quinta-feira, 31 de março de 2016

O Brasil não vai (e não deve) reeditar 1964

Amanhã serão completados 52 anos do golpe militar realizado para derrubar João Goulart da presidência. Querem ainda nos convencer que a data do movimento foi no dia 31 de março de 1964, mas como já postei aqui, as primeiras manifestações dos golpistas foram na madrugada, quando oficialmente já era o tal "dia da mentira". 

Em 2016, há muito menos em comum com 1964 do que o governo quer nos fazer acreditar. Em comum, só a incompetência e falta de tato dos governos, além de uma visão populista sobre os brasileiros mais carentes: Jango antes e Dilma agora. A inflação não está tão alta quanto em 1964, mas a recessão, em 2016, é muito pior. Antes, havia a Guerra Fria; agora, a guerra ao terrorismo. As instituições são mais sólidas, o país é mais populoso e o povo não está tão alienado, embora ainda haja um longo caminho até ele adquirir uma consciência política mais solidificada. 

Jango só foi acusado de querer, falsamente, implantar o comunismo no Brasil, embora ele fosse um latifundiário em terras gaúchas. Dilma é acusada não de comunismo, mas de corrupção, obstrução da Justiça, crimes de responsabilidade ao ordenar empréstimos a bancos públicos (pedaladas fiscais) e conivência com um partido que denunciou o patrimonalismo de outras siglas mas o praticou de forma ainda mais acentuada. Ela é acusada de ter autorizado a compra da refinaria de Pasadena, embora isso ainda precise de fundamentação jurídica, ou seja, documentos e outras provas. 

Há 52 anos não se falava em impeachment. Em 2016, esta prática é regulamentada pela Constituição, com base no caso Watergate. Foi posto em prática em 1992, para destituir um presidente legitimamente eleito, mas que abusou do poder, sequestrou a poupança e se envolveu em corrupção, além de ter assinado cheques fantasma para pagar despesas pessoais, algo considerado crime de responsabilidade, mas atualmente irrisório perto do que foi feito agora. 

A oposição juntou-se aos militares em 1964 para depor Jango e causar uma ruptura institucional. Agora, a oposição quer os militares bem longe, na caserna. Ninguém com suficiente conhecimento de História quer uma ditadura militar, a volta da tortura, dos desaparecimentos políticos, da censura e das restrições às liberdades individuais. Nem o Jair Bolsonaro, considerado um neofascista, quer implantar uma agenda assim, quanto mais os outros líderes aclamados pelos chamados "coxinhas". 

Ou seja, 2016 será muito diferente de 1964. E os atores políticos até agora demonstram muito mais preocupação com o império da lei e a preservação da democracia, apesar dos excessos e das discussões acaloradas, muitas vezes movidas mais pelo fígado do que pelo cérebro. 

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