sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Da série 'Mondo Cane', parte 87

O autor deste blog jamais pensou em escrever sobre uma ópera causadora de internações hospitalares, mas estamos vivendo tempos grotescos. 

Fizeram uma adaptação "contemporânea" da ópera Sancta Susanna, de Paul Hindemith (1895-1963), Originalmente composto em 1921, era mais um trabalho relativamente convencional, dentro dos padrões da música da época, longe das ousadias de uma obra de Igor Stravinsky (1882-1971) ou Béla Bartok (1881-1945). Não havia sequer um traço da música serial criada por Arnold Schönberg (1874-1951) e seus discípulos. A versão original só ficou conhecida pela abordagem anticatólica de um convento. 

Resolveram "modernizar" a ópera, colocando elementos cênicos capazes de deixar a música totalmente em segundo plano. Sangue falso usado aos montes. E verdadeiro, também, de procedência duvidosa, dando margem a especulações Relações sexuais explícitas, com mulheres se esfregando na frente da plateia. E o uso de piercing pelas freiras, personagens do trabalho. 

Segundo a coreógrafa Florentina Holzinger, esta versão de Hindemith tinha a intenção de provocar debates sobre sexualidade feminina e espiritualidade. Como efeito colateral, gerou 18 casos de atendimento médico, pois muitos espectadores passaram mal. 

Uma das cenas mais "comportadas" da ópera encenada em Stuttgart, Alemanha. As mais fortes não podem ser exibidas neste espaço (Staatsoper Stuttgart/Youtube)


Se Hindemith tentasse colocar algo parecido em 1921, iria ser colocado na prisão ou num hospício. Pior ainda se fizesse isso em pleno regime nazista, que viria a ocorrer poucos anos mais tarde. Neste caso teria sorte se fosse "apenas" guilhotinado por produzir "arte degenerada" (termo usado pelos seguidores de Hitler para toda obra fora do gosto deles). 

Estamos vendo a gloriosa história da música alemã, considerada a melhor do mundo, ser destruída numa fúria iconoclasta digna de um "Estado Islâmico", ou até pior? Devemos considerar como certos os rumores segundo os quais isso é produto do identitarismo, do globalismo, do satanismo ou de outros ismos? Ou é a manifestação do mau gosto do nosso tempo?


N. do A.: O horror da peça citada é simulado, mas no Rio de Janeiro seis pessoas foram contaminadas com o vírus HIV, da AIDS, após receberem órgãos para transplante pelo SUS. É o horror real!

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