sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 17 - Elas começaram tão bem!

Hoje terminou a participação da nossa Seleção feminina, cotada antes para ganhar o ouro quando aplicaram vitórias maiúsculas sobre o time chinês e as suecas, que apanharam por 5 a 1. Isso fez a torcida aplaudir Marta, Cristiane, Andressa Alves, Beatriz, Tamires, Mônica, Andressinha ...

Acontece que, ainda na primeira fase, algo parecia já dar errado. Contra as fracas sul-africanas, elas não conseguiram marcar, ficando num 0 a 0. Poderia ser um típico caso de se pouparem, mas Marta entrou no segundo tempo para animar o jogo, sem sucesso, devido à preocupante tendência do time em depender de suas jogadas. 

Nas quartas-de-final, elas não conseguiram novamente marcar, contra as australianas, que estudaram bem as jogadas das brasileiras. Tudo precisou ser decidido nos pênaltis, e houve certo choro das brasileiras, que avançaram graças à Bárbara. 

As semifinais foram ainda mais enervantes, com o time sueco novamente, mostrando que aprenderam bem rápido a lidar com times mais ofensivos, como os Estados Unidos, causando indignação no time de Hope Solo e frustração na torcida americana, certa de mais um ouro para elas. As comandadas de Pia Sundhage aplicaram o que sabiam contra as brasileiras, não tomaram gol (embora não conseguissem fazer) e apostaram sua sorte e capacidade de reação nos pênaltis, como ocorreu no jogo contra as americanas. Novamente, elas avançaram, e a torcida brasileira, barulhenta como sempre, se consternou com a perda da chance do ouro. 

Como prêmio de consolação, a medalha de bronze. Infelizmente, nas três Olimpíadas onde elas tiveram de jogar por essa medalha, todas fracassaram. Foi o que aconteceu. As canadenses jogaram melhor, sem o abatimento das brasileiras, e aplicaram um 2 a 1. Pelo menos o jogo não foi irritante como o anterior. Beatriz quebrou o longuíssimo jejum de gols, desde o final do primeiro embate com as suecas. Um gol de honra suficiente para a torcida não se voltar contra elas, apesar do terrível castigo para uma geração que aparentava ter condições para o ouro. Infelizmente, não tinham, apesar do começo tão empolgante. Marta dificilmente irá para Tóquio devido à idade (está com 30 anos), e Formiga, a mais velha do time, anunciou que não joga mais pela Seleção. 

O triste desfecho de uma campanha para o inédito ouro em casa, no estádio do Corinthians (Paulo Whitaker/Reuters)

Para piorar, o argumento de falta de apoio e patrocínio desta vez não é válido: elas receberam muito mais dinheiro, embora em grau muito menor do que no caso da Seleção masculina. Os problemas são outros: falta de um campeonato nacional regular e investimentos na formação de jogadoras. É necessário embutir no torcedor o costume de torcer pelas "meninas" do futebol com mais regularidade, e não só nos Mundiais, nos Jogos Pan-Americanos e nas Olimpíadas. Um campeonato trará mais bagagem às jogadoras, que poderão ser vendidas para os clubes europeus quando estiverem mais tarimbadas, de preferência após se tornarem consagradas pelos torcedores. O resultado não é imediato, mas deverá haver uma mudança de rumo neste sentido para veremos um futebol feminino realmente sólido e competitivo a médio prazo. Infelizmente a CBF está mais preocupada em se proteger da opinião pública e se agarrar à falta de mérito e à corrupção do que em tornar o futebol um esporte também para as mulheres. É uma pena, pois talento elas tinham desde os primeiros anos, e ainda têm. 

E, como era esperado, as alemãs frustraram o sonho do time sueco em ganhar o ouro sem vitórias dignas desse nome, e conseguiram furar a defesa escandinava: 2 a 1. Tivemos de ouvir mais "gol da Alemanha", duas vezes, mas desta vez as germânicas não eram as culpadas pela derrocada do time brasileiro em casa. Era o único título de expressão que faltava para o futebol mais vitorioso do mundo: ambas as equipes, masculina e feminina, ganharam Copas do Mundo E Olimpíadas. As brasileiras não ganharam nenhuma delas, os brasileiros ainda precisam passar pela mesma Alemanha para ganharem o ouro olímpico, e os americanos ainda estão bem longe de ganhar um Mundial ou ouro olímpico, embora as americanas já conseguissem.


P.S.: O quinto ouro olímpico veio na madrugada de hoje, com Alison "Mamute" e Bruno, como era esperado, derrotando os italianos Nicolai e Lupo por 2 sets a 0, parciais de 21-19 e 21-17. No quadro de medalhas, o Brasil tem uma curiosa igualdade na quantidade de medalhas: 5 para cada cor, no momento. 

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