O Papa Francisco é alvo, atualmente, de várias críticas vindas dos setores conservadores da Igreja Católica e também de parte da mídia.
Ele é acusado ora de ser simpatizante do socialismo e adversário do capitalismo, ora de criticar aquilo que não compreende, por suposta ingenuidade, visão estreita da realidade mundana, ou particular entendimento do que seria a luta por justiça social.
Por outro lado, ele recebe o apoio dos setores progressistas da Igreja justamente por isso, o que não deixa de ser curioso.
Quando era o cardeal Jorge Maria Bergoglio, eram os setores progressistas que não simpatizavam com ele. Acusavam-no de leniência durante a ditadura militar argentina, uma das mais sanguinárias da América Latina no século XX. Essa tese, sem fundamento, foi defendida pela presidente Cristina Kirchner. A partir de sua elevação ao pontificado, a presidente aparentemente esqueceu a oposição, movida aparentemente pelo sentimento patriótico de ter um papa argentino. Daí em diante, Sua Santidade arrefeceu as críticas ao governo kirchnerista.
Cardeais e bispos da ala conservadora, por outro lado, não gostam das críticas do papa à Cúria Romana, tradicional corpo administrativo, taxada certa vez (no final do ano passado) de ter "Alzheimer espiritual", esquecendo-se das tarefas evangelizadoras, entre outros termos considerados muito agressivos.
Cardeais e bispos da ala conservadora, por outro lado, não gostam das críticas do papa à Cúria Romana, tradicional corpo administrativo, taxada certa vez (no final do ano passado) de ter "Alzheimer espiritual", esquecendo-se das tarefas evangelizadoras, entre outros termos considerados muito agressivos.
Setores da mídia que lamentam as atitudes do papa viam com simpatia os seus hábitos simples, de utilizar o transporte público, e sua disposição para reformar a Igreja. Porém, eles se incomodaram com as frequentes críticas ao capitalismo, bem mais frequentes do que as dirigidas contra as ideias marxistas que ainda permeiam parte dos sacerdotes católicos principalmente na América Latina. Também a encíclica Laudato Si, com preocupações ambientais, foi vista como um recado aos capitalistas. Os recentes discursos contra o capitalismo, chamado de "ditadura sutil", também foram mal ouvidos, embora em tese não contrariem a doutrina social da Igreja, que sempre desestimulou o materialismo.
Um episódio incomodou mais do que tudo isso: em sua viagem à América do Sul, durante passagem na Bolívia, o papa recebeu como presente de Evo Morales uma estranha cruz em formato de foice-e-martelo. Morales é visto como um ditador populista que faz pastiche das ideias do marxismo e de Bolívar para tentar se perpetuar no poder.
Evo constrangeu o papa com a sua "cruz" (Osservatore Romano/Reuters)
O objeto, considerado herético pela doutrina católica, desagradou o papa, que não o recusou para não tentar ofender o anfitrião. Seria uma reprodução de um jesuíta espanhol, Luís Espinal, trucidado pela ditadura boliviana aos 48 anos, em 1980. Espinal era vinculado à Teologia da Libertação, ramo da Igreja progressista que mesclava o socialismo com a doutrina social da Igreja.
Por causa do "regalo", muitos criticaram o papa, acusando-o de ser simpatizante dos "vermelhos", deixando de lado o fato do pontífice não ter gostado da mistura de cruz com o símbolo máximo do comunismo.
Este episódio é mais uma mostra das dificuldades sofridas por uma Igreja que perde fieis para os pastores evangélicos e o Islã, enquanto está mergulhada em disputas que remetem à velha Guerra Fria. O esforço para a reforma da Igreja e de seu caráter evangelizador, e a recorrente defesa das posições tradicionais contra o aborto, a pedofilia e os desvios de comportamento dos padres, deve se sobrepor às ideologias políticas. Este é um trabalho que cabe à assessoria de Francisco, o "papa dos pobres".
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