O maior evento esportivo do mundo está no fim, mas vez ou outra o Brasil deixa o vira-latismo, este esporte no qual somos medalhistas de ouro desde antes do Nelson Rodrigues estabelecer a sua tese, e que teima em se manifestar mesmo quando ganham uma medalha. As últimas vítimas foram a dupla Agatha e Bárbara, que não conseguiram suplantar as alemãs e ficaram com a prata, sendo alvo de comentários do tipo: "Ponto da Alemanha", "7 a 1 olímpico", "amarelonas", etc.
Após um bronze suado do canoísta Isaquias Queiroz, na modalidade C1 200 m, onde ele se recuperou após uma largada mal feita e chegou atrás do ucraniano Iurii Cheban, campeão em Londres, e do azeri Valentin Demyanenko e deu susto ao cair na poluída lagoa Rodrigo de Freitas após chegar, outra disputa foi feita na igualmente suja baía de Guanabara.
Após um bronze suado do canoísta Isaquias Queiroz, na modalidade C1 200 m, onde ele se recuperou após uma largada mal feita e chegou atrás do ucraniano Iurii Cheban, campeão em Londres, e do azeri Valentin Demyanenko e deu susto ao cair na poluída lagoa Rodrigo de Freitas após chegar, outra disputa foi feita na igualmente suja baía de Guanabara.
Martine Grael é sobrinha de Lars Grael e filha de Torben Grael, conhecidos medalhistas olímpicos, e Kahena Kunze é filha do também velejador Cláudio Kunze. Aos 25 anos, nunca participaram de uma Olimpíada antes, e estavam enfrentando a pressão de serem descendentes de iatistas experientes e conceituados, e, ao mesmo tempo, representarem o Brasil no iatismo categoria 49er FX, embarcações para duas pessoas com 4,99 m de comprimento - daí o nome. Equilibradas numa embarcação tão pequena (do tamanho de um carro grande ou de uma canoa) e em cima de uma água com má reputação, elas enfrentaram velejadoras de diversos países, boa parte delas com mais horas de iatismo no currículo. E era a última chance para os velejadores brasileiros conquistarem uma medalha, algo que nem o tarimbado campeão olímpico Robert Scheidt conseguiu nesta edição dos Jogos.
Elas não queriam ser conhecidas apenas pelos rostos bonitos e foram navegar pela medalha (Getty Images)
Tiveram dificuldades no começo, mas depois engrenaram e superaram as duplas dinamarquesas, espanholas e neozelandesas. Na última rodada, tiveram de ultrapassar estas últimas a poucos metros do fim. Ao final, exaustas e felizes, atiraram-se na água da Baía, um gesto que para os vários estrangeiros que acompanhavam a disputa parecia tresloucado, mas elas saíram ilesas e, algum tempo depois, já recompostas, foram buscar sua medalha.
A QUARTA medalha de OURO!
Elas não se contentaram com a prata, que ficou com as neozelandesas, muito menos com o bronze ganho pelas dinamarquesas (Brian Snyder/Reuters)
Com este resultado, a campanha da delegação brasileira passa a ser a segunda melhor da história, perdendo apenas para Atenas. Para os torcedores, ainda é muito pouco pelo tanto investido, mas para Martine e Kahena as suas medalhas não têm preço.
São as primeiras mulheres iatistas brasileiras a ganharem ouro na história das Olimpíadas.
E não importa que, desta vez, não tenham sofrido com a pobreza, como foi o caso de Rafaela Silva, Thiago Braz ou Robson Conceição. Como eles, farão parte do panteão dos grandes esportistas desta nossa terra onde os habitantes anseiam por heróis.
N. do A.: Hoje, mais tarde, Alison e Rodolfo podem se juntar a este grupo na final do vôlei de praia, e serem aclamados, ao contrário dos mais novos "vilões" escolhidos pela torcida brasileira: os nadadores americanos que fizeram um papelão ao contarem uma história falsa de assalto a mão armada, despertando a fúria chauvinista tupiniquim e sendo criticados até pela imprensa americana - e mundial.
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