quarta-feira, 28 de março de 2018

O Mecanismo, o atentado contra Lula, a Justiça e o sectarismo do nosso tempo

Setores do PT e dos partidos ditos "de esquerda" no Brasil protestaram fortemente contra a série "O Mecanismo", feita por José Padilha e transmitida na Netflix. Enquanto isso, o Partido dos Trabalhadores denuncia um atentado contra a caravana de Lula no Paraná, motivado possivelmente por sectários da chamada "direita". Por sua vez, alguns conservadores insinuam que o atentado é uma farsa. 

Acusaram "O Mecanismo" de ser uma fonte de "fake news", sabendo-se que é uma obra de ficção inspirada na realidade, e não um filme realista. Não há críticas somente ao PT e seus aliados, mas a todos os partidos e nomes envolvidos com a corrupção investigada pela Operação Lava Jato, inclusive emedebistas e tucanos. José Padilha foi acusado de "assassinar reputações", em alusão ao livro de Romeu Tuma Jr., notório adversário do PT, e Cláudio Tognolli, chamado de "Assassinato de Reputações". Isso parece mais uma tentativa de patrulhamento ideológico feito pelos petistas, dispostos a combater tudo o que não seguir a sua versão dos fatos, mesmo que seja uma história ficcional.

Por outro lado, quem atirou na caravana de Lula dá mostras de também ser um sectário praticante da misologia política, pois atacar o ex-presidente a tiros passa longe de ser uma atitude inteligente, pois é costume dos radicais quererem explorar os assassinatos para tratar as vítimas como mártires, como se viu no caso de Marielle Franco. Ameaçar a vida de quem quer que seja é típico de intolerantes e seguidores do autoritarismo e do totalitarismo, e não de defensores da nação. Isso vale também para aqueles que ameaçaram o ministro do STF Edson Fachin, conforme denúncia feita ontem pela GloboNews. Precisam saber quem praticou esses atos, e isso é tarefa da polícia e da Justiça. 

"Ora, a Justiça está podre", "a Justiça é comprada", "a Justiça quer soltar os corruptos", "a Justiça (a segunda turma do STF) rejeitou denúncia contra Romero Jucá", "a Justiça (Dias Toffoli, do STF) tirou o Maluf da Papuda", "a Justiça é conivente com Lula, o maior ladrão que este país já teve"... e outras frases daqueles insatisfeitos com a lentidão crônica e sistêmica da Justiça, ditos também pelos simpatizantes da "vingança como ato de Justiça (com as próprias mãos)", sejam eles defensores do petismo, do anti-petismo ou da Lava Jato. Mas fazer vingança, bloquear ruas, jogar ovos ou usar armas, de fogo ou brancas, não são alternativas. É imperativo tornar a Justiça mais eficiente, mas isso não se consegue na base da "porrada" ou do tiro. Requer tempo, paciência, conhecimento de causa e não ter aversão à lógica, ao respeito para com os outros (inclusive adversários políticos) e ao bom senso.

São requisitos não preenchidos pela maioria dos atores políticos.

Mas estão discutindo sobre o foro privilegiado (uma excrescência em desacordo com o princípio da igualdade jurídica) e a prisão após a segunda instância (que não é uma panacéia contra a corrupção e precisa assegurar os direitos dos atingidos à defesa e aos recursos judiciais). Não basta. A necessária punição aos corruptos e aos ladrões do NOSSO DINHEIRO, principalmente aqueles protegidos pelo foro e beneficiados pela ação de advogados bem pagos por eles não significa submetê-los às condições deploráveis da maioria dos presos. Também não significa que o grosso dos sentenciados mereça os confortos das celas destinadas aos condenados ricos, algo que a maioria da população, dentro da lei e fora das cadeias, não tem. É algo complexo, difícil de ser compreendido pelos sectários. E não pode ser implantado fora do Legislativo - sempre demonizado, mas é melhor ter deputados e senadores atuantes do que não ter - e do STF, como quer certos acólitos da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro.

Queremos um Brasil melhor e mais justo, mas o sectarismo pode nos trazer um país pior e ainda mais injusto, pelo menos a curto prazo. Querem fazer impor a misologia, o comportamento de manada, o fanatismo, o filistinismo, o "nós contra eles" e outras condutas mais típicas de países em guerra do que de nações consolidadas.

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