quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Dilma saiu, mas a bagunça continua



Por 61 votos a 20, o Senado cassou o mandato de Dilma Rousseff, como a maioria da população esperava. O que não se esperava era a forma com que isso foi feito.

Por uma decisão de última hora, a partir de uma ideia do petista Humberto Costa, e aceita, estranhamente, pelo presidente do STF Ricardo Lewandowski, a votação foi dividida em dois: cassar o mandato e votar pela suspensão dos direitos políticos.

Boa parte do PMDB, inclusive o presidente do Senado Renan Calheiros, fez a vontade do PT e votou pela manutenção dos direitos políticos. Não caíram numa armadilha. Parecia algo deliberado, para criar um precedente perigoso: cassar o mandato de parlamentares e governantes, mas dando-lhes o direito de se elegerem na próxima eleição.

É uma ameaça ao povo brasileiro e a Constituição!

Isso é golpe, mas não como a ex-presidente argumenta. Cumpriram a lei até agora, mas no último ato fizeram-na em pedacinhos e deixaram a palavra final para o Supremo e a Justiça Eleitoral, que pode impugnar a candidatura não só de Dilma, mas também a de Temer, eleito vice-presidente na chapa dela em 2014. Ficou algo como uma briga entre a Camorra e a Cosa Nostra.

Além disso, a artimanha fez a base aliada rachar. O PSDB e o DEM ameaçam dificultar o governo Temer como se voltassem para a oposição. Enquanto isso, o PT vai fazer oposição cerrada.

Temer, que viajará para a China e deixará a presidência para Rodrigo Maia, perdeu definitivamente o direito de fazer um mau governo, mesmo porque do jeito que está poderemos lamentar não termos votado na monarquia naquele plebiscito de 1993. Aliás, o regime monárquico foi derrubado por um golpe (atenção: este blog defende a república parlamentarista).

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma tenta a última cartada

Reunindo toda a coragem que lhe resta, a presidente afastada Dilma Rousseff depõe no Senado para tentar a sua defesa. No discurso, não disse nada de novo, dizendo que é vitima de um golpe e de injustiças. Negou cometer qualquer tipo de crime, principalmente os crimes de responsabilidade da qual é acusada no processo.

Apesar de sua impopularidade abissal, a presidente voltou a defender enfaticamente a sua volta a Presidência para implantar um plebiscito que nem a maioria do seu partido, o PT, apoia, além de não estar prevista na Constituição. Ela acusa fatores externos, a oposição e, principalmente, Eduardo Cunha, pela atual crise, negando categoricamente que ela é culpada por isso.

A presidente afastada não quer se entregar (Sérgio Lima/Época) 

Os senadores não mudaram suas convicções com as declarações de Dilma. Quem continuou a defender o impeachment continuou a questionar suas condições para governar, e quem se manteve a favor permaneceu chamando-a de "presidenta".

No momento os senadores a interrogam, num processo terrivelmente cansativo para eles, a presidente e, principalmente, a quem acompanha esta etapa pelo noticiário. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Da série 'Mondo Cane', parte 43

O que seria mais bizarro? Certas notícias que acontecem no mundo como: 

1. Japonês mata filho a facadas por não estudar o suficiente para entrar em escola. (Clique AQUI)

2. Cabeças de onças pintadas são encontradas em freezer no Pará (Clique AQUI). 

3. Casal bósnio celebra a vida ensaiando o próprio funeral (Clique AQUI)

4. Caminhoneiro atropela e mata pedestres enquanto jogava Pokemon Go em Tokushima - mais um doido do Japão? ou como esse joguinho de celular anda enlouquecendo o mundo? (Clique AQUI)

5. Jovem tenta procurar celular do amigo dentro do vaso sanitário na Noruega (Clique AQUI)

Ou o que está acontecendo no Senado, com troca de baixarias entre a senadora petista Gleisi Hoffman e o presidente da Casa, Renan Calheiros, por causa do processo de impeachment da Dilma? (Clique AQUI)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Para o povo, a luta não termina

Hoje, o Senado começa a última etapa no processo de impeachment de Dilma Rousseff. A presidente afastada promete resistir de acordo com o que sabe, ou seja, protestar contra os "golpistas" e comparando a democracia como uma árvore infestada de parasitas, sem mudar muito o repertório. Ela só irá a plenário no próximo dia 29, o clímax deste processo enfadonho e aborrecido, mas que deve ser seguido, inclusive, para assegurar o necessário direito de defesa. 

Para o governo petista, tudo se encaminha para o fim, dando lugar aos seus ex-aliados e ex-companheiros da chapa eleita em 2014 com 54 milhões de votos, pouco mais de 51% dos votos válidos em uma disputa marcada por acusações, baixaria e doações não declaradas. É a regra eleitoral: Dilma foi eleita pela maioria simples de votos, embora seja uma margem muito apertada, e, segundo dados daquele ano, o número de eleitores era de 142.882.046, segundo dados do TSE. O segundo governo Dilma foi marcado por rombos no Orçamento causados, em parte, pelo acúmulo de dividas bilionárias causadas pelos atrasos nos repasses aos bancos públicos (as tais "pedaladas fiscais" praticadas costumeiramente no Brasil, mas com cifras assustadoras nos últimos anos), agravamento dos prejuízos na Petrobras e vários membros do governo condenados pela Operação Lava Jato. Ainda houve a tentativa de nomear Lula como ministro-chefe da Casa Civil, considerado uma tentativa de obstruir a Justiça, e a atuação belicosa do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, desafeto do PT e também envolvido até a medula dos ossos na bandalheira. 

Dilma foi eleita em 2014 tendo Temer como vice (Roberto Costa/Estadão)

Como resultado, em abril os deputados votaram, seguidos pelos senadores em maio, e desde então temos o presidente interino e a afastada, mas tudo indica que isso só vai durar até o final deste mês. Será o fim de uma luta política.

Para nós, cidadãos, isso não significa o fim do descanso. Teremos de continuar atentos contra os maus-feitos e apoiar quem faz a Constituição ser cumprida. Precisamos continuar a fazer o país funcionar, e votar em pessoas mais capacitadas e dignas. Precisamos nos informar sobre os atos dos nossos representantes no Executivo e no Legislativo, e não dizer simplesmente amém a eles, incluindo o presidente em exercício. Se Michel Temer vier a abusar de seu poder, a trégua acabará, e ele será o próximo alvo dos protestos e dos "panelaços". Por enquanto, ele está exercendo o cargo com destreza bem maior do que a governante afastada, a despeito das forças políticas ainda pouco dignas de confiança, principalmente aquelas na mira da Lava Jato. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Terremotos e guerras - a humanidade continua a sangrar

Hoje tivemos mais uma série de terremotos devastadores, na Itália central, próximo a cidades importantes como Perugia e Roma. Terremotos recentes atingiram regiões próximas, e também causaram mortes. Em 2009, na região de L'Aquila, mais ao sul, 300 pessoas morreram em decorrência de um tremor de 6,3 graus na escala Richter. Depois, em maio de 2012, uma série de tremores entre 5,6 e 5,8 graus Richter sacudiram a região da Emilia-Romagna, mais ao norte, matando 21 pessoas e desalojando centenas de outras. Dos tremores de hoje, o mais forte foi de 6,2 graus Richter, matando 159 pessoas até agora, principalmente em Amatrice, na região do Lácio, a mesma de Roma. O número de mortes é elevado porque, apesar de não serem tão intensos quanto os grandes terremotos que atingem a Ásia, acontecem mais perto da superfície, cerca de 10 km abaixo. Não há registro de brasileiros entre as vítimas. 


O cenário em Amatrice, centro da Itália, é apocalíptico (Massimo Percossi/ANSA)

Enquanto isso, outro tremor, mais forte - 6,8 graus na escala Richter - atingiu Myanmar, um país bem mais pobre, no sudeste asiático. Por ter acontecido em uma profundidade maior, 84 km, não causou tantas vítimas. Registram-se "apenas" quatro, mas os prejuízos materiais foram grandes, pois dezenas de templos na região de Bagan, centro do país, desmoronaram ou sofreram danos. O tremor foi sentido na Tailândia e em Bangladesh, países vizinhos. 

Pior é noticiar catástrofes provocadas pelo homem, e não pela natureza. Uma destas catástrofes é a guerra síria, mantida pelos opositores ao tirano Bashar al-Assad e pelos terroristas do Daesh, mais conhecido como "Estado Islâmico", que quer criar um enorme califado. Hoje, a situação ganhou um novo capítulo. 

Apoiada pelo Ocidente, a Turquia, governada pelo semi-ditador Tayyip Erdogan, resolveu intervir, em resposta aos atentados recentes provocados pelos terroristas. Dias após uma criança-bomba detonar um explosivo que matou 54 pessoas durante festa de casamento em Gaziantep, perto da fronteira com a Síria, o exército turco mandou invadir o território ocupado pelos extremistas na Síria. Outra missão, além de atacar os terroristas responsáveis por sequestros, decapitações e crucificações de xiitas, cristãos e todos os que não pensam como eles, é bombardear posições do PKK, a guerrilha curda que tenta estabelecer um Estado no leste da Turquia, e impedir que os curdos ocupem regiões a oeste do Rio Eufrates. A iniciativa deixou furiosos tanto os combatentes curdos que atuam ativamente contra os jihadistas e temem ataques contra seus pares e inclusive contra civis de sua etnia, quanto o governo sírio, acusando Ancara de invadir território alheio para colocar terroristas aliados no lugar do Daesh. Recentemente, porém, a Turquia havia concordado em aceitar Assad como parte da transição no governo sírio, refletindo uma maior aproximação com a Rússia, aliada do carniceiro de Damasco.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Debate na Band

Ontem houve debates na Band com os diversos candidatos à Prefeitura em várias cidades. Acompanhei o embate em São Paulo, e a impressão mais uma vez não é muito favorável.

Líder na pesquisa de votos, Celso Russomanno posou novamente de bom moço sem disfarçar o seu viés populista e evitou atacar os adversários, talvez ciente que o alvo a ser atacado seja o atual prefeito, Fernando Haddad, candidato à reeleição. Atacaram o partido dele, o PT, embora não o acusassem de ser, pessoalmente, corrupto, e sim de não sair de seu gabinete e fazer obras mal feitas, como as ciclovias que ligam nada a lugar nenhum. O atual prefeito se gabou de suas realizações pelo trânsito e mobilidade urbana, que na prática pouco ajudaram a cidade. 

Marta Suplicy (PMDB) foi questionada sobre o seu passado (era uma das líderes petistas) e pela sua gestão como prefeita (2001 a 2004), marcada pelas taxas, como as de lixo e iluminação pública. Tentou convencer que está arrependida de tê-las feito.

João Dória Jr. (PSDB) fez questão de mostrar que não era um candidato "coxinha", vestindo-se demagogicamente sem gravata e com jeans, e mesmo assim foi atacado por não ter experiência política. 

Ainda há o Major Olímpio (SD), que atacou o problema da segurança pública, considerado abandonado por Haddad, e vociferou contra as cracolândias, sempre quase gritando, como se desse ordens a seus subordinados - ele parecia entender muito de segurança e pouco do resto. 

Luísa Erundina (PSOL) não participou do debate, por seu partido, o PSOL, não ter o número mínimo de representantes na Câmara: dez, enquanto o partido dissidente do PT tem apenas seis. Resolveu manifestar-se em frente à sede da Band em São Paulo, no Morumbi. Se estivesse lá, talvez contribuiria para aumentar o teor dos ataques, concentrados entre Marta, Dória e Kassab, com Russomanno "neutro" e o Major dando sustentação a Marta e Dória para atacar o prefeito. E as propostas para melhorar a cidade?

No final, a sensação foi de desalento, pois com qualquer um deles São Paulo sofrerá. E muito!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Perguntas no ar sobre o legado olímpico

Voltemos a enfrentar com mais dedicação a realidade após 17 dias de competições esportivas na "Terra Brasilis". Ainda há a etapa final do processo de impeachment, a violência urbana, o desemprego, as investigações da corrupção desenfreada nos governos anteriores de Lula e Dilma - e também no atual, a falta de perspectivas quanto à economia - apesar da melhoria sensível em relação a 2015, e os crônicos problemas já exaustivamente apontados neste blog, referente às causas do nosso povo ainda viver tão mal e estar mergulhado na ignorância, apesar das melhorias nos últimos anos.

As Olimpíadas amenizaram a sensação ruim causada pelo descalabro vivido pelo país-sede, mas infelizmente, ou felizmente, não a ponto de esquecê-lo. Além disso, os Jogos afetarão mais as nossas vidas a longo prazo do que se costuma pensar. Quantificar, no entanto, não é uma tarefa fácil nem para os analistas mais experimentados.

Cabe fazer algumas perguntas sobre o legado dos Jogos.

1. O descaso das administrações com a educação, inclusive a educação física, é notório. Até que ponto nossos eleitos ficaram dispostos a colaborar para melhorá-la e formar esportistas (e não esportistas), aprimorando-lhes seus talentos inatos? Continuarão esta política verdadeiramente suicida de não valorizarem as escolas?

2. Aprenderemos com nossos erros de planejamento, notáveis durante a Copa e as Olimpíadas, e seremos menos tolerantes com os desvios de verbas? A falta de controle de gastos e a roubalheira levam a verdadeiros rombos, como se viu nestes dois eventos e em milhares de obras feitas neste país.

3. Até que ponto as obras de infraestrutura serão mantidas e aprimoradas? Utilizarão adequadamente o Complexo Olímpico, formado pelos diversos estádios, arenas e Centros Olímpicos? Estimularão a prática de esportes e o bom uso das instalações por parte dos clubes e agremiações?

4. Precisarão mesmo aumentar os investimentos para a delegação brasileira obter mais medalhas? Houve um enorme investimento, em torno de R$ 1 bilhão, para financiamento dos atletas, com a criação de várias categorias de bolsas, dependendo do grau de competitividade, e também a inclusão de esportistas em carreira militar, na graduação de terceiro-sargento, com soldo de R$ 3.200,00 - de fato, insuficiente para um atleta se manter, mas existem outras formas de custeio, como patrocínios de empresas privadas e estatais. Mesmo assim, só houve duas medalhas a mais do que em Londres (19 contra 17), mantendo a tendência de crescimento vista desde Atlanta (1996), quando o Brasil obteve 15 medalhas. Um ponto importante é que o número de medalhas de ouro deu realmente uma guinada: de 3 para 7. Qual foi a real influência do aumento das despesas para os atletas melhorarem seu desempenho (e também ficarem menos chorões e mais fortes psicologicamente, tomando por exemplo Thiago Braz e Isaquias Queiroz)?

 
 É difícil saber se em Tóquio teremos mais medalhas de ouro do que as conquistadas no Rio por atletas como Thiago Braz (acima; Adriano Vizoni/Folha) e Rafaela Silva (AP).

5. Houve, no caso do futebol, realmente necessidade de uma premiação tão grande para cada jogador? Outros esportistas receberam R$ 35 mil, independente da medalha, enquanto a Seleção olímpica da CBF ganhou R$ 500 mil para um elenco que já ganha muito mais do que os demais. O já citado Isaquias Queiroz, maior medalhista da Rio-2016, nem pensaria em receber metade do salário de um bom jogador no Campeonato Brasileiro (em torno de R$ 200.000,00), que dirá o quanto Neymar ganha por mês no Barcelona.

6. Qual será o grau de interesse futuro dos patrocinadores privados nos atletas em formação e os já consagrados? Isso depende da boa vontade das empresas, mas também da atratividade dos esportistas, que devem se empenhar, serem exemplos para a sociedade, saberem vender sua imagem.

7. Veremos a criação de ligas nacionais de futebol feminino e de handebol ou a volta dos campeonatos de basquete? O que se vê é decepcionante: a falta de interesse do público é a causa da escassez nas transmissões de jogos não-futebolísticos, e vice-versa.

Poderia formular muito mais perguntas, mas a falta de tempo disponível me faz formular estas sete. Aliás, tempo é o que o não temos para preparar os atletas até 2020, em Tóquio, sede da próxima Olimpíada. Estas perguntas poderão ser respondidas adequadamente ao longo dos próximos Jogos, até realmente o Brasil se tornar uma potência olímpica. Aí vem uma curta mas importante pergunta adicional:

Quando?

domingo, 21 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 21 - E agora, José?

Não há dúvidas sobre o sucesso aparente das Olimpíadas, que terminaram hoje. Foi realmente a maior festa esportiva do país em todos os tempos. Os noticiários terríveis sobre violência, corrupção, miséria, deram lugar às competições e, no último dia, à maratona e à cerimônia de encerramento. 

Comecemos pela corrida mais tradicional dos Jogos, vencida pelo queniano Ellud Kipchoge, com o etíope Feyisa Lilesa em segundo, fazendo um gesto de protesto contra o governo de seu país, acusado de perseguição étnica contra os Oromo. Cruzou os braços erguidos e fez um "X" com os punhos fechados. Parte da torcida, sem saber por que ele fez isso, até fez piada. Infelizmente, o gesto é muito sério: além do risco de perder a medalha, devido ao regulamento do COI de proibir manifestações políticas, mesmo as mais justificáveis como uma ação de uma tirania contra seus governados, ele pode ser executado se voltar para a Etiópia.

O queniano chegou em primeiro (Alex Ferro/Rio 2016)...

... mas quem chamou mais a atenção foi o segundo lugar (Reprodução/Rio 2016)

Para a maratona não ficar parecendo como as corridas de longa distância tradicionais em solo brasileiro (Meia Maratona Internacional do Rio, Volta da Pampulha, São Silvestre), um americano chegou em terceiro lugar, Galen Rupp. Devido à chuva, o chão ficou escorregadio, impedindo a obtenção do recorde olímpico. 

Os três foram premiados na cerimônia de encerramento no Maracanã, bastante bem feita, como se fosse a continuação da abertura, embora não fosse tão empolgante e tivesse muitos furos, como mostrar apenas a cultura carioca e do Nordeste, esquecendo quase completamente as outras regiões (Minas, São Paulo, Espírito Santo e as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul). Houve o protocolo de sempre, como o discurso ufanista do presidente do COB Carlos Arthur Nuzman e os elogios feitos por Thomas Bach, presidente do COI, além de repassar a sede olímpica do Rio para Tóquio. Além disso, o prefeito Eduardo Paes tomou uma sonora e inesperada vaia ao aparecer. No mais, as imagens mostram melhor do que palavras:

Cristo Redentor formado no encerramento (Fabrizio Bensch/Reuters)


Para não variar, colocaram uma atriz, Roberta Sá, vestida de Carmen Miranda (Kevin Lamarque/Reuters)


Simone Biles e Isaquias Queiroz representando as delegações (Ezra Shaw/Getty Images)

Foram homenageados tipos brasileiros, como as rendeiras do Nordeste (Divulgação)

Para mostrar o Rio passando a responsabilidade olímpica para Tóquio, o primeiro-ministro Shinzo Abe virou o Super Mário, mas não encontra seu colega Michel Temer, que não compareceu com receio das vaias (Timothy Burke)

O momento mais triste é sempre o apagar da tocha olímpica, desta vez fazendo uma chuva artificial - o detalhe é que chovia mesmo no Maracanã (David Ramos/Getty Images)

Mas depois tudo acabou em samba, com direito a marchinhas de carnaval e até um carro alegórico (Martim Bernetti/AFP)

Assim, as Olimpíadas terminaram, deixando mais saudade que a Copa do Mundo. E desde já voltamos à velha rotina. Como escreveu o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que tem uma estátua famosa no Rio, por roubarem seus óculos com frequência: 

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

Da série Olimpíadas no Rio, parte 20 - A nova geração de ouro

Depois de duas pratas nas Olimpíadas de 2008 e 2012, o vôlei masculino perdeu atenção da mídia, principalmente para o congênere feminino, ouro naqueles Jogos em campanhas sofridas, principalmente a de Londres. No Rio de Janeiro, após perigosos tropeços, eles souberam se reerguer, e chegaram lá. 

Enquanto Jaqueline, Dani Lins e Sheila foram bem nas etapas iniciais e acabaram anuladas pelas chinesas, Wallace, Serginho e Bruninho começaram relativamente mal, ganhando de México e Canadá, mas perdendo dos Estados Unidos e da Itália, precisando vencer a França para avançar. Nas quartas-de-final, encararam e venceram a Argentina, mas a torcida estava algo cética. Afinal, em todas as partidas, perderam feio (3 sets a 1) ou, quando venceram, perderam um set. Bruninho era cornetado por ser o "filho do patrão" e estar com a braçadeira de capitão, embora o mentor intelectual do grupo seja Serginho, com quatro Olimpíadas nas costas. 

Tiveram de enfrentar a perigosa Rússia, algoz que lhes tomou o ouro na campanha de Londres. O time brasileiro tinha muitos jogadores daquela partida fatídica, além de estreantes em Jogos como Lucarelli, que atuou muito bem ao longo da campanha. Eles não tiveram medo de encarar os russos, e pela primeira vez ganharam por 3 sets a 0, não sem disputar cada ponto. 

Na final, tiveram de se encontrar novamente com a Itália, disposta a impor mais uma prata ao time de Bernardinho e conquistar o ouro inédito, uma situação parecida com a Seleção da CBF até a partida de ontem com a Alemanha: muitos Mundiais e nada de ocupar o alto do pódio nos Jogos. De novo tiveram de disputar ponto a ponto em cada set, ainda mais porque eles tinham jogadores como Buti, Birarelli e o filho de russos Zaytsev, que criaram muitos problemas na partida. O primeiro set terminou em 25-23.

Os comandados de Bernardinho sofreram duas vezes com a Itália (Yves Herman/Reuters)

O segundo foi ainda mais equilibrado, com os italianos dispostos a salvarem o set e iniciarem a reação. Esforçaram-se ao máximo, mas os jogadores verde-e-amarelos, principalmente Wallace, responderam à altura, apesar de alguns erros que preocuparam a torcida. Principalmente os italianos usaram muito o recurso do "desafio" ou "challenge", para contestar os pontos por meio da análise eletrônica de imagens (recurso também muito visto nas partidas do vôlei feminino). Terminaram em 27-25. 

No set seguinte, mais disputa pela bola, e bastante drama para a torcida, que tinha Neymar e Thiaguinho, amigos do "filho do patrão", que atuou bem, como todos os demais. Foi uma final dramática, com direito a novo pedido de desafio, quando já se comemorava a vitória. Os italianos perderam, e o Brasil ganhou. 

A geração de Wallace e Bruninho deixará de ser conhecida como "nova geração de prata", para ser considerada a "terceira geração de ouro". Jovens jogadores como Lucarelli também foram consagrados. O mais homenageado foi Serginho, quatro vezes medalhista, recebendo seu segundo ouro olímpico. Chorando muito, foi ovacionado.

Antes, os Estados Unidos despacharam a Rússia após partida dramática, quando os russos estavam vencendo por 2 sets a 0, e ganharam o bronze. Foi uma conquista, embora para os americanos não seja algo impressionante, assim como não foi a previsível vitória do time de basquete na final, contra a Sérvia. Esperava-se mais do país europeu, visto como páreo duro, mas que levou uma derrota incrível: 96 a 66. O ouro do basquete (que não é o fabuloso "Dream Team" da década de 1990) foi o último conquistado pela terra do Tio Sam, maior medalhista disparado nestes Jogos, com 46 ouros, 37 pratas e 38 bronzes.

Serginho (mostrando a medalha ao lado de Douglas, Lipe e do mascote Vinícius) despede-se da Seleção como tetracampeão e com o prêmio de melhor jogador

sábado, 20 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 19 - Isaquias Queiroz e o ouro inédito para a Seleção

Estamos vivendo momentos inacreditáveis nestes momentos finais da Olimpíada no Rio de Janeiro, que se tornou o evento esportivo mais difícil de esquecer, superando a Copa do Mundo. 

De manhã, tivemos Isaquias Queiroz, o brasileiro que mais faturou medalhas numa única edição dos Jogos., e seu parceiro na canoagem C2, Erlon de Souza, que já participara de uma competição olímpica, em Londres. Por pouco, não conseguiram o ouro, para garantir a tríplice conquista para o baiano e a consagração de Erlon. Tiveram de enfrentar novamente o alemão Sebastian Brendel, desta vez acompanhado por Jan Vandrei. A dupla alemã era favorita ao ouro, menos para os brasileiros, que apostaram nos compatriotas. Mesmo assim, Isaquias entrou para o panteão dos heróis olímpicos, e por isso vai receber a honra de ser o porta-bandeira na cerimônia de encerramento, amanhã.

Não há o direito de esquecer estes dois (William West/AFP)

Mas a alegria dos alemães iria acabar à tarde.

Às 17h30, houve a Seleção Brasileira Olímpica de futebol, liderada por Neymar, para enfrentar três fantasmas: 

1. A pressão de jogar em casa. 
2. O tabu de nunca ganhar ouro olímpico antes.
3. O adversário, como já foi antecipado, é a seleção olímpica da Alemanha. 

É certo que apenas o zagueiro Ginter fazia parte da equipe tetracampeã do mundo, e Neymar era o representante solitário do grupo que virou motivo de raiva por uns e de piada para outros. Nenhum dos dois participou diretamente da partida mais emblemática da "Copa da Vergonha". O time olímpico alemão está longe de ter a qualidade do principal, que conta com a liderança de Joachim Low e tem astros como Müller, Hummels, Kroos, Ozil e outros (Schweinsteiger e Klose deixaram a Seleção responsável pelo "Mineiratzen"), mas pelo que jogou era bem capaz de fazer um "Maracanatzen" e destruir o plano da CBF de reabilitar a equipe vista como "amarelona".

O representante-mor da Seleção, após 26 minutos de aflição e nenhum gol da Alemanha, fez o seu e abriu o placar. Comemorou imitando Usain Bolt, em gesto midiático.

O atacante do Barcelona faz jus ao apelido de "Neymarketing" e homenageia Bolt...

... que estava na arquibancada do Maracanã (Divulgação, pelo Portal do Holanda)

Mas os três fatores citados acima pesavam, ainda mais com o famigerado "Eu acredito", grito considerado agourento. Aos 13 minutos do segundo tempo, a defesa do Brasil ficou a trocar passes de forma displicente, até a pior falha do setor acontecer, permitindo o gol de empate, de Meyer, que joga no Schalke 04. Rogério Micale aparentemente fez duas substituições arriscadas: os Gabrieis, primeiro o "Gabigol" depois o "Jesus" - este último na prorrogação - para a entrada de Felipe Anderson e Rafinha Alcântara, respectivamente. Era tirar dois atacantes para colocar dois meio-campistas, na volta do 4-4-2. O primeiro desperdiçou duas chances de gol, enquanto o segundo também teve dificuldades com a marcação dos alemães, que não se importavam com as vaias. Por outro lado, mostraram capacidade Renato Augusto e, descontado o vacilo no primeiro gol sofrido pelos verde-e-amarelos, os zagueiros Rodrigo Caio e Marquinhos e os laterais Zeca e Douglas Santos.

Depois de 120 minutos de jogo, chegou a hora das cobranças finais de pênaltis. Parecia o fim trágico do sonho do ouro, pois os alemães têm a fama de serem cobradores eficientes e a pressão estava contra o time da casa. Ginter foi o primeiro a cobrar, iniciando uma série de tentos relativamente bem sucedidos, até a chegada de Petersen, cujo chute falhou. Weverton, o goleiro brasileiro, defendeu. Os brasileiros também cobraram bem: Renato Augusto, Marquinhos, Rafinha e Luan. Coube a Neymar a responsabilidade enorme de marcar. E foi o que ele fez, mesmo exausto e sentindo dores nas pernas. Com o astro do Barcelona, o sonho virou realidade: 

O OURO OLÍMPICO!

A ÚNICA CONQUISTA QUE FALTAVA AO FUTEBOL MASCULINO BRASILEIRO!

Os Gabrieis e Renato Augusto choraram, mas não superaram Neymar, que derramou mais lágrimas do que naquele episódio onde o Brasil eliminou o Chile nas oitavas-de-final da Copa. Recobrado, o ex-santista voltou a sorrir e imitou Zagallo: "Vocês vão ter que me engolir!".

O goleiro do Atlético-PR, que substituiu Fernando Prass no último momento, assumiu a responsabilidade de defender um pênalti alemão...

... e Neymar teve a calma necessária para fazer os alemães engolirem a derrota nos pênaltis (Divulgação)

A maldição do ouro olímpico, maior tabu esportivo do Brasil, foi quebrada da maneira mais árdua possível: em casa diante da torcida, nos pênaltis, e contra a Alemanha. Tiveram de superar um começo irregular e o ceticismo dos torcedores, para mostrarem resultados mais convincentes nas quartas-de-final contra a Colômbia e nas semifinais contra a incrível seleção de Honduras.

Todo esse drama não redime o 8/7 e não muda o fato da CBF ser uma entidade corrupta e desmoralizada, cujo presidente, Marco Polo Del Nero, evita viajar para não ser preso pelo FBI. Porém, pelo menos representa um sinal de maior maturidade por parte de Neymar, até então visto como irresponsável, arrogante, vulnerável às pressões externas e sem compromisso com a Seleção. Nestas Olimpíadas ele calou os críticos, e só não foi mais herói do que o goleiro Weverton, em sua primeira atuação no time verde-e-amarelo.

Não foi só isso o que aconteceu no sábado olímpico. O lutador de taekwondo Maicon Siqueira teve de superar o britânico Mahama Cho e conseguiu encaixar os golpes para fazer 5 a 4, ganhando a medalha de bronze. Com este resultado, o número de medalhas aumentou para 18. Agora temos 6 medalhas para cada metal.

Uma medalha surpresa a mais, ganha pelo lutador Maicon Siqueira (Peter Cziborra/Reuters)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 18 - Usain Bolt encerra sua carreira vitoriosa

Hoje, mais uma era terminou: Usain Bolt, o "relâmpago", cumpriu com sua meta de levar 3 ouros em 3 participações, sem recorde mas mostrando toda a sua capacidade. 


Hoje, ele não correu sozinho, mas no revezamento 4x100, contando também com a ajuda de seus companheiros de equipe, que ficam com a parte possível, enquanto o astro cuida do "impossível", uma palavra que não existe no dicionário do jamaicano em se tratando de corridas. Os japoneses, surpreendentemente, ficaram em segundo lugar, o mais alto patamar possível com Bolt na pista. Com Tyson Gay (campeão mundial mas punido por uso de doping, perdendo a medalha de prata em Londres no 4x100), os americanos ficaram só em terceiro, e, por infortúnio, ainda perderam o bronze por irregularidade durante a troca de mãos no bastão.

Antes da competição, "The Lighting" mostrou descontração e bom humor, chegando a fazer um "chifrinho" na cabeça do repórter da ESPN Brasil Mendel Bdlowski.

Até o rei do atletismo tem seus momentos de bufão da corte, para aumentar ainda mais o seu carisma e marcar para sempre a história das Olimpíadas modernas.


N. do A.: O time de Bernardinho despachou nada menos que a poderosa Rússia, atual campeã olímpica, e devolvendo o resultado da final de 2012. Foram 3 sets a 0, com parciais de 25-23, 25-22 e 25-17. Nada mal para a Seleção, que não havia começado bem na fase de grupos. Agora vai ter de enfrentar a Itália na final, um time também bastante forte que deu muita dor de cabeça, mas ao mesmo tempo pressionado por não ter ganho uma medalha dourada, enquanto o Brasil é bicampeão, em 1992 e 2004.

Da série Olimpíadas no Rio, parte 17 - Elas começaram tão bem!

Hoje terminou a participação da nossa Seleção feminina, cotada antes para ganhar o ouro quando aplicaram vitórias maiúsculas sobre o time chinês e as suecas, que apanharam por 5 a 1. Isso fez a torcida aplaudir Marta, Cristiane, Andressa Alves, Beatriz, Tamires, Mônica, Andressinha ...

Acontece que, ainda na primeira fase, algo parecia já dar errado. Contra as fracas sul-africanas, elas não conseguiram marcar, ficando num 0 a 0. Poderia ser um típico caso de se pouparem, mas Marta entrou no segundo tempo para animar o jogo, sem sucesso, devido à preocupante tendência do time em depender de suas jogadas. 

Nas quartas-de-final, elas não conseguiram novamente marcar, contra as australianas, que estudaram bem as jogadas das brasileiras. Tudo precisou ser decidido nos pênaltis, e houve certo choro das brasileiras, que avançaram graças à Bárbara. 

As semifinais foram ainda mais enervantes, com o time sueco novamente, mostrando que aprenderam bem rápido a lidar com times mais ofensivos, como os Estados Unidos, causando indignação no time de Hope Solo e frustração na torcida americana, certa de mais um ouro para elas. As comandadas de Pia Sundhage aplicaram o que sabiam contra as brasileiras, não tomaram gol (embora não conseguissem fazer) e apostaram sua sorte e capacidade de reação nos pênaltis, como ocorreu no jogo contra as americanas. Novamente, elas avançaram, e a torcida brasileira, barulhenta como sempre, se consternou com a perda da chance do ouro. 

Como prêmio de consolação, a medalha de bronze. Infelizmente, nas três Olimpíadas onde elas tiveram de jogar por essa medalha, todas fracassaram. Foi o que aconteceu. As canadenses jogaram melhor, sem o abatimento das brasileiras, e aplicaram um 2 a 1. Pelo menos o jogo não foi irritante como o anterior. Beatriz quebrou o longuíssimo jejum de gols, desde o final do primeiro embate com as suecas. Um gol de honra suficiente para a torcida não se voltar contra elas, apesar do terrível castigo para uma geração que aparentava ter condições para o ouro. Infelizmente, não tinham, apesar do começo tão empolgante. Marta dificilmente irá para Tóquio devido à idade (está com 30 anos), e Formiga, a mais velha do time, anunciou que não joga mais pela Seleção. 

O triste desfecho de uma campanha para o inédito ouro em casa, no estádio do Corinthians (Paulo Whitaker/Reuters)

Para piorar, o argumento de falta de apoio e patrocínio desta vez não é válido: elas receberam muito mais dinheiro, embora em grau muito menor do que no caso da Seleção masculina. Os problemas são outros: falta de um campeonato nacional regular e investimentos na formação de jogadoras. É necessário embutir no torcedor o costume de torcer pelas "meninas" do futebol com mais regularidade, e não só nos Mundiais, nos Jogos Pan-Americanos e nas Olimpíadas. Um campeonato trará mais bagagem às jogadoras, que poderão ser vendidas para os clubes europeus quando estiverem mais tarimbadas, de preferência após se tornarem consagradas pelos torcedores. O resultado não é imediato, mas deverá haver uma mudança de rumo neste sentido para veremos um futebol feminino realmente sólido e competitivo a médio prazo. Infelizmente a CBF está mais preocupada em se proteger da opinião pública e se agarrar à falta de mérito e à corrupção do que em tornar o futebol um esporte também para as mulheres. É uma pena, pois talento elas tinham desde os primeiros anos, e ainda têm. 

E, como era esperado, as alemãs frustraram o sonho do time sueco em ganhar o ouro sem vitórias dignas desse nome, e conseguiram furar a defesa escandinava: 2 a 1. Tivemos de ouvir mais "gol da Alemanha", duas vezes, mas desta vez as germânicas não eram as culpadas pela derrocada do time brasileiro em casa. Era o único título de expressão que faltava para o futebol mais vitorioso do mundo: ambas as equipes, masculina e feminina, ganharam Copas do Mundo E Olimpíadas. As brasileiras não ganharam nenhuma delas, os brasileiros ainda precisam passar pela mesma Alemanha para ganharem o ouro olímpico, e os americanos ainda estão bem longe de ganhar um Mundial ou ouro olímpico, embora as americanas já conseguissem.


P.S.: O quinto ouro olímpico veio na madrugada de hoje, com Alison "Mamute" e Bruno, como era esperado, derrotando os italianos Nicolai e Lupo por 2 sets a 0, parciais de 21-19 e 21-17. No quadro de medalhas, o Brasil tem uma curiosa igualdade na quantidade de medalhas: 5 para cada cor, no momento. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 16 - Martine e Kahena engrossam o rol dos heróis olímpicos

O maior evento esportivo do mundo está no fim, mas vez ou outra o Brasil deixa o vira-latismo, este esporte no qual somos medalhistas de ouro desde antes do Nelson Rodrigues estabelecer a sua tese, e que teima em se manifestar mesmo quando ganham uma medalha. As últimas vítimas foram a dupla Agatha e Bárbara, que não conseguiram suplantar as alemãs e ficaram com a prata, sendo alvo de comentários do tipo: "Ponto da Alemanha", "7 a 1 olímpico", "amarelonas", etc.

Após um bronze suado do canoísta Isaquias Queiroz, na modalidade C1 200 m, onde ele se recuperou após uma largada mal feita e chegou atrás do ucraniano Iurii Cheban, campeão em Londres, e do azeri Valentin Demyanenko e deu susto ao cair na poluída lagoa Rodrigo de Freitas após chegar, outra disputa foi feita na igualmente suja baía de Guanabara. 

Martine Grael é sobrinha de Lars Grael e filha de Torben Grael, conhecidos medalhistas olímpicos, e Kahena Kunze é filha do também velejador Cláudio Kunze. Aos 25 anos, nunca participaram de uma Olimpíada antes, e estavam enfrentando a pressão de serem descendentes de iatistas experientes e conceituados, e, ao mesmo tempo, representarem o Brasil no iatismo categoria 49er FX, embarcações para duas pessoas com 4,99 m de comprimento - daí o nome. Equilibradas numa embarcação tão pequena (do tamanho de um carro grande ou de uma canoa) e em cima de uma água com má reputação, elas enfrentaram velejadoras de diversos países, boa parte delas com mais horas de iatismo no currículo. E era a última chance para os velejadores brasileiros conquistarem uma medalha, algo que nem o tarimbado campeão olímpico Robert Scheidt conseguiu nesta edição dos Jogos. 

Elas não queriam ser conhecidas apenas pelos rostos bonitos e foram navegar pela medalha (Getty Images)

Tiveram dificuldades no começo, mas depois engrenaram e superaram as duplas dinamarquesas, espanholas e neozelandesas. Na última rodada, tiveram de ultrapassar estas últimas a poucos metros do fim. Ao final, exaustas e felizes, atiraram-se na água da Baía, um gesto que para os vários estrangeiros que acompanhavam a disputa parecia tresloucado, mas elas saíram ilesas e, algum tempo depois, já recompostas, foram buscar sua medalha. 

A QUARTA medalha de OURO!

Elas não se contentaram com a prata, que ficou com as neozelandesas, muito menos com o bronze ganho pelas dinamarquesas (Brian Snyder/Reuters)

Com este resultado, a campanha da delegação brasileira passa a ser a segunda melhor da história, perdendo apenas para Atenas. Para os torcedores, ainda é muito pouco pelo tanto investido, mas para Martine e Kahena as suas medalhas não têm preço. 

São as primeiras mulheres iatistas brasileiras a ganharem ouro na história das Olimpíadas. 

E não importa que, desta vez, não tenham sofrido com a pobreza, como foi o caso de Rafaela Silva, Thiago Braz ou Robson Conceição. Como eles, farão parte do panteão dos grandes esportistas desta nossa terra onde os habitantes anseiam por heróis. 


N. do A.: Hoje, mais tarde, Alison e Rodolfo podem se juntar a este grupo na final do vôlei de praia, e serem aclamados, ao contrário dos mais novos "vilões" escolhidos pela torcida brasileira: os nadadores americanos que fizeram um papelão ao contarem uma história falsa de assalto a mão armada, despertando a fúria chauvinista tupiniquim e sendo criticados até pela imprensa americana - e mundial. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 15 - A Alemanha de novo!

Está duro ser um torcedor do esporte brasileiro. Digo torcedor de verdade, não elementos que fizeram o francês Renaud Lavillenie comparar a torcida aos nazistas e chorar no pódio como se estivesse passando por uma crise psicótica. 

Thalita e Larissa tiveram de enfrentar as americanas Walsh e Ross, despachadas pela outra dupla brasileira - Agatha e Bárbara - e perderam a medalha de bronze: 2 sets a 1, com um primeiro set muito bom e os demais desastrosos, para fazer a dupla americana conquistar seu prêmio de consolação. Walsh é tricampeã olímpica, mas sentiu o golpe quando perdeu a chance de conquistar o quarto, e chorou como uma atleta brasileira. 

No taekwondo, os brasileiros até que se esforçaram, mas perderam todas as lutas, a maioria nas quartas-de-final, como Iris Sing e Venilton Teixeira. E no handebol masculino, até houve equilíbrio, mas eles tiveram o mesmo destino das meninas: a desclassificação, graças à derrota para os franceses por 34 a 27. Ainda temos um confronto no vôlei masculino, entre Brasil e Argentina, nas quartas. Não é qualquer um que aguenta. 

Já a partida mais comentada do dia foi mesmo no futebol olímpico, com o Brasil enfrentando Honduras, que teve a proeza de eliminar a Argentina com um empate por 1 a 1 na fase de grupos, e a Coréia do Sul por 1 a 0 mesmo atuando pior do que o time asiático. Eles queriam segurar o time brasileiro com um esquema altamente defensivo, com quatro zagueiros, e impor um improvável Maracanazo. Aos 15 segundos, esse planejamento foi abaixo, quando Neymar fez um gol relâmpago, sendo também derrubado pelo goleiro López. Após cinco minutos de apreensão e atendimento médico, o ex-santista voltou, e não teve dificuldades com os hondurenhos, mesmo quando eles passaram a apelar para as faltas violentas. Gabriel Jesus fez dois gols, um deles em condição duvidosa. No segundo tempo, os hondurenhos até tentavam, mas não conseguiram parar de levar gols: Marquinhos e Luan marcaram, e Neymar fechou a goleada: 6 a 0. Foi um jogo com futebol bonito, mas com uma seleção frágil que chegou muito longe. 

Gabriel Jesus (esq.) e Neymar fizeram dois gols cada no massacre

Com a vitória estrondosa, o Brasil vai às finais, novamente no Maracanã. Na Arena Corinthians, a temível Alemanha não se intimidou com a torcida contrária e despachou a Nigéria, com dois gols, de Krostermann e Peterson. 

ELES ESTÃO NO NOSSO CAMINHO NOVAMENTE!

E não só no futebol: as alemãs Ludwig e Walkenhorst, responsáveis pela derrota das brasileiras Larissa e Talita em uma espécie de "Copacabanatzen", vão tentar fazer a torcida sofrer por Agatha e Bárbara. Já houve um confronto, no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Hamburgo, com vitória da dupla da casa por 2 sets a 1, os dois primeiros muito equilibrados (21/19 para cada lado). Logo, as brasileiras querem a revanche e conquistar o ouro em Copacabana. 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 14 - Thiago e Robson: sem choro e com ouro! (Menção honrosa para Isaquias)

Em caráter excepcional, tive de escrever primeiro os insucessos do dia. Agora finalmente vou escrever sobre a medalha inesperada de ontem. 

Todos estavam surpresos com a medalha de Poliana Okimoto e a relativamente frustrante prata para Arthur Zanetti. Do atletismo, poucos esperavam alguma coisa. E foi de lá que veio uma medalha. 

DE OURO!

 Thiago Braz, após saltar 6,03 m na grande final olímpica (Phil Noble/Reuters)

Thiago Braz da Silva, o jovem de 22 anos que teve uma infância difícil, abandonado pelos pais, criado pelos avós, e ainda marcado pelo insucesso no Pan em Toronto, quando fracassou nas eliminatórias, teve de se superar. Foi enfrentar o último campeão olímpico de salto com vara, francês Renaud Lavillenie, e mais outros atletas talentosos, como o americano Sam Kendricks. No final, somente os três ficaram. Kendricks conseguiu pular 5,85 m, mas não além disso. Lavillenie pulou bem mais alto: 5,98 m. Porém, quando a marca ficou em 6,03 m, só ficou no "quase", pois esbarrou na trave e a derrubou, invalidando o salto. O brasileiro de Marília tentou duas vezes: na primeira, nem chegou perto da trave, mas na segunda pulou com sobras. Lavillenie resolveu pular 6,08 m, mas fracassou novamente. E o brasileiro acabou ficando com o ouro. Incrédulo com a sua própria façanha, cobriu-se com a bandeira do Brasil, como é de praxe nos atletas brasileiros vitoriosos. Ao contrário da maioria deles, e do seu quase homônimo do futebol, por ter também um "Silva" no nome, não derramou uma lágrima. 

Restou ao francês reclamar da torcida, que realmente estava mal comportada, como aconteceu várias vezes, vaiando os adversários de Thiago. Chegou a compará-los à torcida da Alemanha nazista, que teria vaiado Jesse Owens nas Olimpíadas de 1936. Foi esculachado por muita gente. 

Hoje, outro brasileiro superou o passado de dificuldades para resolver se dar bem dando socos. Como o paulista Thiago, o pugilista baiano Robson Conceição era pouco conhecido. Foi derrotando seus adversários, com repercussão morna mas crescente, até enfrentar o cubano Lázaro Álvarez, considerado favorito. Com dificuldade, apesar de toda a sua valentia, Conceição venceu, e foi às finais. Foi enfrentar o também surpreendente Sofiane Oumiha, da França, e após uma luta franca, onde os dois partiram para o ataque, o brasileiro venceu por pontos (30-27; 29-28; 29-28). Superou Esquiva Falcão, até então o maior boxeador brasileiro, prata em Londres, e ganhou a sua medalha de ouro, tornando-se o maior lutador olímpico do país na História. Ele havia afirmado que não se contentava com outra medalha, a não ser a dourada. Foi à luta para isso.

 Robson Conceição também era um quase anônimo que virou herói (Peter Cziborra/Reuters)

São feitos notáveis, fazendo o Brasil saltar como Thiago Braz, do trigésimo para o décimo quinto lugar no ranking de medalha. Outro grande esportista que se empenhou e não quis pagar de vítima da falta de patrocínio e incentivo é o baiano Isaquias Queiroz, da canoagem. Em sua primeira participação numa Olimpíada, após fazer bonito no Pan de Toronto, ele disputou a liderança arduamente com o alemão Sebastian Brendel, que mostrou grande categoria e faturou o ouro nos 1000 m. Porém, o jovem baiano não ficou muito atrás, e esta é apenas a sua primeira das três participações na Rio-2016. 

Isaquias cumprimenta o alemão Sebastian Brendel após a disputa (Tom Pennington/Getty Images)

Da série Olimpíadas no Rio, parte 13 - Azar e choro!

A terceira medalha de ontem, como já adiantei, foi a mais inesperada, e mereceu uma postagem à parte, ou melhor, isso ficou para depois, pois existem outros feitos históricos para marcar a história do esporte brasileiro para sempre. Vou abordar em seguida. 

Primeiro, terei de fazer um apanhado das derrotas, que foram muitas, e dolorosas. Por coincidência, esta série de postagens olímpicas é de número 13, tido como de má sorte. Pois houve sorte de menos, e choro demais. 

As meninas do handebol, que tanta alegria deram à torcida, enfrentaram uma Holanda desacreditada, mas motivada para ganhar, e foram engolidas por elas e, também, pelo nervosismo demonstrado em campo. Perderam de forma terrível, e inesperada: 32 a 23. Resta constatar que o handebol está indo para o caminho certo, rumo a uma maior popularização. O handebol masculino deve extrair lições deste jogo, pois vai jogar amanhã, contra o time da França.

Mais doloroso, só o fracasso do futebol feminino: 0 a 0 contra as suecas, cujo futebol se tornou excessivamente defensivo, quase um antijogo. Marta, Beatriz e Andressa Alves, entre outras, não conseguiram marcar, e pagaram um preço altíssimo: a desclassificação nos pênaltis, graças à Cristiane e Andressinha, cobrando mal, tornando tudo difícil para a goleira Bárbara, que ao menos conseguiu defender um penal. Para compensar, Marta cobrou de forma mais caprichada, amenizando o estrago. Agora vão ter de lutar por outra medalha bem menos valiosa e longe de ser realmente desejada pela Seleção, porém também inédita para elas: o bronze. O futebol feminino já ganhou duas pratas, e ficou duas vezes em quarto lugar. Veremos o que elas poderão fazer contra o Canadá. Por enquanto, terão de assimilar a derrota e as críticas, que sempre as taxam de "pipoqueiras" e "amarelonas".

 Um "Maracanazo" que promete ser muito lembrado, como o de 1950, mas desta vez no futebol feminino (André Mourão/O Dia)

Tivemos mais frustração com a má atuação de Fabiana Murer, um caso curioso de ser campeã mundial e, ao mesmo tempo, atuar mal em Olimpíadas. Em 2008, ela teve atritos com a organização dos Jogos em Pequim devido ao extravio de uma vara, sendo motivo de piada também. Em 2012, não competiu, reclamando do vento, gerando ainda mais sátiras contra ela. Agora, quando teve a chance de se redimir, na sua última atuação (por já ter 35 anos), fracassou nas três tentativas, quando a barra estava a apenas 4,58 m do chão. Ela já havia saltado 4,85 m, quando foi campeã mundial na Coréia do Sul (2011). Antes de virar novamente uma "sparring" para os críticos de plantão (este termo do boxe remete à próxima postagem), explicou, chorando, que estava com hérnia de disco.

Além disso, houve a derrota de Larissa e Tatiana no vôlei de praia para as alemãs, perdendo a chance do ouro, a fraca performance de Alan do Carmo na maratona aquática, os outros fracassos nas corridas do atletismo... regados a lamentações, lágrimas e deleite dos praticantes da nova paixão esportiva: o vira-latismo. 

João Havelange (1916-2016) e Elke Maravilha (1945-2016), duas personalidades brasileiras

João Havelange e Elke Maravilha foram duas personalidades inesquecíveis para o Brasil. Foram perdas bastante sentidas em seus meios, respectivamente o futebol e as artes, e dificilmente serão esquecidos. 


O primeiro, filho de belgas, colaborou grandemente para o futebol brasileiro se tornar respeitável e começar a ganhar competições mundiais, como a Copa do Mundo, e, quando foi alçado à presidência da Fifa, expandiu o futebol para regiões onde ele não era praticado e tornou-o um grande negócio, fazendo parcerias com grandes empresários, como Horst Dassler, dono da Adidas, até agora patrocinadora-mor da entidade. Infelizmente, escolheu o caminho da corrupção, favoreceu parentes, como o seu genro Ricardo Teixeira, à frente de uma administração nefasta na CBF, foi acusado dezenas de vezes por enriquecimento ilícito quando era presidente da Fifa, e fez muitas negociatas pouco investigadas na época, como quando foi dono da Viação Cometa, empresa de ônibus rodoviários, ganhando concorrências de forma suspeita e mostrando sua habilidade em fazer alianças políticas, com gente do quilate de Carlos Lacerda e Juscelino Kubitscheck, que eram inimigos ferrenhos entre si. Seu legado, para o bem e para o mal, terá efeitos duradouros para o futebol. 

Elke Maravilha representou uma alegria carnavalesca e irreverente, próxima do arquétipo brasileiro, apesar de ter ascendência russa e nascer na então cidade de Leningrado, atual São Petersburgo, e ser cidadã alemã, sendo cassada de sua cidadania brasileira durante o regime militar, não se interessando mais por restituí-la na redemocratização. Seu nome de batismo era Elke Georgievna Grunnupp, e veio ao Brasil com seis anos, de uma família que fugiu do stalinismo. Após perseguida pela ditadura por sua ligação com a estilista Zuzu Angel, cujo filho, Stuart Angel Jones, foi torturado e sofreu desaparecimento forçado em 1971, passou a ser conhecida pela alcunha, dada pelo teatrólogo Daniel Más, e passou a adotar um visual excêntrico, principalmente quando se tornou jurada do Cassino do Chacrinha, sendo uma das mais queridas do programa. Depois da morte do Velho Guerreiro, passou a atuar no Show de Calouros, do Sílvio Santos. Não mudou o visual, marcado pelas perucas e maquiagem berrante, sempre demonstrando uma alegria irrefreável. Ficou em coma por quase um mês, após uma cirurgia para tratar uma úlcera no intestino. 

Ambos faleceram em meio aos Jogos Olímpicos, quando a perda de gente famosa não recebe tanta atenção da mídia. Por coincidência, no mesmo dia do falecimento dos dois, vários atletas brasileiros sofreram por outro tipo de morte: do sonho por medalhas olímpicas.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 12 - Fiasco no basquete e medalhas inesperadas

Começo a escrever pela má notícia, repetindo a velha piada da "notícia boa e outra ruim". O basquete masculino sucumbiu por suas próprias falhas, mais do que pela combinação de resultados. Depois de perder de forma dolorosa dos argentinos após uma disputa ferrenha com direito a duas prorrogações e mais de 100 pontos para cada time, o Brasil teve de vencer a Nigéria por 86 a 69 e esperar o resultado entre Espanha e Argentina para pegar nada menos que o "Dream Team", ou seja, em qualquer circunstância é uma vitória de Pirro de deixar o próprio rei lendário do Épiro ficar com pena do time brasileiro. Os espanhois jogaram com vontade e não deram chance aos hermanos: 92 a 73. Agora os argentinos precisam aguardar o resultado entre Croácia e Lituânia para não terem de enfrentar os americanos na próxima fase. 

Para compensar, existe uma boa notícia: o Brasil voltou a ganhar mais de uma medalha, todas inesperadas. E desta vez não duas, mas três!

Esperava-se que Arthur Zanetti ganhasse o ouro como aconteceu em Londres, mas veio a prata, porque o grego Eleftherios Petrounias fez uma exibição impecável e mereceu ganhar. Zanetti até foi muito bem, mas levou nota 15,766 contra admiráveis 16,000 do oponente. O brasileiro não se mostrou satisfeito com o resultado, embora afirmasse o contrário, mas prometeu melhorar e levar o ouro em Tóquio. 

A torcida esperava o ouro. Não deu para Zanetti conquistá-lo, pois enfrentou um oponente superior (Reuters)

Em outra competição, a maratona aquática, não se esperava medalha do Brasil, mesmo com Poliana Okimoto, que não se deu bem nas outras competições. Em Pequim, esteve longe de convencer. Já em Londres, sofreu uma hipotermia e não completou a prova. No Rio, só chegou em quarto lugar, tentando acompanhar a holandesa Sharon van Rouwendaal, que venceu a prova de ponta a ponta. Ela foi ultrapassada pela italiana Rachele Bruni e pela francesa Amélie Müller. Esta última foi desclassificada por impedir a italiana de prosseguir para colocar a mão na marca de chegada, e perdeu a medalha. Poliana, já conformada com o resultado, foi pega de surpresa quando anunciaram a punição para a rival francesa. Belo desfecho para uma nadadora que sofreu e lutou até os 33 anos, sua idade atual.

Poliana Okimoto herdou o bronze (Danilo Borges/Brasil2016)

Porém, a medalha mais inesperada de todas, a terceira, ainda estava por vir. É o que abordarei na próxima postagem amanhã.

domingo, 14 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 11 - Diego Hypólito se redime e Arthur Nory estreia nos Jogos

Hoje foi um dia dos pais inesquecível, com a disputa olímpica no Rio de Janeiro e a apresentação estupenda de Simone Biles e sua conquista nos saltos individuais, do escocês Andy Murray na final do tênis olímpico contra o surpreendente argentino Juan Martín Del Potro em partida épica, e do rei do atletismo Usain Bolt, ainda imbatível nos 100 m rasos, ao fazer 9s81, marca ainda incrível apesar de ficar longe de sua melhor marca (9s56 em Berlim, 2009). 

Usain Bolt ganhou o seu terceiro ouro olímpico nos 100 m rasos (Yahoo! news)

Os brasileiros dedicaram sua torcida, porém, a dois atletas tupiniquins algo desacreditados, diante de tantas desilusões com nossos esportistas.

Diego Hypolito era ridicularizado como amarelão, muitas vezes tendo sua sexualidade questionada como qualquer ginasta, mas de forma exacerbada, visto que os críticos fazem o famoso argumento ad hominem associando os seus fracassos nas Olimpíadas de Pequim e Londres, com suas atitudes e gostos pessoais. Hypolito ficou estigmatizado por não conseguir medalha olímpica e ainda falhar em momentos decisivos, caindo de forma desastrosa durante suas exibições e chorando copiosamente depois, mais do que a média do atleta brasileiro. Era, em Pequim, favorito ao ouro. Em Londres, virou azarão. Teve de se recolher, superar a depressão e amadurecer psicologicamente, para voltar aos Jogos em plena "pátria-mãe" e surpreender.

Arthur Nory Oyakawa Mariano, visto como mais um da ginástica artística, era mais falado por suas atuações nos bastidores, apontado como autor de uma piada sem graça interpretada como ato racista contra o colega Ângelo Assumpção; além disso, a mídia diz que ele é o namorado da Simone Biles, embora muitos duvidem disso. 

Enfrentando as cobranças da torcida, cansada de ver atleta brasileiro ficar sem medalha, eles foram à exibição solo, e se deram muito bem. Hypolito não poderia ter se apresentado melhor, e desta vez não sentiu a pressão. Nory cometeu alguns deslizes, mas impressionou a torcida e foi bem visto pelos avaliados, que lhe deram a nota 15,433. Apenas o britânico Max Whitlock, também seguro apesar da manifestação vinda das arquibancadas, fez melhor: 15,633. O americano Sam Mikulak sentiu o clima na Arena Olímpica, após se classificar em primeiro, fez atuação insegura e perdeu nota, garantindo o bronze ao nipo-brasileiro. 

Whitlock (ao centro) foi menos celebrado pela torcida da Arena Olímpica do que os brasileiros (Mike Blake/Reuters)

Após muitas lágrimas derramadas, de alegria, principalmente do irmão "chorão" e "ex-amarelão" da Daniele Hypolito, eles foram ao pódio. Nory fez continência, algo detestado pelos auto-intitulados "progressistas", associando o gesto militar com os anos de chumbo (1964-1985). Ele é terceiro-sargento da Aeronáutica - mesma ocupação do maior ginasta brasileiro, Arthur Zanetti, que vai se apresentar amanhã. 

Da série Olimpíadas no Rio, parte 10 - Michael Phelps sai, Usain Bolt entra, e a Seleção de Neymar...

Michael Phelps fez história e colocou o Rio como parte dela, ao anunciar sua "aposentadoria" como nadador olímpico, após ganhar sua medalha de ouro de número 23. Poderia ser melhor para o supercampeão, se ele não tivesse "fracassado" em sua última prova individual, nos 100 m borboleta, largando mal e tendo de mostrar seu poder para chegar junto a outros dois competidores - o sul-africano Chad Le Clos e o húngaro Laszlo Cseh. Quem ganhou foi um fã do americano: o cingapureano Joseph Schooling, com o tempo de 50s39. Os três medalhistas de prata chegaram 75 centésimos de segundo atrás. 

Para compensar essa "mácula", Phelps ajudou a equipe a ganhar o revezamento 4x100 medley, juntamente com Ryan Murphy, Cody Miller e Nathan Adrian. Foi o terceiro a cair na água, facilitando bastante a tarefa de Adrian: administrar a vantagem sobre os britânicos (prata) e os australianos (bronze). Os brasileiros - Guilherme Guido, Felipe França, Marcelo Chierighini e Henrique Martins - não tinham muito a fazer e ficaram numa modesta sexta colocação, encerrando a apagada participação dos nadadores das nossas plagas, todos saindo das piscinas de mãos abanando. 

Ao final, em um misto de jogada de marketing e grande apreço pelo Rio, ele e os seus companheiros abriram um cartaz com os dizeres "Thank you, Rio", agradecendo a cidade e seus habitantes. Ele foi intensamente aclamado. 

A despedida de Michael Phelps, com 23 ouros, 5 deles só no Rio (Gabriel Bouys/AFP)

Hoje outro astro internacional, Usain Bolt, fez o cartão de visitas, mostrando, contudo, que não está em plena forma: classificou-se para as finais na prova de 100 m rasos com o tempo de 10s09 - boa para um corredor comum, mas não para o jamaicano. Ele passa a ser o maior esportista das Olimpíadas com a saída de Michael Phelps, e também vai em busca do ouro. 

Quem está também em busca da medalha amarela é a Seleção olímpica masculina. Contra a Colômbia, Neymar aumentou seu histórico de problemas: brigou com boa parte do time colombiano, chefiado por Teo Gutierrez (que não se envolveu pessoalmente contra ele), quase foi expulso por reagir às provocações e, no final, após esfriar a cabeça, sofreu várias faltas e também simulou algumas delas, fazendo o time rival ser punido com cinco cartões amarelos. Apesar de marcar um gol de falta e voltar a mostrar seu futebol, sua imagem como criador de casos manteve-se, o que não isenta os colombianos de culpa, procurando irritar os brasileiros como se fosse um jogo da Libertadores e não entre duas seleções nacionais, principalmente no primeiro tempo. Luan fez o segundo gol, decretando a passagem dos brasileiros para as semifinais, para enfrentar a surpreendente seleção de Honduras, vencedora do jogo contra a Coréia do Sul. Na final, é bem capaz da Seleção enfrentar de novo a Alemanha, que goleou Portugal por 4 a 0. 

Neymar e Luan fizeram os dois gols da vitória sobre a Colômbia; o sonho do ouro olímpico está mais vivo do que nunca (Mowa Press)