segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Perguntas no ar sobre o legado olímpico

Voltemos a enfrentar com mais dedicação a realidade após 17 dias de competições esportivas na "Terra Brasilis". Ainda há a etapa final do processo de impeachment, a violência urbana, o desemprego, as investigações da corrupção desenfreada nos governos anteriores de Lula e Dilma - e também no atual, a falta de perspectivas quanto à economia - apesar da melhoria sensível em relação a 2015, e os crônicos problemas já exaustivamente apontados neste blog, referente às causas do nosso povo ainda viver tão mal e estar mergulhado na ignorância, apesar das melhorias nos últimos anos.

As Olimpíadas amenizaram a sensação ruim causada pelo descalabro vivido pelo país-sede, mas infelizmente, ou felizmente, não a ponto de esquecê-lo. Além disso, os Jogos afetarão mais as nossas vidas a longo prazo do que se costuma pensar. Quantificar, no entanto, não é uma tarefa fácil nem para os analistas mais experimentados.

Cabe fazer algumas perguntas sobre o legado dos Jogos.

1. O descaso das administrações com a educação, inclusive a educação física, é notório. Até que ponto nossos eleitos ficaram dispostos a colaborar para melhorá-la e formar esportistas (e não esportistas), aprimorando-lhes seus talentos inatos? Continuarão esta política verdadeiramente suicida de não valorizarem as escolas?

2. Aprenderemos com nossos erros de planejamento, notáveis durante a Copa e as Olimpíadas, e seremos menos tolerantes com os desvios de verbas? A falta de controle de gastos e a roubalheira levam a verdadeiros rombos, como se viu nestes dois eventos e em milhares de obras feitas neste país.

3. Até que ponto as obras de infraestrutura serão mantidas e aprimoradas? Utilizarão adequadamente o Complexo Olímpico, formado pelos diversos estádios, arenas e Centros Olímpicos? Estimularão a prática de esportes e o bom uso das instalações por parte dos clubes e agremiações?

4. Precisarão mesmo aumentar os investimentos para a delegação brasileira obter mais medalhas? Houve um enorme investimento, em torno de R$ 1 bilhão, para financiamento dos atletas, com a criação de várias categorias de bolsas, dependendo do grau de competitividade, e também a inclusão de esportistas em carreira militar, na graduação de terceiro-sargento, com soldo de R$ 3.200,00 - de fato, insuficiente para um atleta se manter, mas existem outras formas de custeio, como patrocínios de empresas privadas e estatais. Mesmo assim, só houve duas medalhas a mais do que em Londres (19 contra 17), mantendo a tendência de crescimento vista desde Atlanta (1996), quando o Brasil obteve 15 medalhas. Um ponto importante é que o número de medalhas de ouro deu realmente uma guinada: de 3 para 7. Qual foi a real influência do aumento das despesas para os atletas melhorarem seu desempenho (e também ficarem menos chorões e mais fortes psicologicamente, tomando por exemplo Thiago Braz e Isaquias Queiroz)?

 
 É difícil saber se em Tóquio teremos mais medalhas de ouro do que as conquistadas no Rio por atletas como Thiago Braz (acima; Adriano Vizoni/Folha) e Rafaela Silva (AP).

5. Houve, no caso do futebol, realmente necessidade de uma premiação tão grande para cada jogador? Outros esportistas receberam R$ 35 mil, independente da medalha, enquanto a Seleção olímpica da CBF ganhou R$ 500 mil para um elenco que já ganha muito mais do que os demais. O já citado Isaquias Queiroz, maior medalhista da Rio-2016, nem pensaria em receber metade do salário de um bom jogador no Campeonato Brasileiro (em torno de R$ 200.000,00), que dirá o quanto Neymar ganha por mês no Barcelona.

6. Qual será o grau de interesse futuro dos patrocinadores privados nos atletas em formação e os já consagrados? Isso depende da boa vontade das empresas, mas também da atratividade dos esportistas, que devem se empenhar, serem exemplos para a sociedade, saberem vender sua imagem.

7. Veremos a criação de ligas nacionais de futebol feminino e de handebol ou a volta dos campeonatos de basquete? O que se vê é decepcionante: a falta de interesse do público é a causa da escassez nas transmissões de jogos não-futebolísticos, e vice-versa.

Poderia formular muito mais perguntas, mas a falta de tempo disponível me faz formular estas sete. Aliás, tempo é o que o não temos para preparar os atletas até 2020, em Tóquio, sede da próxima Olimpíada. Estas perguntas poderão ser respondidas adequadamente ao longo dos próximos Jogos, até realmente o Brasil se tornar uma potência olímpica. Aí vem uma curta mas importante pergunta adicional:

Quando?

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