ele defende a tal "imunidade de rebanho", termo estranho pois estamos tratando de homens, e não de gado. Em um país com dimensões de um continente, isso levaria anos para se concretizar, à custa de muitas mortes, como infelizmente está a ocorrer. E, ao contrário de sua propaganda, não é assim tão intolerante com a corrupção, como mostra esse contrato suspeito para a vacina indiana. Felizmente, o instinto de preservação, mais do que a decência, os obrigou a suspender esse contrato. 

Penso que a monarquia seria uma forma de governo adequada para este país, como defendem alguns, inclusive os filhos do presidente. Ela poderia estabelecer um novo meio de vida para toda essa gente. Mas a monarquia deve se fazer presente, para a moralização dos costumes, que estão muito dissolutos. Ela se mostrou viável no tempo de D. Pedro II, e creio que um hipótetico futuro imperador deva se inspirar nele. E não deve temer o uso do Poder Moderador, para afirmar a autoridade da Coroa. 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Diálogo

Ser 1: Car%!@o! Que p$**a de lugar é este?

Ser 2: Você está no inferno, bandido!

Ser 1: Mas que m&*da! Credo! Não me diga que você...

Ser 2: Você, virgula, mísera criatura! Chame-me de majestade!!

Ser 1: E se eu não quiser?

Ser 2: Você não tem escolha, ser desprezível! Você me conhece! Eu sou o...

Ser 1: Não precisa falar! Eu já tô ligado!

Ser 2: Você fez de tudo para chegar até aqui! Sequestrou, matou, estuprou, traficou drogas, fez centenas de famílias sofrerem e ainda fez o Brasil gastar milhões na sua captura, fazendo a polícia de trouxa! Mwahahahahahaha!!!!

Ser 1: Foi o que eu sei fazer! Nasci muito pobre, pra não morrer de fome eu...

Ser 2: Papinho desses humanos que veem os bandidos como coitadinhos vítimas do sistema aqui não! Aliás, aqui ninguém é coitadinho!

Ser 1: Acho que tô ouvindo alguém chamar o senhor...

Ser 2: Você pode enganar muita gente, mas não a mim! E agora, vamos comemorar o seu dia!

Ser 1: Comemorar o que, maluco?

Ser 2: Você não se atreva a me tratar desse jeito! Senão você não vai para a festa!

Ser 1: Vai ter festa? Tô nessa!

Ser 2: A festa é temática LGBTQIA+ (cada sigla que esses humanos inventam!). Hoje alguns mortais comemoram a diversidade sexual! Hi! Hi! 

Ser 1: Eh, seu coisa ruim! Eu sou macho!

(Aparece um tipo bem estranho que atende ao sinal do Ser 2; chamemos o sujeito de Ser 3)

Ser 2: Quem disse isso? Aqui os estupradores conhecerão o outro lado da história. Se comeram "x" vitimas, vão ser comidos "100 x" por aqui. POR DIA! (Desvia o olhar enquanto solta uma gargalhada)

Ser 3: Senhor, o tipo escapou!

Ser 2: Não fique aqui parado! Mande procurá-lo e faça-o ir para a festa, porque o pessoal está esperando!

Ser 3: Sim, mestre! Vou chamar um reforço de 270 servos de Vossa Majestade! 

(Chama reforços aos gritos)

Ser 2: Meu De... digo... Meu Eu! Esse tipinho e sua mania de se esconder! (Vai sumindo aos poucos da cena, até a voz sumir). Mas eu acho essa praga, ou não me chamo... (a voz se torna muito baixa enquanto ele cita um monte de nomes). 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Millor me vem à mente

Millor Fernandes (1923-2012) foi um daqueles pensadores mal compreendidos, subestimados por terem nascido num país incipiente (e insipiente, também) em muitos aspectos. Como Machado de Assis ou Nelson Rodrigues. 

Millor, humorista, jornalista, analista e frasista - muitos "-istas", mas nenhum deles desabonador

Se vivo estivesse, faria 98 anos em agosto. E ele não iria gostar de certos acontecimentos atuais, além da terrível pandemia, da qual ele não tomou conhecimento por ter morrido antes. 

Em Goiás e no Distrito Federal, ainda continuam as buscas pelo criminoso Lázaro Barbosa, acusado por roubos, sequestros e ter dezenas de mortes nas costas, e todas as tentaivas de capturá-lo, em quase três semanas, fracassaram. E a mídia explorando à larga a caçada. Os crimes cometidos pelos bandidos andam muito repulsivos, como aconteceu em Saudades, a cidade catarinense onde bebês foram mortos. 

Um prédio de alto luxo em Miami desabou e soterrou centenas de pessoas. Isso não costuma acontecer nos Estados Unidos, mas aconteceu, e o prédio nem era novo para ser acusado de má construção. Isso também atraiu a atenção da imprensa, louca para abordar a tragédia. 

Ainda existem pessoas crentes na ausência de corrupção feita por membros do governo, apesar dos fortes indícios em contrário, como a suposta contratação de empresas de fachada para a compra da vacina Covaxin. Por enquanto isso é acusação de um deputado ressentido com o tratamento dado pelo presidente Jair Bolsonaro. Luiz Miranda, ele próprio alvo de inquéritos por estelionato. 

A chamada "geração Z", nascidos entre 1995 e 2000, é também chamada de "geração mimimi" pelos mais velhos das gerações "baby boom" (nascidos entre 1945 e 1964) e "X" (nascidos entre 1964 e 1981). Já está se dando ao direito de rotular ass gerações mais antigas, chamando "cringe" (vergonhoso) tudo o que não está na moda, na ótica dos "Z". 

Ele certamente repetiria sua famosa frase: 


"O homem é um macaco que não deu certo!"

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Lançado o Windows 11

A Microsoft resolveu descumprir a promessa de não lançar nenhuma versão nova do sistema operacional Windows e apresentou o 11 hoje. 

O novo Windows vai se parecer mais com os sistemas operacionais dos telefones celulares (Divulgação)

Com uma aparência mais limpa e o famoso menu "Iniciar" centralizado, e não mais no canto inferior esquerdo, o SO da empresa de Bill Gates será mais compatível com aplicativos do Android. Também há maior integração com o Xbox, o console de jogos da marca. Há uma barra para acionar os widgets, com as informações personalizadas de acordo com o perfil, e isso significa a coleta de mais informações pessoais por parte do sistema. A indesejada Cortana acabou ficando escondida, e só será ativada por intervenção do usuário. Pensando numa nova tendência, estimulada pela pandemia, o Microsoft Teams, para uso em videoconferências e reuniões virtuais, estará integrado à barra de tarefas. 

Infelizmente, o Windows, nos últimos anos, sempre foi um sistema pesado, e isso piorou. As exigências de memória, 4 Gb, se mantiveram (e muitos computadores vendidos no mercado vêm com apenas isso, o que significa travamentos e irritações constantes, necessitando abrir a máquina para instalar outro pente de memória, quando isso é possível), mas agora os computadores compatíveis precisam ter, obrigatoriamente, 64 bits (já é a maioria no mercado), 64 Gb de espaço mínimo e segurança com a versão 2.0 do módulo TPM (Trusted Platform Module, ou Módulo de Plataforma Confiável), instalado na placa-mãe, disponível apenas em PCs e notebooks recentes. Existe a opção de comprar o chip avulso, e isso significa um gasto extra para o usuário - bem menor do que adquirir um aparelho novo compatível, cujos preços ficaram absurdamente altos com a disparada do dólar e a crise no mercado de circuitos integrados provocada pelo coronavírus. 

Ou seja, no final o Windows 11 será para poucos aqui no Brasil, e quem tem um aparelho relativamente antigo com Windows 10 ficará sem suporte em 2025, segundo informações da Microsoft. Boa parte usa o Windows 7, teoricamente compatível para um upgrade, mas a grande maioria não atende os requisitos de hardware citados acima. No fundo, haverá tendência de piora na obsolescência das máquinas. 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

terça-feira, 22 de junho de 2021

Dólar volta a ficar abaixo dos R$ 5

Finalmente, depois de aguentar quase todo o período de pandemia (desde março de 2020!) com o dólar superando R$ 5,00, a moeda americana voltou a ficar abaixo disso, fechando hoje em R$ 4,96. 

Infelizmente, o motivo não é dos mais animadores: o mercado está prevendo altas expressivas na taxa de juros, o que atrai capital especulativo, mas deixa a dívida pública, atrelada à taxa Selic, ainda mais cara. O Banco Central constatou tendência de alta na inflação e, para contê-la, está fazendo os juros voltarem a subir, Por outro lado, quem investe no Tesouro Direto e tem contas na poupança são beneficiados, pois os rendimentos aumentam. 

A moeda americana ainda poderá oscilar fortemente nos próximos meses (Pixabay)



Nosso cenário ainda é de muita desconfiança, e o governo está tendo dificuldade para fazer avançar as reformas, desenvolver os projetos de infraestrutura e combater os efeitos da pandemia. As empresas estrangeiras estão saindo do país, quando o desejável, em um cenário normal, sem a COVID-19 para nos atormentar, seria o contrário. Até o Brasil ter condições de voltar a ser considerado um país propício aos investimentos, com notas mais altas concendidas pelas agências de classificação de risco, estamos sujeitos a ver fortes oscilações tanto no dólar quanto no índice Ibovespa, dependendo do capital especulativo e do cenário externo. Isso se não houver o chamado "The Great Reset", tema para várias teorias de conspiração e debates entre economistas e agentes financeiros. 


N. do A.: Em uma próxima postagem, será abordado o "The Great Reset", de forma mais ou menos aprofundada. 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Respiradores da Poli entram no combate à COVID-19

O Brasil ultrapassa a marca das 500 mil mortes, uma tragédia abominável em todos os aspectos. Nada será capaz de consolar as famílias dos mortos, enquanto as autoridades perdem tempo em discussões político-ideológicas, trocando acusações e mostrando dificuldades notáveis em conciliar a proteção à saúde da população e a atividade econômica. 

Nem tudo é negligência ou omissão. Os profissionais da saúde do Hospital Santa Lydia, em Ribeirão Preto, estão finalmente utilizando os modelos INSPIRE, respiradores projetados pela Escola Politécnica da USP, a Poli, agora autorizados para uso. A cidade é uma das mais afetadas pela pandemia, e estaria a ponto de mergulhar no lockdown, se não fosse o empenho das equipes médicas. 

O INSPIRE contribui para salvar muitas vítimas da COVID-19 (Erika Yamamoto, pelo Jornal da USP)

A fabricação dos respiradores teve alguns problemas, devido ao aumento do custo dos insumos e a necessidade de se sujeitar aos trâmites burocráticos, para conseguir o registro na Anvisa. O custo dos respiradores ficou em torno dos R$ 5 mil na versão final, sem considerar os impostos como o ICMS, porém ainda vai ficar significativamente mais barato do que os ventiladores mecânicos importados, cujos valores ultrapassam os R$ 20 mil. 

Aos poucos, cresce a requisição dos INSPIRE, inclusive em outros Estados, como Paraná, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Pernambuco. Para construí-los, a Poli recebe a colaboração da Marinha. 

Mais informações AQUI


N. do A.: Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro continua a sua guerra contra a imprensa, destratando uma repórter da Globo e chamando a emissora de canalha. Sobrou para a CNN Brasil, criticada por sua cobertura das manifestações de sábado, que mais uma vez reuniu milhares de pessoas, insatisfeitas com o governo Bolsonaro e muitas delas desejando a volta de Lula; eles culpam o governo pelo atraso na vacinação e pelas mortes, mas fazem isso enquanto se aglomeram. É um sinal do crescente descontentamento de parte da população, enquanto o governo administra a crise da pior maneira possível, só contribuindo para fazer o que todo dirigente latino americano típico faz: matar os pobres de fome e os ricos de raiva (parafraseando Carlos Lacerda) enquanto a COVID-19 não escolhe classe social para isso. 

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Da série "Filósofos estudam o Brasil", parte 7

Em 2009, quando o blog ainda era batizado como "Salada de Assuntos", foi feita uma entrevista fictícia com Niccolò Macchiavelli, vulgo Maquiavel, um dos filósofos mais proeminentes do Renascimento e o primeiro a analisar a política real e não a ideal, como fizeram antes Platão, Aristóteles e os pensadores medievais. 

Para ler a entrevista, clique AQUI

12 anos depois, o antigo "Salada de Assuntos" mudou de nome, as circunstâncias políticas mudaram, e temos aqui mais uma entrevista com o pensador. 

Busto de Niccoló Macchiavelli (1469-1527) no Palazzo Vecchio de Florença

Assuntos 1000: É um prazer termos aqui o grande Niccolò Machiavelli de volta. Para não lhe tomarmos muito tempo, gostaria apenas de deixar as suas impressões sobre o Brasil. 

Maquiavel: Em primeiro lugar, gostaria de reafirmar tudo o que foi afirmado neste espaço anteriormente. Um governante deve saber agir de acordo com o momento. É o que vocês, do século XXI, chamam de governança pragmática. Em segundo, vejo que as circunstâncias políticas desta nação mudaram, para pior. 

Assuntos 1000: Poderia ser mais específico?

Maquiavel: Indubitavelmente. O ambiente político piorou, em decorrência da avidez e da concupiscência dos governos anteriores, criando o ambiente favorável para movimentos de revolta. Confiante na sua visão política, o ex-presidente de vocês, conhecido mais pela alcunha de Lula, escolheu uma mulher completamente despreparada para lidar com o ambiente político. Não pelo fato de ser mulher, mas por ser politicamente inepta. Além disso, tanto o ex-presidente quanto os seus seguidores não fizeram questão de esconder suas más práticas, utilizando-se dos bens públicos como se fossem suas propriedades particulares. 

Assuntos 1000: Em seu tempo, isso era frequente. 

Maquiavel: Sim, e isso era encarado com normalidade em meu tempo, mas não no de vocês. Devemos analisar os costumes de acordo com as épocas. Mas, continuando, a corrupção continuava entre os partidários da então presidente Dilma, enquanto ela tentava, sem sucesso, vender sua imagem de gestora, mas tornando-se conhecida pelos seus desastrosos pronunciamentos, dos quais eu teria muito esforço para tentar compreendê-los. Os desvios prejudicaram a economia do país, inclusive no combate à fome e à miséria, uma marca do início do governo Lula responsável pela sua popularidade. Os movimentos contra a corrupção mostraram o descontentamento do povo, e muitos, naturalmente, engajaram-se de forma oportunista. 

Assuntos 1000: Isto sempre acontece na política, não só no Brasil. 

Maquiavel: Não devemos esperar o contrário. O atual presidente aproveitou-se do momento e utilizou-se da sua imagem de austeridade e defesa dos bons costumes, que foram negligenciados durante o que se costuma chamar de petismo. Havia o temor da degeneração política e econômica resultar no desastre da Venezuela, um país que cometeu o erro de adotar as irreais práticas comunistas, essa ideia criada para tentar corrigir a desigualdade entre pessoas naturalmente desiguais, no que eles chamaram de bolivarianismo, numa apropriação própria de gente fantasiosa, vendo estadistas do passado sob sua ótica distorcida. Estatizar tudo e tentar distribuir a riqueza entre a população é mais fácil num país menor e com economia menos complexa como a Venezuela, mas acharam possível isso acontecer no Brasil, um país gigantesco e complexo, onde boa parte da população não aceita o comunismo. 

Assuntos 1000: Quem achou possível a socialização da economia, os petistas então no poder ou os seus opositores?

Maquiavel: As pessoas alheias à complexidade do Brasil, das duas matizes políticas em conflito. No caso dos então opositores que mais tarde chegaram ao poder nas eleições presidenciais recentes, essa ideia se tornou uma arma política para a obtenção do poder. Os governantes antigos, entregues aos excessos políticos, tentaram resistir, mas os movimentos anti-corrupção tiveram o apoio de parte do poder público, que passou a revelar todas as fraudes e malfeitos. A presidente foi facilmente deposta, passando o poder para o vice-presidente, mas este também não despertou a confiança entre os defensores de melhores práticas políticas. Jair Bolsonaro era visto como capaz de atender a esses anseios, e soube aproveitar inclusive o atentado a faca do qual ele sofreu. 

Assuntos 1000: Há quem duvide deste atentado em Juiz de Fora, insinuando tratar-se de uma farsa. 

Maquiavel: Esta foi a versão apresentada pelos defensores do antigo status quo, mas a tese vencedora é a de um ataque real. Bolsonaro usou esta e outras armas para chegar ao poder, dentro das regras políticas vigentes em seu país. 

Assuntos 1000: Mas ainda não ficou claro sobre o porquê das circunstâncias políticas estarem piores, de acordo com a sua visão. 

Maquiavel: A polarização política entre os partidários do antigo e do novo governo foi aos poucos comprometendo as relações sociais e as discussões políticas, que nunca foram muito amadurecidas em seu país, se transformaram em brigas, O governo anterior poderia ter poupado recursos para melhorar a economia e a educação, mas não fez isso. E o atual se aproveitou desse momento para conseguir o poder, e uma vez nele, cercou-se de pessoas sem preparo nem conhecimento, não necessariamente mal intencionadas, com o afã de moralizarem a República. 

Assuntos 1000: Há indícios de crimes envolvendo alguns dos atuais ministros, como Ricardo Salles, do Meio Ambiente, acusado de envolvimento em contrabando de madeira. No seu entender, isso atrapalha a imagem do governo se vender como agente da moralização?

Maquiavel: Como deve compreender, um governo deve saber vender a sua imagem se quiser ser bem sucedido. Muitos estão notando incoerências entre o dizer e o fazer no governo Bolsonaro, apesar do seu empenho em sua defesa de uma "nova política", um termo vago mas ainda de muito apelo. Uma das coisas que noto é o desmantelamento dos movimentos anti-corrupção, que certamente ajudaram o presidente, mas agora estão sendo neutralizados antes de se voltarem contra ele. Mas o que faz o povo se sentir contente com seu governo é a situação econômica antes de tudo. E ela não melhorou, pois não foram criadas condições sustentáveis, durante a crise política, para evitar a piora da miséria e a volta da fome. Aliás, tudo piorou com a peste que está atacando o mundo em sua época, ceifando vidas, prejudicando as economias, levando à seclusão das pessoas, muitas delas arraigadas em sua visão de mundo, no que vocês chamam de bolhas sociais. 

Assuntos 1000: Esta é a pandemia de uma terrível doença respiratória, chamada COVID-19, capaz de se espalhar facilmente pelo ar e pelo contato direto. Até agora matou 500 mil pessoas apenas no Brasil. Qual o seu conselho para os brasileiros, após o hipotético fim da pandemia? E para o governo?

Maquiavel: Sabemos que epidemias não duram para sempre, e assim que esta peste cessar, os brasileiros deverão voltar às suas atividades normais, e abster-se de discussões inúteis movidas por visões de mundo estreitas e em desacordo com a realidade, e, sim, devem confiar na ciência de seu tempo. Deveriam se orgulhar de seus conhecimentos científicos serem mais sofisticados do que na minha época, o século XVI. Isso não significa defender cegamente os cientistas, apenas para contestarem seu governo aparentemente ignorante dos perigos desta peste, sem eles próprios, os críticos do mesmo governo, tomarem os devidos cuidados. Quanto ao presidente, ele está empregando seu repertório para manter a popularidade e manter o controle. Isso é natural de qualquer governante, cujo anseio é sempre manter-se no poder. Mas ele precisa avaliar bem os seus recursos para isso, e não se limitar apenas às palavras e aos discursos com seus simpatizantes, pois o grosso da população se deixa influenciar por ações, a não ser que o governante seja brilhante orador, e isso não é o caso neste seu país. Por fim, é curioso ver o presidente agir como muitos do século XVI, julgando-se imunes às pestes graças às suas convicções e procurando mostrar sua coragem enfrentando o perigo sem as defesas e os conhecimentos propícios. Isso costuma não dar certo. 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Um site sobre personalidade

Aparentemente, o tema "MBTI" desperta atenção, embora não seja muito explorado e seja tratado como uma pseudociência. 

Existe um site chamado Personality Database (clique AQUI), com vários personagens fictícios e pessoas reais classificadas segundo os critérios jungianos: extrovertido/introvertido (E ou I), sensorial/introvertido (S ou N), pensador/emotivo (T ou F) ou julgador/perceptivo (J ou P). 

Há também vários exemplos brasileiros, não só as celebridades tratadas neste blog. Alguns recebem classificações bastante diversas pelos internautas que exercem seu lado "psicólogo". 



quarta-feira, 16 de junho de 2021

Qual foi o assunto mais relevante da semana até agora?

 a) A repercussão dos motociclistas apoiando o presidente Jair Bolsonaro no último dia 12 e a promessa de novos movimentos neste sentido. 

b) O descontentamento entre lideranças dos caminhoneiros, irritados com o tratamento dado pelo governo, prometendo uma nova greve. 

c) A trajetória de alta dos juros, consolidada pela decisão do Copom de hoje: agora a taxa básica está em 4,25%, aumento de 0,75 p. p. em relação ao índice anterior. 

d) O dólar comercial flertando com o valor de R$ 5,00 - já estamos há mais de um ano aguentando a moeda americana acima desse patamar - devido à melhoria no cenário econômico global. 

e) A alta frequente nos combustíveis derivados de petróleo, devido aos preços crescentes do petróleo, anulando os efeitos da queda no dólar. 

f) O novo calendário da vacinação contra a COVID-19 antecipando as datas para imunizar a população adulta em São Paulo e outras cidades. 

g) As mudanças feitas na Lei da Improbidade Administrativa pela Câmara, que trabalhou com celeridade incomum e com empenho do presidente da Casa, Arthur Lira. 

h) A tramitação do processo de venda da Eletrobrás, com novas modificações no texto base e mantendo pontos polêmicos, como a criação de termoelétricas a gás. 

i) Os depoimentos da CPI da Pandemia, culminando nos jogos políticos entre Wilson Witzel, ex-governador do Rio punido com o impeachment, e os membros da comissão. 


N. do A.: Mais uma vez falando aqui em política ou pandemia neste espaço. Nas próximas postagens serão abordados outros assuntos. 

terça-feira, 15 de junho de 2021

Da série 'Filósofos estudam o Brasil', parte 6

Na Idade Média, o pensamento de Santo Agostinho foi consagrado pela Igreja Católica, cujo poder cresceu e se tornou dominante na Europa Ocidental. Como foi possível notar na postagem sobre o bispo de Hipona, ele foi inspirado no pensamento de Platão e seus seguidores. O desenvolvimento da doutrina levou à formação da Escolástica (de scholasticus, "pertencente à escola"). Uma vertente, mais fiel a Agostinho, empregava sua metodologia de ensino e pregava a supremacia da fé sobre a razão. Outra vertente, tendo como base o aristotelismo, reforçado pelos filósofos islâmicos como Averróis (1126-1198) e também pelo frade dominicano Alberto Magno (1206?-1280), foi estudada por outro padre e teólogo dominicano, São Tomás de Aquino, nascido em Roccasecca, uma pequena cidade da região de Aquino, centro da atual Itália, em 1224 ou 1225. 

São Tomás de Aquino (1225-1274) foi canonizado em 1323 (Detalhe do quadro "São Tomás esmaga os Heréticos", de Benozzo Gozzolli)


O pai do tomismo defendia maior importância da razão, sem renunciar à fé. Em sua obra-prima, Summa Teologica, defendia a obediência a três leis. Uma rege a natureza, e é necessária à sobrevivência, a chamada "lei natural". O comportamento humano, a punição dos delitos e a garantia do direito eram regidos pela "lei humana" ou "lei positiva". As regras de obediência à fé para se alcançar a salvação eterna constituem a "lei divina". Ainda há a "lei eterna", constituída pelos atos de Deus onisciente, sumamente racional. 

Os seres humanos, ao elaborarem suas leis, formadoras do Direito Positivo, devem estar de acordo com as regras da natureza (Direito Natural) e as da santidade (Direito Divino), para não correrem o risco de criarem Estados falhos e sujeitos ao mal. Estas leis são mutáveis e dependem dos costumes de um povo. Com o tempo, elas foram desenvolvidas pela ação dos juristas e dos pensadores subsequentes, principalmente Thomas Hobbes e John Locke, e foram perdendo a subserviência ao Direito Divino, mas não ao Direito Natural. 

Esta concepção influenciou as legislações de vários países, até hoje. Pode-se notar isso desde a Constituição dos Estados Unidos até a do Brasil. 

Todavia, pode-se notar um desacordo do cotidiano brasileiro com a filosofia tomista, defensora da observância às leis. Violência, criminalidade, violações dos direitos e desrespeito a qualquer código de conduta atrapalham a rotina do brasileiro, e há o mau costume de se tolerar o "jeitinho", a corrupção, a violação das regras. Esta condição seria um golpe para o teólogo, mais doloroso do que a queda de um galho de árvore em sua cabeça, condição que agravou a sua já debilitada saúde e o levou à morte, enquanto viajava para Lyon para participar de um Concílio ordenado pelo papa Gregório X. 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Fim da Ceitec

Poucos dias após anunciar o fechamento da Ceitec, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada, instalado no Rio Grande do Sul, o governo federal cumpriu sua promessa, sob consternação dos funcionários. O ato aconteceu no último dia 5, mas ganhou destaque somente agora.

Concebido no fim do século passado, a estatal ganhou forma durante o governo Lula e foi inaugurada em 2008, com a esperança de desenvolver a tecnologia nacional para os semicondutores. Apesar do empenho de seus gestores, a empresa foi sempre deficitária, e seus chips eram empregados basicamente em rastreamento de animais, além de um projeto para uso em passaportes eletrônicos.

Era a única fábrica do gênero cuja matriz se situava no Hemisfério Sul. Até mesmo a Austrália não tinha nada semelhante, dependendo quase totalmente de componentes estrangeiros.

A situação piorou com a crise do governo Dilma, destinando menos verbas para a pesquisa, e chegou a um limite no atual governo. Havia a possibilidade de privatizar a Ceitec, mas isso foi descartado. Também houve rumores de corrupção entre 2010 e 2016, desviando verbas para enriquecer alguns poucos, e isso foi investigado pela Polícia Federal, durante a Operação Silício, em outubro de 2020. Ainda não houve uma conclusão do caso. 

Muitos pesquisadores lamentaram o fechamento da Ceitec (Divulgação)


N. do A. 1: Enquanto isso, todas as fábricas de semicondutores estão com a produção comprometida devido à pandemia de COVID-19, prejudicando toda a indústria, cuja dependência dos circuitos integrados é crescente. 

N. do A. 2: Era para postar algo da série "Filósofos estudam o Brasil", abordando o pensamento de São Tomás de Aquino.


sexta-feira, 11 de junho de 2021

Enquete: em 2022 vamos ter um Dia dos Namorados normal?

a) Claro! Esse maldito vírus não vai atrapalhar ninguém em 2022. O problema é o dinheiro porque tudo está subindo e para comprar alguma coisa que preste vai ficar o olho da cara. 

b) Sim. O novo normal será ficar em casa e só sair usando máscaras! Viva a ciência! Viva a Globo! Fora negacionistas! Fora Bolsonaro!

c) Vamos pensar no aqui e agora! O negócio é deixar esses chatos pandeminions falando sozinho e aproveitar a vida, sem máscara e indo com a gata (o gato) para a balada! Se pegar o vírus, pelo menos a gente morre feliz!

d) Chegaremos a 2022?!


quinta-feira, 10 de junho de 2021

Da série 'Oitentolatria', parte 31 - Pelos poderes de Grayskull!

Um cult dos anos 1980 está de volta: o desenho He-Man e os Mestres do Universo

Já houve pelo menos duas versões do clássico de 1983, mas nenhuma delas capaz de superar o original. A Netflix promete, em julho, lançar algo um pouco mais fiel, uma continuação menos inocente da velha animação com as técnicas contemporâneas. No cartoon de 1983, havia limitações nos movimentos e muito reaproveitamento de cenas, mas tinha lá o seu charme. O enredo também era divertido, apesar de simples, baseado no velho dualismo do bem, representado pelo guerreiro de Etérnia e seus amigos, contra o mal, Esqueleto e seus lacaios. 

He-Man (direita) em cena contra o antologico vilão com cara de caveira, Esqueleto (Divulgação)


Na nova versão, haverá maior espaço para Teela, a capitã da guarda e filha de Mentor, o braço direito do rei Randor e amigo de He-Man. Ela também passará a descobrir - finalmente - que He-Man e o príncipe Adam são a mesma pessoa. No original, era óbvia e até risível a semelhança entre os dois, mas somente Mentor, o atrapalhado mágico Gorpo e a Feiticeira, guardiã do Castelo de Grayskull, guardavam o segredo da transformação. 

Recentemente, houve uma versão infantilizada da irmã de He-Man, She-Ra, mas não agradou devido à simplificação dos traços. Muitos com mais de 40 anos se lembram da heroína, suas roupas que deixavam as pernas à mostra e revelavam as curvas do corpo, além de ter muita valentia para enfrentar o terrível Hordak, o antigo mestre de Esqueleto. A versão de 2018 parece uma menina

Este cartoon vai aproveitar para lançar vários bonecos da Mattel, como aconteceu naquela década louca. Porém, não haverá a famosa dublagem de Garcia Jr. como o herói, e talvez nem a voz de Isaac Bardavid na voz de Esqueleto, e muito menos Orlando Drummond, este se recuperando de problemas recentes de saúde aos 101 anos, para dublar o feroz Gato Guerreiro. Provavelmente, nesta versão de 2021 o tigre não fala, ao contrário da versão antiga. 

Quem acreditou que não haveria Copa América?

Não havia como acreditar num gesto "revolucionário" dos jogadores e da comissão técnica contra a decisão da Conmebol de transferir a Copa América para o Brasil após a Colômbia e a Argentina se mostrarem sem condições de sediarem o evento. 

A mídia fingiu entusiasmo e a Rede Globo não escondia seu despeito por não ter os direitos de transmitir os jogos, e sim o SBT. Jair Bolsonaro teve parte ativa neste espetáculo e teria até falado com Rogério Caboclo, presidente da CBF, sobre a substituição de Tite por Renato Gaúcho ou outro técnico por sua postura a favor do "motim" dos jogadores. Se avançasse além disso estaria interferindo na entidade, algo proibido pela Fifa. 

No final, o elenco frustrou quem gostaria de ver algum "gesto grandioso" e lançou um manifesto mal redigido mostrando sua contrariedade com a Copa América no Brasil em meio à pandemia. Pensaram mais em seus egos do que nas vítimas da COVID-19. Nem uma criança que estivesse começando a torcer pela Seleção acreditaria em algo diferente. 

O único efeito concreto deste enredo foi o afastamento de Caboclo da presidência da CBF, mas não por iniciativa dos jogadores ou da comissão técnica, mas por uma ex-funcionária que o acusou de assédio moral e sexual. Somando as gravações segundo as quais o dirigente mostrava pouco respeito até pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, e o seu comportamento destemperado ao falar com os jogadores, sua imagem está arruinada e sua volta não dependerá dele, mas de alguma maquinação de Marco Polo Del Nero ou Ricardo Teixeira, ex-presidentes da CBF e ainda muito influentes. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

Péssimos exemplos

Na nossa tão mal falada América Latina, dois países estão indo para o caminho da falência política, onde já está a Venezuela. 

Peru e México estão dando mostras preocupantes de ruptura institucional e anomia, caminhos a serem evitados a todo custo pelo Brasil. 

Keiko Fujimori disputou a presidência com Pedro Castillo; os dois sofreram com índice altíssimo de rejeição (Cesar Bazan/Martín Mejia/AFP)

O primeiro enfrenta instabilidades desde a renúncia de Pedro Paulo Kuczinski em 2018, substituído pelo vice Martin Vizcarra, deposto por um impeachment dois anos depois. Manuel Merino, presidente do Congresso, assumiu, mas renunciou no mesmo dia, substituído por Francisco Sagasti. E agora, nas eleições, marcadas pela rejeição e pela polarização, o eleito foi um ex-membro do braço político do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, Pedro Castillo, disputando voto a voto com a filha do ex-ditador Alberto Fujimori, Keiko. Esta última acusa a eleição de fraude e não irá aceitar facilmente o resultado. 

Por sua vez, o segundo teve uma eleição parlamentar marcada pela morte de 96 candidatos e centenas de outros envolvidos no pleito, inclusive casos de mãos e até duas cabeças decepadas deixadas em locais de votação na cidade de Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos. 

Outros países correm o mesmo perigo, inclusive o Brasil. 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Da série 'Filósofos estudam o Brasil', parte 5

Santo Agostinho de Hipona viveu entre 354 e 430, no norte da África, então submetido ao jugo de Roma, que, em sua época, estava em séria crise e cujo poder foi esfacelado com a morte de Teodósio, em 395 e a divisão do império em dois. A província da África, situada no litoral das atuais Argélia e Tunísia, ficaram com o Reino do Ocidente, governado por Honório, filho de Teodósio, fraco e incapaz de administrar a crise, permitindo a invasão e o saque de Roma pelos visigodos. Estes acontecimentos influenciaram o pensamento de Agostinho, juntamente com a filosofia dos neoplatônicos de Plotino e o maniqueísmo, mas tomando o cuidado de nunca abandonar a ortodoxia cristã. 

Santo Agostinho, por Antonello da Messina (1430-1479)

Existem muitos freis da Ordem de Santo Agostinho no Brasil, assim como há instituições de ensino criadas por eles, como o Colégio São José, no bairro do Belenzinho, e sites como a Província Agostiniana (ver AQUI) e a Família Agostiniana no Brasil (ver AQUI). O santo dava especial valor à pedagogia como forma de preparar o ser humano e aproveitar seu potencial, como a obra máxima da Criação. Curiosamente, o "pai" da Reforma protestante, Martinho Lutero (1483-1546), foi um monge agostiniano antes de se rebelar contra o papado, assim como o biólogo Gregor Mendel (1822-1884), nascido na Boêmia (então província do império austríaco) e estudioso da genética. O frei Santa Rita Durão (1722-1784), nascido no Brasil e literato, também era agostiniano. 

Recentemente, os agostinianos iniciaram uma campanha contra a insegurança alimentar agravada pela pandemia de COVID-19. 

Sobre o Brasil, como o bispo de Hipona iria analisá-lo?

Estudiosos da obra de Agostinho talvez pudessem analisar o nosso país por meio da sua obra máxima, De Civitate Dei (A Cidade de Deus), onde ele analisa o pensamento dos antigos e os refuta, para defender a doutrina cristã. Ele também faz uma alegoria de uma cidade onde os habitantes se dedicam às causas mais elevadas, deixando de lado os prazeres terrenos, enquanto a outra, chamada de Cidade Terrena (também conhecida como Cidade dos Homens ou Cidade do Mundo), continua envolvida nas causas mundanas, onde não há harmonia nem ordem, e está sempre exposta ao perigo de cair nas tentações impostas por Satanás, o príncipe dos demônios; eventualmente, ira sucumbir ao mal e se tornar a Cidade do Diabo. 

Para os agostinianos mais tradicionais, o Brasil e outros países estão muito afastados do ideal religioso, devido à separação entre Igreja e Estado, mas muitos brasileiros querem obter conforto espiritual, seja na Igreja Católica ou nos templos de outros movimentos religiosos, sobretudo os neopentecostais. Eles veem com preocupação as atuais linhas de pensamento dos ditos "progressistas", coniventes com as deturpações morais, para eles causa dos mais diversos males no país. Para eles, esses são ideais influenciados pelos inimigos de Cristo. Os mais liberais, sem desprezar os desafios e perigos da vida moderna, preferem destacar a importância das obras de caridade para minorar o sofrimento de famílias vulneráveis. 

Um frei agostiniano expressaria preocupação com tantos males provindos da fragilidade do espírito humano, inclusive do brasileiro, mas segundo ele Deus intervém de alguma forma para assegurar a vitória da Cidade de Deus, e um dia o Brasil e outros países do mundo serão livres do pecado, enquanto a Cidade do Diabo será destruída com a derrota de Satanás e a destruição dos maus valores.  

sexta-feira, 4 de junho de 2021

130 mil pontos

O índice Ibovespa bateu recorde hoje, superando os 130 mil pontos, por causa dos sinais de melhora no mercado de trabalho norte-americano. 

Esta tendência de alta constante começou no mês passado, com a divulgação do crescimento do PIB acima do esperado - 1,2% no primeiro trimestre - e os sinais de recuperação econômica após a pandemia. 

Devemos comemorar este recorde, mesmo sem ter ações na Bolsa? Em termos. O desemprego continua altíssimo e milhões de famílias estão em vulnerabilidade econômica, enquanto a COVID-19 continua a vitimar milhares de pessoas por dia. Mas ao mesmo tempo mostra que o Brasil é um país mais resiliente do que muitos pensam, dependendo fundamentalmente de si para obter índices mais robustos a médio e longo prazo. Ou seja, uma infra-estrutura melhor, segurança jurídica, melhor educação para o povo, menor dependência do agronegócio (que continua fundamental para a economia do nosso país) e ausência de atos estúpidos por parte das forças políticas. 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Será que a baunilha é baunilha?

Sabe-se que a baunilha usada nos bolos e nos sorvetes não é obtida da vagem da planta chamada baunilha, ou Vanilla planifolia, uma orquídea rara de Madagascar, sendo matéria prima cara demais - 1 ktg de vagens para a obtenção da vanilina, o princípio ativo do condimento para doces, custa algo em torno de 500 dólares - e portanto impossível de ser empregada em larga escala. 

A essência de baunilha, definitivamente, não utiliza as vagens da orquídea chamada baunilha (Celestial Garden/Reprodução)

Por isso, correm rumores de uma origem bem diferente, digamos, para produção da vanilina: o castóreo, extraído das glandulas anais de castores. Será mesmo?

Apesar dessa história ser divulgada amplamente na Internet, obter o produto dessa forma também sairia muito caro, e envolveria a matança de uma grande quantidade dos roedores encontrados no Hemisfério Norte. 

A matéria-prima para a deliciosa essência é o guaiacol, um álcool obtido a partir da metilação do catacol, componente do alcatrão de certas madeiras, como o eucalipto. Ou seja, é mais provável que utilizem madeira queimada malcheirosa. Pelo menos é melhor do que algo ainda mais fedorento retirado do traseiro de animais - para alívio dos veganos. 


N. do A.: No Iêmen, país da Ásia Ocidental devastado pela guerra civil, foi encontrado o cadáver de um cachalote, animal marinho cujo vômito é uma fonte do "ambar gris", material valioso usado - comprovadamente! - para a fabricação de alguns perfumes finos. Os pescadores que localizaram o corpo do cetáceo não perderam tempo e tiraram de suas entranhas cerca de 125 kg da substância, avaliada em cerca de US$ 1,5 milhão (ou 1,1 milhão de libras, segundo o jornal britânico Independent UK. Parte do dinheiro foi para famílias vulneráveis empobrecidas devido à guerra. 

terça-feira, 1 de junho de 2021

O ponto mais baixo da CPI

Assistir à CPI da Pandemia é uma perda de tempo, por ser um espetáculo grotesco onde parlamentares sedentos por protagonismo se dão ao direito de agir como juizes, a fim de mostrarem o quanto são "severos" contra a negligência do governo. 

Os participantes, notadamente o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator, o famigerado Renan Calheiros (MDB-AL), costumam intimidar os depoentes, convocados como testemunhas, como se fossem delegados de algum lugarejo, mas agora passaram dos limites. A doutora Nise Yamagushi foi tentar se explicar por que defende o tratamento precoce e o uso da hidroxicloroquina, e foi alvo da ferocidade dos senhores congressistas. 

"Não acreditem nela", disse o presidente da CPI. E todo o esforço foi feito para expô-la da pior forma. As falas da médica foram interrompidas com frequência, como foi feito principalmente com ela e a dra. Mayra Pinheiro, funcionária do ministério da Saúde apodada de "Capitã Cloroquina". Curiosamente, integrantes do movimento feminista falam de manterrupting, neologismo em inglês para homens machistas e mal educados que não deixam suas companheiras ou interlocutoras concluírem suas falas, mas não há nenhuma manifestação contrária do movimento feminista contra a CPI.

Chegou-se até a apontar, de forma irônica, sobre o tom de voz dela, calmo e pausado, ao contrário da maioria dos depoentes, que usaram tom quase tão assertivo quanto o dos integrantes da comissão (inclusive a dra. Mayra). 

A médica imunologista Nise Yamagushi depõe à CPI da Pandemia (Adriano Machado/Reuters)

Realmente a doutora Nise não foi convincente no seu depoimento, mostrando dados contraditórios e questionáveis a respeito do tratamento precoce, mas não justifica o tratamento grosseiro dispensado a ela. 

Este esforço em combater o descaso de Bolsonaro, seus ministros, funcionários e acólitos com a pandemia está dando aos telespectadores mais informações sobre os senhores senadores do que a respeito dos depoentes ou dos integrantes deste governo. 


N. do A.: As próximas postagens desta semana tratarão de temas menos explorados do que a pandemia, a política e o futebol. Já estão abordando o assunto ad nauseam em outros veículos da Internet.