Será sensato tecer vivas ao futuro rei Felipe VI, filho de Juan Carlos I?
Antes de responder a essa pergunta, vale lembrar sobre os 45 anos de reinado de Juan Carlos, rei dos espanhóis, que assumiu a chefia de Estado após uma longa ditadura, a de Francisco Franco, morto em 1975. Apesar de colocado no trono em 1969, nos seis primeiros anos o cargo era decorativo, pois o então jovem Juan Carlos não podia confrontar o poderoso líder fascista. Depois do fim do franquismo, o descendente dos Bourbon ouviu os súditos e restabeleceu a democracia, permitindo que o poder seja exercido por um primeiro-ministro. Ambos ficaram sujeitos a uma nova Constituição, feita em 1978.
Durante seu reinado, ele participou de várias conferências envolvendo Espanha e os países latino-americanos. Num desses encontros, ele se irritou com as interrupções do então presidente da Venezuela Hugo Chavez ao discurso do primeiro-ministro José Zapatero, e ordenou ao caudilho para que se calasse. O fato, ocorrido em 2007, aumentou a popularidade do rei no exterior, exceto na Venezuela e nos países governados pelos discípulos de Chavez.
Sete anos antes da abdicação, o rei mandou o finado Hugo Chavez se calar, em uma conferência feita em Santiago de Chile.
Outro episódio digno de nota foi o costume de fazer caçadas, quando no mundo todo há a preocupação em preservar as espécies em extinção. Juan Carlos manteve a tradição milenar, mas em território alheio: foi até Botswana, país no sul da África, caçar elefantes. Caiu, quebrou a bacia e ainda ouviu milhares de protestos, em 2012.
A preocupação com o "bolivarianismo" nas ex-colônias na América e a imagem frente à opinião internacional não foram os assuntos que mais preocupavam o rei. O terrorismo representado pelo grupo separatista basco ETA fez centenas de mortes. Recentemente, em 2004, houve um terrível atentado no metrô de Madrid, mas este nada tem a ver com os bascos, e sim com a al-Qaeda, o famoso grupo então chefiado por Osama bin Laden. O ETA só viria a silenciar em 2011.
O medo dos radicais bascos seguiu-se à campanha crescente para a separação da rica região da Catalunha, leste da Espanha. Boa parte dos catalães recusa-se a se expressar em castelhano, falando sempre no idioma local, que é bem diferente do espanhol e do português, os principais idiomas da Península Ibérica. Com a renúncia de Juan Carlos, o movimento ganhou força.
Contudo, isso ainda dependerá do resto dos espanhóis, que podem organizar um plebiscito pela República. A ideia pode ganhar força, pois o até agora príncipe das Astúrias, Felipe de Borbón, não tem a mesma bagagem política do pai, preferindo os esportes e as atividades militares. Além disso, as monarquias são atualmente vistas como curiosidade histórica.
Felipe, príncipe das Astúrias, pode não resistir às pressões pela República, e ele só vai assumir o trono quando a abdicação for ratificada por meio de uma lei aprovada pelo Parlamento. Além do separatismo e dos republicanos, ainda há a crise econômica, que continua a fazer estragos no país, considerado um dos mais frágeis da Europa Ocidental. Por isso, até a sua coroação os espanhóis não têm muitos motivos para dizer "viva o rei Felipe VI".
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