terça-feira, 26 de maio de 2015

Livros de colorir para adultos

Estranho fenômeno nas livrarias, os livros para colorir estão em alta, desde o início deste ano. 

Há quem diga que isso é uma mostra da crescente "imbecilização" do brasileiro, particularmente os com renda suficiente para adquirir algo assim. Outros defendem a tese do aumento da angústia frente às crescentes dificuldades para resolver problemas pessoais: pagamento de contas, dificuldades no emprego, mortes ou doença na família. 

Abracemos a segunda hipótese, descartando a tese da demência, que não é exclusiva do Brasil, mas é mundial. Nos Estados Unidos, Europa (principalmente na Grã-Bretanha), Japão, China, Austrália, muitos aderiram. Logo, se o mundo enlouqueceu por causa disso, este post deveria ser incluído na série "Mondo Cane". Mas não é bem assim. 

Parece uma fuga da realidade, ao invés de tentar enfrentá-la. Com o dinheiro gasto nos livros e nos lápis de cor, é possível comprar, na própria livraria, algo mais instrutivo, como os clássicos da literatura e obras de grandes autores. Outras alternativas seriam os livros de auto-ajuda, porém eles estão em baixa, após o grande "boom" do início deste século. Esse tipo de literatura, também muito criticado pelos "intelectuais" e acusado de vender ideias simplistas como se fossem panaceias (a maioria dos livros, mas nem todos), pelo menos eram instrumentos usados para enfrentar a vida. 

Os livros de colorir não fazem isso. 

Eles agem como se fossem as drogas, que também são usadas como válvula de escape para os usuários, com a diferença de não violarem o Código Penal. São alternativas a quem não está interessado em passar o tempo jogando paciência no computador ou Candy Crush no celular. 

Se essa alegada "sub-literatura" é causada pela "dura realidade", algo está muito errado. nem tanto com os consumidores, taxados de "desocupados" ou "mentalmente limitados" por conta da mania. Os representantes eleitos também são co-responsáveis pelo êxito comercial desses livros, ao não cumprirem seus deveres. No caso do Brasil, eles poderiam deixar de ser um entrave para um futuro mais digno, sem tanta violência, corrupção política, privilégios injustos, impostos abusivos e mal gastos, escolas ruins e hospitais insalubres.

Não se pode criticar as pessoas por pintarem flores e passarinhos para matar o tempo. Só resta àqueles que não se dedicam a esse passatempo por dever de ofício torcerem para a mania ser como a maioria das outras - passageira - e procurarem demonstrar, pelo exemplo e não pela coerção, as vantagens de fazer outras atividades. 

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