quinta-feira, 16 de julho de 2015

Uma falsa sensação de anarquia no Brasil

As paixões políticas vigentes no Brasil estão acirradas, a ponto de se ter uma sensação incômoda: o Brasil se transformou numa espécie de torcida, onde os líderes das organizadas estão se digladiando entre si, com direito a balas perdidas e rojões atingindo inocentes. 

No entanto, a realidade não é bem essa. 

A Operação Lava-Jato está agindo com eficácia inédita para um agente da Justiça aqui no Brasil, com certo açodamento e pirotecnia, mas em geral o trabalho é digno de nota. Tiveram a coragem de investigar as atividades de ninguém menos que Luís Inácio Lula da Silva, o ex-presidente, e suas ligações com a Odebrecht em obras feitas no exterior: Cuba, Venezuela, República Dominicana e Angola. Por enquanto a investigação está só no início e não há provas concretas, mas algo de novo irá acontecer. 

Por outro lado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros ameaçaram retaliar o PT, devido aos seus nomes serem citados na chamada "lista de Janot", ou seja, os políticos acusados de envolvimento no Petrolão pelo ex-procurador geral da República. Cunha, em discurso, praticamente reduziu a aliança com o partido de Dilma a mera formalidade. Enquanto isso, Renan mandou abrir duas CPI's, a dos fundos de pensão e a do BNDES.

Deputados ligados ao governo, mais o PSB, fizeram um grupo para protestar contra o suposto "autoritarismo" de Eduardo Cunha, acusando-o de impor uma agenda particular à Câmara. Porém, não deixaram claro quais as violações feitas por Cunha ao regimento. Parece mais uma questão ideológica, pois o peemedebista tem ideias conservadoras demais para o gosto do grupo. 

Pode parecer que o Brasil será assolado por uma crise política equivalente a um terremoto de magnitude 9 na escala Richter. Contudo, as instituições ainda funcionam, as pessoas (ainda) estão levando uma vida considerada normal, os índices de inflação e queda do PIB ainda são considerados administráveis, embora altíssimos, o número de saques a supermercados e lojas não é digno de nota (isso é bom) e há pouquíssima gente se manifestando (isso não é necessariamente bom).

Ninguém está pegando em armas para fazer uma revolução, mesmo porque vigora o Estatuto do Desarmamento (a vigência de estatutos é mais uma prova de que o Brasil não pode ser considerado fora de controle) e apenas uma minoria pensa, a sério, em mandar a Dilma e seus asseclas para a guilhotina.

Muitos falam do risco do Brasil se tornar a Grécia, ainda mais porque a Moody's está na iminência de deixar o Brasil mais próximo de perder seu grau de investimento com um rebaixamento quase certo em sua nota (por enquanto, Baa2). Diferenças gritantes na diversidade econômica, PIB, população economicamente ativa e, principalmente, área ocupada (a Grécia é um naco de terra perto do Brasil) inviabilizam o argumento.

Isso é só reflexo de uma crise forte, que assola a política, a economia e a vida de todos nós. Como toda crise, ela terá fim, e o Brasil continuará existindo, pois ela está bem longe de ter o poder de destruição apregoado por muita gente. 

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