domingo, 21 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 21 - E agora, José?

Não há dúvidas sobre o sucesso aparente das Olimpíadas, que terminaram hoje. Foi realmente a maior festa esportiva do país em todos os tempos. Os noticiários terríveis sobre violência, corrupção, miséria, deram lugar às competições e, no último dia, à maratona e à cerimônia de encerramento. 

Comecemos pela corrida mais tradicional dos Jogos, vencida pelo queniano Ellud Kipchoge, com o etíope Feyisa Lilesa em segundo, fazendo um gesto de protesto contra o governo de seu país, acusado de perseguição étnica contra os Oromo. Cruzou os braços erguidos e fez um "X" com os punhos fechados. Parte da torcida, sem saber por que ele fez isso, até fez piada. Infelizmente, o gesto é muito sério: além do risco de perder a medalha, devido ao regulamento do COI de proibir manifestações políticas, mesmo as mais justificáveis como uma ação de uma tirania contra seus governados, ele pode ser executado se voltar para a Etiópia.

O queniano chegou em primeiro (Alex Ferro/Rio 2016)...

... mas quem chamou mais a atenção foi o segundo lugar (Reprodução/Rio 2016)

Para a maratona não ficar parecendo como as corridas de longa distância tradicionais em solo brasileiro (Meia Maratona Internacional do Rio, Volta da Pampulha, São Silvestre), um americano chegou em terceiro lugar, Galen Rupp. Devido à chuva, o chão ficou escorregadio, impedindo a obtenção do recorde olímpico. 

Os três foram premiados na cerimônia de encerramento no Maracanã, bastante bem feita, como se fosse a continuação da abertura, embora não fosse tão empolgante e tivesse muitos furos, como mostrar apenas a cultura carioca e do Nordeste, esquecendo quase completamente as outras regiões (Minas, São Paulo, Espírito Santo e as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul). Houve o protocolo de sempre, como o discurso ufanista do presidente do COB Carlos Arthur Nuzman e os elogios feitos por Thomas Bach, presidente do COI, além de repassar a sede olímpica do Rio para Tóquio. Além disso, o prefeito Eduardo Paes tomou uma sonora e inesperada vaia ao aparecer. No mais, as imagens mostram melhor do que palavras:

Cristo Redentor formado no encerramento (Fabrizio Bensch/Reuters)


Para não variar, colocaram uma atriz, Roberta Sá, vestida de Carmen Miranda (Kevin Lamarque/Reuters)


Simone Biles e Isaquias Queiroz representando as delegações (Ezra Shaw/Getty Images)

Foram homenageados tipos brasileiros, como as rendeiras do Nordeste (Divulgação)

Para mostrar o Rio passando a responsabilidade olímpica para Tóquio, o primeiro-ministro Shinzo Abe virou o Super Mário, mas não encontra seu colega Michel Temer, que não compareceu com receio das vaias (Timothy Burke)

O momento mais triste é sempre o apagar da tocha olímpica, desta vez fazendo uma chuva artificial - o detalhe é que chovia mesmo no Maracanã (David Ramos/Getty Images)

Mas depois tudo acabou em samba, com direito a marchinhas de carnaval e até um carro alegórico (Martim Bernetti/AFP)

Assim, as Olimpíadas terminaram, deixando mais saudade que a Copa do Mundo. E desde já voltamos à velha rotina. Como escreveu o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que tem uma estátua famosa no Rio, por roubarem seus óculos com frequência: 

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

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