terça-feira, 20 de março de 2018

A ideologia ofusca a discussão sobre a violência no Rio

Ainda repercute muito o caso da execução da vereadora Marielle Franco, um crime ainda sem solução e merecedor de justa indignação, mas infelizmente longe de ser o único caso de violência que assola o Rio de Janeiro. 

Existe a hipótese de que a vereadora do PSOL foi assassinada por gente contrária à intervenção federal, medida bastante combatida por ela, em resposta às forças federais. Boa parte do Rio estava entregue aos traficantes e às milícias, e o que sobrou sofre a influência avassaladora desses elementos, que constituem o "poder paralelo". Era necessário dar uma resposta a tudo isso. Colocar tropas para manter a ordem e mostrar que o Rio não podia ser refém da bandidagem era a melhor alternativa no momento. 

Gritaram e apontaram a medida como eleitoreira. De fato, a irrisória popularidade do governo federal parece ter aumentado, a ponto de novamente Temer se animar e mudar de ideia a respeito da se candidatar às eleições deste ano. Contudo, quase todos os políticos contrários à intervenção também querem votos, portanto também agem de forma eleitoreira. 

A maioria, não todos, também é partidária da teoria do "golpe", ao se referir ao impeachment de Dilma Rousseff que alijou o PT do poder central. Estes também querem dar a entender que a medida imposta ao Rio de Janeiro faz parte de uma trama para "destruir a democracia". A vereadora assassinada também falou algo parecido antes de receber os tiros. Agora, os militantes petistas e socialistas dizem que o crime fazia parte do "golpe" para silenciar a voz de quem, no entender deles, defendem as causas populares. 

Outros militantes, partidários de Jair Bolsonaro e outros da chamada "direita política", atiçam ainda mais o debate ideológico, ora dizendo que a vítima foi eleita graças ao crime organizado, algo que não foi provado e, portanto, constitui injúria, ora apontando seu envolvimento com nomes como Marcinho VP, entre outras invencionices. 

Um efeito colateral desse embate mórbido é relembrar casos horríveis e inaceitáveis, embora isolados, como a médica Giselle Palhares, também brutalmente assassinada na Linha Vermelha em 2016, mas tratada por adeptos de "fake news" como se fosse um caso de agora. Mortes semelhantes não costumam ser tão exploradas na mídia por muito tempo, a não ser para se fazer sensacionalismo ou desviar a atenção para outros casos igualmente graves, como os esquemas políticos para roubar NOSSO DINHEIRO. 

Enquanto os grupos de um ou outro lado continuam o alvoroço, os defensores de uma política de segurança pública para ser adotada a longo prazo não conseguem ser ouvidos. Eles não têm uma panacéia para enfraquecer de vez a violência que assola muitos brasileiros. Querem propor algo além dos termos "crime é consequência da injustiça social" ou "bandido bom é bandido morto", mas soluções mais eficazes, embora de efeito não tão imediato, se perdem no meio das teorias ligeiras, elaboradas para ganhar adeptos facilmente. Mais presídios? Melhor remuneração dos policiais? Mais educação de qualidade? Mudança de leis que não funcionam? Recursos tecnológicos? Melhor controle nas fronteiras do Brasil? Tudo necessário e não suficiente, mas são questões a serem consideradas por quem quer mais segurança. Mas enquanto se pensa em como aplicar tudo isso, que requer tempo e dinheiro, a demagogia e a ideologia eleitoreira continuam a dominar as discussões nas redes sociais.

So resta às pessoas comuns tentarem manter suas rotinas e terem esperança em dias menos violentos. A maioria da população carioca apoia a intervenção e quer viver normalmente, sem o risco de ser atingida por balas perdidas ou explorada pelo "poder paralelo".

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