sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Protestos no Chile lembram 2013

820 mil pessoas reuniram-se próximo à sede do governo chileno, na Praça Itália, em Santiago (Muhammad Emin Canikq/Anadolu Agency/Getty Images)

Apesar das tentativas do governo chileno de minorar os efeitos causados pelos protestos, nada parece acalmar os manifestantes. Agora, eles tentaram invadir a sede do Parlamento e encheram a Praça Itália, a principal de Santiago, para pressionar o governo do presidente Sebastián Piñera. 

Como em 2013, no Brasil, o aumento nas passagens do transporte público é um pretexto para multidões externarem sua ira contra a política. Pautas se misturavam: o sistema de aposentadorias, as deficiências no sistema de saúde, as acusações contra as mortes durante os protestos (até agora, 18, segundo a subsecretaria do Interior, órgão oficial). As manifestações foram convocadas por meio das redes sociais. 

Os caminhoneiros também estão participando ativamente, mas aí a semelhança não é com 2013, mas com 2018, e foi motivada por razões diversas. Por aqui, era devido aos fretes, às facilidades ilusórias no financiamento dos caminhões e à excessiva dependência do Brasil em relação ao transporte rodoviário para escoamento de cargas. Em comum, "somente" o preço dos pedágios nas estradas e a radicalização política da categoria. 

Porém, o Chile não está vivendo uma crise decorrente da corrupção (ela é um problema sério no país e em qualquer outro no mundo, mas não chega a ser tão pantagruélico como foi no Brasil em 2013). Os problemas sociais, embora haja uma grande desigualdade de renda, não são tão graves quanto os do Brasil, da Bolívia ou do Equador. 

Outra diferença é o grau de violência entre as partes. Em 2013, eram grupos isolados, chamados de "black blocs", infiltrados nas manifestações em geral pacíficas, e a repressão aos movimentos foi pequena. Agora, estão havendo vários casos de depredações, incêndios criminosos, saques, motivando uma repressão mais dura. 

Não se sabe, ainda, como isso irá terminar, se Sebastiãn Piñera irá renunciar ou fazer mais concessões. Ele já aumentou, por exemplo, em 20% os vencimentos dos pensionistas. Por aqui, depois de uma resposta tacanha do governo Dilma, incluindo aí a criação do programa "Mais Médicos", algo que não fazia parte das reivindicações de 2013, houve a operação Lava Jato, o processo de impeachment e a campanha política de 2018, resultando na eleição de Jair Bolsonaro, um admirador confesso da velha ditadura, inclusive do antigo governo chileno - do general Augusto Pinochet. 


N. do A.: Por aqui, os assuntos políticos são vários, motivando reações exaltadas, mas longe da radicalização no Chile: julgamento da prisão em segunda instância no STF, a capa da revista Veja acusando o ex-presidente Lula de ter mandado matar o prefeito de Santo André em 2002, a capa da revista IstoÉ denunciando a família de Jair Bolsonaro, entre outras pautas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário