domingo, 13 de julho de 2014

Da série 'Copa no Brasil, parte 30' - A Copa termina, mas o Brasil continua. E a Alemanha conquista a taça!

Na grande final, o time argentino tinha a missão de consagrar Messi, fazer dos anfitriões mais motivo de piada e ainda afastar a fama de serem fregueses dos alemães em Copas. Tudo ao mesmo tempo. 

Já os representantes da águia negra querem quebrar um tabu: europeu não consegue vencer na América. Também existe uma espécie de coincidência: geralmente, quando um time ganha do Brasil fora das finais, não leva. Foi assim nas últimas Copas:

1986: França desclassificou o Brasil nas quartas-de-final, mas o campeão foi a Argentina
1990: Argentina mandou o Brasil para casa nas oitavas-de-final, mas perdeu da Alemanha na final
2006: França desclassificou o Brasil de novo (antes havia vencido as finais de 1998) nas quartas, mas Zidane deu a cabeçada no Materazzi e a Itália ficou com o caneco.
2010: Holanda manda o Brasil para casa nas quartas, mas perdeu as finais para a Espanha.

Com a Alemanha, foi diferente. Ela triturou o Brasil, mas ao mesmo tempo conquistou a maioria da torcida dos anfitriões, só para a Argentina não levar. Mas isso vou comentar mais tarde.

Antes, vou fazer um breve comentário sobre a cerimônia de encerramento no palco da grande final, o Estádio do Maracanã. Mais uma vez a festa não encheu os olhos, mas pelo menos teve quatro destaques:

- A popstar colombiana Shakira, que ofuscou Carlinhos Brown (mesmo com um imenso cocar de pele-vermelha estilo Cavalo Louco) e Alexandre Pires, os artistas brasileiros companheiros de palco. Ivete Sangalo, aliás, também não agradou muito com canções feitas na virada do século.

- O guitarrista mexicano Carlos Santana, ainda em forma.

- A aparição da mascote, o Fuleco.

- A ausência da presidentA Dilma, constrangendo o chefão da Fifa, Joseph Blatter, cuja presença foi solenemente ignorada pelos presentes no Maracanã.

O tatu-bola mascote da Copa apareceu depois de faltar à abertura (Jefferson Bernardes/Vipcomm)

Depois do show, o jogo. Bem equilibrado, por sinal. O técnico argentino Alejandro Sabella resolveu montar um time bem retrancado, com cinco nomes na zaga e o meio de campo reforçando a defesa. Os alemães, mal acostumados com a balbúrdia da Seleção Brasileira, tiveram sérias dificuldades. Os rivais pareciam repetir a lição dada por Gana e Argélia, que deram bastante trabalho ao time de Müller e Schweinsteiger. Para impedir os contra-ataques argentinos, os representantes do Velho Continente tiveram de valorizar a posse de bola, numa espécie de "tiki-taka" adaptado para o estilo alemão.

Nas vezes que os contra-ataques argentinos conseguiram ameaçar as defesas germânicas, eles foram perigosos. Higuaín chegou a marcar um gol, mas estava impedido. Messi não estava mesmo inspirado e não ameaçou a área do goleiro Neuer. As tentativas dos alemães eram bem menos contundentes. Klose e Müller não assustaram Romero.

O juiz era o italiano Nicola Rizzoli, uma decisão temerária, pois ele, além de ser um árbitro europeu, como um dos times, ainda se mostrou uma escolha bem pouco sábia: ele deixou a pancadaria correr solta. Lances gravíssimos como a agressão de Agüero em Schweinsteiger e a joelhada de Neuer, em saída impetuosa demais, contra Higuaín, passaram em branco. Esta foi uma Copa onde boa parte dos juízes estava conivente com o anti-jogo - e sem esperança de que isso venha a melhorar nas próximas Copas.

Sem gols, a partida foi para as prorrogações. A Alemanha voltou a tentar furar a retranca argentina. A essa altura, o veterano Klose foi substituído pelo jovem Mario Götze. Ele fez a diferença nas prorrogações. O técnico Joachim Löw teria dito a ele uma frase motivacional ousada, instigando-o a provar que era "melhor do que Messi". Aproveitando uma brecha na defesa azul, ele chutou e fez um golaço aos 11 minutos da metade final. Nesta partida, ele foi melhor do que Messi.

O lance fez vibrar a mais poderosa pessoa alemã atual: a primeira-ministra Angela Merkel, que estava na arquibancada.

E a Alemanha ganhou o tetracampeonato.

Götze (à esquerda) comemora o gol que deu o tetra aos alemães (Getty Images)

Na cerimônia de premiação, Dilma finalmente apareceu. Sob vaias, ela entregou a taça de campeão do mundo a Philippe Lahm, o capitão do time alemão.

Dilma e Blatter ouviram as vaias enquanto Lahm recebe a taça (Getty Images)

Antes, havia as premiações da Fifa.

Neuer, merecidamente, ganhou a Luva de Ouro. A Bola de Ouro, em jogada político-mercadológica da entidade, foi para Messi. A escolha foi muito criticada por várias pessoas da área, entre elas Ronaldo Fenômeno, mas está de acordo com a filosofia da Fifa de dar bastante peso ao mercado da bola e não dar o prêmio a um jogador do time campeão. O melhor jogador da atualidade (que não mostrou esse status no jogo de hoje) deu a devida valorização ao prêmio (desdenhando-o) e disse que preferia levantar a taça de campeão. A Fifa mostrou a sua visão de futebol ao dar o troféu "Fair Play" para a Colômbia de Zuñiga e sua joelhada ao estilo MMA que tirou Neymar da Copa, bem diante da Dilma.

Messi (à direita) e Neuer com seus troféus (Pedro Ugarte/AFP)

Sem ligar para a tristeza dos argentinos, que se sentiram como se fossem vítimas de um "Maracanazo", os alemães comemoraram e fizeram até um gesto tribal, lembrando que eles foram recebidos por índios pataxós durante sua estada na Bahia, onde se refugiavam e treinavam para o torneio.

O time alemão comemora o tetracampeonato ao estilo pataxó (AFP)

A "Copa das Copas" terminou com a melhor seleção levando a taça. E vai deixar saudade, apesar da hecatombe sofrida por um certo time, que acabou perdendo seu comandante logo depois do término da Copa. Felipão não é mais o técnico da Seleção Brasileira. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário