quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Mais um a deixar este mundo complicado

Morreu o boxeador Adílson Rodrigues, o Maguila. Quem cresceu ou viveu na década de 1980 o conhecia pelo jeito simples e "sem frescura", apresentando-se em lutas muitas vezes improvisadas com rivais de categoria duvidosa. Mais entretenimento do que esporte, numa época onde os brasileiros estavam aprendendo a valorizar algo além do futebol. 

"Maguila" (1958-2024) derrotou muita gente, mas não conseguiu vencer uma encefalopatia (Divulgação)

Seu apelido foi inspirado num gorila, personagem de desenho animado antigo, dos anos 1960, pela Hanna-Barbera. Isso não seria aceito hoje, ainda mais para apelidar um afro-descendente de origem humilde e semi-alfabetizado, mas na década de 1980 valia tudo e o pessoal não queria saber de "politicamente correto". O sergipano veio para São Paulo e começou a trabalhar cedo, como pedreiro, até ser descoberto por Luciano do Valle, um dos grandes incentivadores do esporte brasileiro, e foi atração do Show do Esporte, na Band. Sua técnica era limitada, mas na medida do possível isso foi corrigido com treinamento por Angelo Dundee, o treinador de esportistas conhecidos como Sugar Ray Leonard, e por Miguel de Oliveira, também um pugilista talentoso, mas na época já aposentado. 

Depois de vencer adversários de diversos calibres, enfrentou um desafio enorme, em 1989: Evander Holyfield. Foi nocauteado no segundo round, mas ainda gerava esperanças de se tornar um pugilista de nível mundial. Parou de lutar sem chegar a isso, mas não foi esquecido. Participou de programas como Aqui Agora, exibindo o seu jeito considerado "tosco" para falar de política, querendo nocautear os corruptos. Também fundou uma ONG para estimular crianças carentes a praticarem boxe. Mas enfrentou dificuldades, principalmente devido às sequelas dos socos que levou, desenvolvendo a temível encefalopia traumática crônica (ETC), mal semelhante ao Alzheimer e responsável pelo sofrimento e pela morte de muitos esportistas, como o também idolo do boxe Éder Jofre e o zagueiro Bellini, jogador da Copa de 1958.

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