sábado, 20 de agosto de 2016

Da série Olimpíadas no Rio, parte 19 - Isaquias Queiroz e o ouro inédito para a Seleção

Estamos vivendo momentos inacreditáveis nestes momentos finais da Olimpíada no Rio de Janeiro, que se tornou o evento esportivo mais difícil de esquecer, superando a Copa do Mundo. 

De manhã, tivemos Isaquias Queiroz, o brasileiro que mais faturou medalhas numa única edição dos Jogos., e seu parceiro na canoagem C2, Erlon de Souza, que já participara de uma competição olímpica, em Londres. Por pouco, não conseguiram o ouro, para garantir a tríplice conquista para o baiano e a consagração de Erlon. Tiveram de enfrentar novamente o alemão Sebastian Brendel, desta vez acompanhado por Jan Vandrei. A dupla alemã era favorita ao ouro, menos para os brasileiros, que apostaram nos compatriotas. Mesmo assim, Isaquias entrou para o panteão dos heróis olímpicos, e por isso vai receber a honra de ser o porta-bandeira na cerimônia de encerramento, amanhã.

Não há o direito de esquecer estes dois (William West/AFP)

Mas a alegria dos alemães iria acabar à tarde.

Às 17h30, houve a Seleção Brasileira Olímpica de futebol, liderada por Neymar, para enfrentar três fantasmas: 

1. A pressão de jogar em casa. 
2. O tabu de nunca ganhar ouro olímpico antes.
3. O adversário, como já foi antecipado, é a seleção olímpica da Alemanha. 

É certo que apenas o zagueiro Ginter fazia parte da equipe tetracampeã do mundo, e Neymar era o representante solitário do grupo que virou motivo de raiva por uns e de piada para outros. Nenhum dos dois participou diretamente da partida mais emblemática da "Copa da Vergonha". O time olímpico alemão está longe de ter a qualidade do principal, que conta com a liderança de Joachim Low e tem astros como Müller, Hummels, Kroos, Ozil e outros (Schweinsteiger e Klose deixaram a Seleção responsável pelo "Mineiratzen"), mas pelo que jogou era bem capaz de fazer um "Maracanatzen" e destruir o plano da CBF de reabilitar a equipe vista como "amarelona".

O representante-mor da Seleção, após 26 minutos de aflição e nenhum gol da Alemanha, fez o seu e abriu o placar. Comemorou imitando Usain Bolt, em gesto midiático.

O atacante do Barcelona faz jus ao apelido de "Neymarketing" e homenageia Bolt...

... que estava na arquibancada do Maracanã (Divulgação, pelo Portal do Holanda)

Mas os três fatores citados acima pesavam, ainda mais com o famigerado "Eu acredito", grito considerado agourento. Aos 13 minutos do segundo tempo, a defesa do Brasil ficou a trocar passes de forma displicente, até a pior falha do setor acontecer, permitindo o gol de empate, de Meyer, que joga no Schalke 04. Rogério Micale aparentemente fez duas substituições arriscadas: os Gabrieis, primeiro o "Gabigol" depois o "Jesus" - este último na prorrogação - para a entrada de Felipe Anderson e Rafinha Alcântara, respectivamente. Era tirar dois atacantes para colocar dois meio-campistas, na volta do 4-4-2. O primeiro desperdiçou duas chances de gol, enquanto o segundo também teve dificuldades com a marcação dos alemães, que não se importavam com as vaias. Por outro lado, mostraram capacidade Renato Augusto e, descontado o vacilo no primeiro gol sofrido pelos verde-e-amarelos, os zagueiros Rodrigo Caio e Marquinhos e os laterais Zeca e Douglas Santos.

Depois de 120 minutos de jogo, chegou a hora das cobranças finais de pênaltis. Parecia o fim trágico do sonho do ouro, pois os alemães têm a fama de serem cobradores eficientes e a pressão estava contra o time da casa. Ginter foi o primeiro a cobrar, iniciando uma série de tentos relativamente bem sucedidos, até a chegada de Petersen, cujo chute falhou. Weverton, o goleiro brasileiro, defendeu. Os brasileiros também cobraram bem: Renato Augusto, Marquinhos, Rafinha e Luan. Coube a Neymar a responsabilidade enorme de marcar. E foi o que ele fez, mesmo exausto e sentindo dores nas pernas. Com o astro do Barcelona, o sonho virou realidade: 

O OURO OLÍMPICO!

A ÚNICA CONQUISTA QUE FALTAVA AO FUTEBOL MASCULINO BRASILEIRO!

Os Gabrieis e Renato Augusto choraram, mas não superaram Neymar, que derramou mais lágrimas do que naquele episódio onde o Brasil eliminou o Chile nas oitavas-de-final da Copa. Recobrado, o ex-santista voltou a sorrir e imitou Zagallo: "Vocês vão ter que me engolir!".

O goleiro do Atlético-PR, que substituiu Fernando Prass no último momento, assumiu a responsabilidade de defender um pênalti alemão...

... e Neymar teve a calma necessária para fazer os alemães engolirem a derrota nos pênaltis (Divulgação)

A maldição do ouro olímpico, maior tabu esportivo do Brasil, foi quebrada da maneira mais árdua possível: em casa diante da torcida, nos pênaltis, e contra a Alemanha. Tiveram de superar um começo irregular e o ceticismo dos torcedores, para mostrarem resultados mais convincentes nas quartas-de-final contra a Colômbia e nas semifinais contra a incrível seleção de Honduras.

Todo esse drama não redime o 8/7 e não muda o fato da CBF ser uma entidade corrupta e desmoralizada, cujo presidente, Marco Polo Del Nero, evita viajar para não ser preso pelo FBI. Porém, pelo menos representa um sinal de maior maturidade por parte de Neymar, até então visto como irresponsável, arrogante, vulnerável às pressões externas e sem compromisso com a Seleção. Nestas Olimpíadas ele calou os críticos, e só não foi mais herói do que o goleiro Weverton, em sua primeira atuação no time verde-e-amarelo.

Não foi só isso o que aconteceu no sábado olímpico. O lutador de taekwondo Maicon Siqueira teve de superar o britânico Mahama Cho e conseguiu encaixar os golpes para fazer 5 a 4, ganhando a medalha de bronze. Com este resultado, o número de medalhas aumentou para 18. Agora temos 6 medalhas para cada metal.

Uma medalha surpresa a mais, ganha pelo lutador Maicon Siqueira (Peter Cziborra/Reuters)

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